São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Artista radicado em Minas ganha exposição em SP e livro

Renato expõe a alma da matéria

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A materialidade de veios, rasgos, traços, cores e restos explode em nove obras sobre madeira de Celso Renato que estão reunidas em pequena mostra no Espaço Cultural Vivo, em São Paulo. Servem como uma boa introdução à poética desse artista bastante valorizado em Minas Gerais, mas pouco conhecido fora do Estado.
Mais profunda é a abordagem presente em "Celso Renato", livro de Olívio Tavares de Araújo (Cosacnaify, R$ 65, 256 págs.). Nele, ganha destaque a série de Renato (1919-1992) desenvolvida tardiamente, a partir de 1965, de pinturas-assemblages que utilizam madeiras descartadas como plano.
A gênese desses trabalhos teve origem curiosa. "Vera, minha prima, estava construindo um casarão na Pampulha. (...) Havia uma carpintaria. (...) Sempre tive fascinação por madeira. (...) Um dia, pus uma madeira em pé e disse: "Mas isso aí já é uma beleza". Quando soube que tudo aquilo era pra queimar, jogar fora, levei algumas para casa, lavei, pintei, interferi em cima", conta o artista no livro. "Um dia o Amilcar [de Castro, 1920-2002] entra e diz: "Mas isso aqui é muito interessante." "Ô, Amilcar, dá pra gente mostrar isso?" "Claro, rapaz. É a melhor coisa que você tem aqui.'"
Mas o acaso não explica totalmente a trajetória de Renato. Seu pai, Renato de Lima, se revezava entre uma delegacia e seu ateliê, expondo suas telas desde 1934. O avô, Augusto de Lima, ex-governador, era poeta. Entre 1934 e 1940, Renato passava temporadas na casa do escritor Aníbal Machado (1894-1964), no Rio, onde parte da intelectualidade da capital se reunia. Em BH, flertou com a jovem Lygia Lins, que mais tarde se consagraria como artista plástica como Lygia Clark (1920-1988).
Em 1961, Renato, formado em direito, começa a pintar. De vertente abstrata, vai encontrar as madeiras em 1965. Naquele ano, participara da 8ª Bienal de São Paulo com três telas abstratas. Seria convidado para outras três.
No Espaço Vivo, o público pode se dar conta da singular síntese da obra de Renato, um amálgama entre a organicidade material e o racionalismo construtivo -esse sem opções dogmáticas, contudo.


Celso Renato
Quando: de seg. à sex., das 9h às 20h (dia 30, até 13h). Até 6/3 Onde: Espaço Cultural Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860) Quanto: entrada franca


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