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TEATRO
Espetáculo do dramaturgo Alcides Nogueira e peça de Christiane Jatahy exploram metalinguagem em suas tramas
"Cabeça" e "Conjugado" expõem o fazer teatral
Divulgação
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Cena de "Conjugado", espetáculo concebido pela diretora Christiane Jatahy e pela atriz Malu Galli |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Duas peças curiosamente
complementares. "A Cabeça", de Alcides Nogueira, põe em
cena um dramaturgo em processo de criação, contracenando
com seu personagem que, como
em Pirandello, tem vida própria e
a rubrica que, na sua função de
indicar o que acontece em cena,
medeia o conflito entre os dois.
A encenação de Márcia Abujamra é precisa e sensível, e os
atores, desenvoltos, parecem se
divertir em cena.
O texto, porém, não transcende
o esboço. Solicitado pelo projeto
"Ágora Livre Dramaturgias" de
2001, e tendo como mote a associação livre na cabeça do criador,
a peça dilui a ação em referências
arbitrárias, lembranças pessoais,
longas citações de Guy Debord e
Tchekhov. "Penso, logo não existo", entrega o próprio autor em
cena e, para isso, o público não se
sente muito solicitado.
Híbrido
"Conjugado", que saiu de cartaz no último fim de semana, começa exatamente onde "Cabeça"
termina: aqui temos a personagem, a atriz e o público. Na concepção conjunta da diretora
Christiane Jatahy e da atriz Malu
Galli, o espetáculo se constitui um
híbrido de performance e documentário.
Não há texto propriamente dito: a atriz apresenta, com muito
carisma, uma partitura precisa de
ações e o que fala é a transcrição
exata de depoimentos autênticos
de mulheres solitárias, além de
observações da própria atriz sobre a personagem, diretamente
para o público.
Ousado e bem produzido,
"Conjugado" se limita, no entanto, a ser apenas uma experiência
simpática.
Nos dois casos, a atuação tira o foco do personagem, o conceito é
mais importante que a trama. É como se o teatro, desistindo da sua
função de transcender o presente,
passasse a se interessar apenas pelo
próprio umbigo. "Big Brother" toma conta do mundo.
Conjugado
Avaliação:
A Cabeça
Texto: Alcides Nogueira
Direção: Márcia Abujamra
Com: Débora Duboc e Elias Andreato
Onde: Sesc Belenzinho - galpão 1 (av.
Álvaro Ramos, 915, Quarta Parada, tel.
6602-3700)
Quando: sábado e domingo, às 20h; até
21/3
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15
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