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CRÍTICA/"CINCO DIAS"
Israelense vê colaboração como saída
DA REDAÇÃO
A retirada israelense da faixa de Gaza, em agosto do
ano passado, rendeu dramáticas
imagens de enfrentamento entre
colonos judeus e soldados e muita
discussão a respeito de uma possível guerra civil.
O cineasta israelense Yoav Shamir, no entanto, resolveu mostrar
que, por trás dessa tensão espetacular, o episódio revelou a capacidade de colaboração entre partes
em conflito no limite da hostilidade. Assim, antes de ser a crônica
de um fato histórico, o documentário "Cinco Dias" serve como
prova de que cooperar, por mais
desgastante que seja, é preferível
ao jogo de soma zero.
O filme usa como eixo o chamado "Dilema do Prisioneiro", cuja
explicação é pertinente. Dois assaltantes, suspeitos de terem cometido um crime, são colocados
em celas separadas. A polícia dá a
cada um deles a chance de ser libertado, desde que delate o colega
-a delação é necessária para provar o crime.
Se ficarem em silêncio, isto é, se
colaborarem um com o outro,
ambos serão soltos; se apenas um
ficar em silêncio, o outro ganha;
se ambos resolverem falar, os dois
perdem. O dilema é: como um
preso não sabe o que o outro fará,
a tendência é acreditar que será
traído; logo, é mais fácil e racional
não colaborar com o comparsa.
Colaboração
Num ambiente em que a violência não é retórica, tal dilema é central: significa a diferença entre civilização e barbárie. Em Gaza, os
soldados tinham como missão remover 8.000 colonos judeus para
que o território fosse devolvido
aos palestinos.
Do outro lado, os colonos acreditavam que a terra pertencesse a
Israel por direito divino, o que em
princípio anularia qualquer possibilidade de diálogo.
As câmeras de Shamir, porém,
mostram que havia líderes de ambos os lados com sincera disposição de colaborar, e essa colaboração apareceu justamente nos momentos em que ela parecia mais
improvável. Em uma das cenas
mais significativas, o general Dan
Harel, responsável pela operação,
leva um tapa de uma colona. O
auxiliar direto do militar o incita a
reagir, mas ele se nega. Aquilo,
afinal, não era uma questão pessoal: acima de tudo, não deveria
haver violência.
Do lado dos colonos, em certo
momento um dos líderes pede
que a resistência seja pacífica e
que os soldados não sejam xingados de nazistas, pois isso daria aos
militares razões para hostilizá-los.
A tensão crescente ameaça a todo momento fazer malograr os
esforços de colaboração -que,
no instante final, triunfa, pois ambos os lados superam a tentação
do confronto e saem ganhando:
os soldados, que cumprem sua
polêmica tarefa sem derramar
sangue, e os colonos, que aproveitam as câmeras de todo o mundo
para expressar ruidosamente seus
ideais.
(MC)
Cinco Dias
Produção: Israel, 2005
Direção: Yoav Shamir
Onde: teatro Arthur Rubinstein
- Hebraica (r. Hungria, 1.000, tel. 3818-8888)
Quando: hoje, às 20h30
Quanto: entrada franca
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