São Paulo, Quinta-feira, 29 de Julho de 1999
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TEATRO
Besteirol da Cia. Baiana de Patifaria reestréia hoje às 21h para convidados e amanhã para o público
Paulistanos recebem "A Bofetada"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Um dia, em alguma novela de televisão, um personagem virou e gritou, escrachado: "É a minha cara!". Era o sinal de que "A Bofetada", o besteirol da Cia. Baiana de Patifaria, havia vencido.
Foi em 91. "É a minha cara!" foi um bordão da peça que se espalhou naquele ano por São Paulo e Rio, depois de dois anos de sucesso histórico de "A Bofetada" em Salvador. Hoje à noite, no teatro Imprensa, o bordão será ouvido outra vez em São Paulo, na voz de Fanta, a professora perua.
A Cia. Baiana de Patifaria se juntou outra vez, Frank Menezes como a professora Pandora, Lelo Filho como Fanta, mais Wilson dos Santos e Diogo Lopes Filho. Em turnê que já passou por Salvador, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte, Campinas e Santos e ainda vai para o Rio, os "patifes" comemoram os dez anos da estréia do espetáculo, ocorrida em novembro de 88.
"A Bofetada", naquela virada de década, iniciou a descoberta do novo teatro baiano, hoje um dos mais diversificados e ricos do país. Iniciou, sobretudo, um reencontro do teatro brasileiro com o besteirol sem culpa, irresponsável -diversão e ponto.
Para entender melhor: "A Bofetada" reúne esquetes de três autores paulistas do besteirol, o "movimento" de teatro farsesco, "vaudeville", que aconteceu ali pelo início dos anos 80.
São dois quadros ("Fanta e Pandora", "Exercício para o Ponto e a Atriz") tirados do besteirol lendário "Quem Tem Medo de Itália Fausta?", de Miguel Magno e Ricardo de Almeida, considerado a peça inaugural do gênero, e um quadro ("O Calcanhar de Aquiles") tirado de "Pedra, a Tragédia", de 86, do comediógrafo bauruense Mauro Rasi.
Fanta e Pandora, interpretadas com grande abertura para improvisação a partir do esquete de Magno/Almeida, são duas professoras sem a menor didática, que põem abaixo a quarta parede e jogam a cena no meio do público, com pleno domínio. Fanta lança, aqui e ali, seu grito de guerra, "é a minha cara!", e a platéia vem abaixo. Ou vinha.
A peça não mudou muito, garante Lelo Filho. Uma diferença, diz ele, rindo, é que os atores envelheceram e alteraram um pouco o próprio ritmo da cena. Ele, por exemplo, saltou dos 24 anos dos primeiros ensaios como Fanta para os 36 de agora.
A morte do ator Moacir Moreno levou à mudança mais profunda: a personagem da Anãzinha, que criou para o quadro "Exercício para o Ponto e a Atriz", foi tirada, como maneira de homenagear o ator.
O paulista Wilson dos Santos, que chegou a participar da primeira versão de "A Bofetada", assumiu os outros personagens de Moreno. Um quarto ator, Diogo Lopes Filho, visto em "Noviças Rebeldes", o musical que os "patifes" apresentaram em 95/96, completa o elenco.
Mas o mais importante nessa retomada de "A Bofetada", que não sai de cartaz no país até o fim do próximo verão, que ela vai encerrar em Salvador, é mesmo a volta de Frank Menezes ao grupo, ele que passou os últimos anos como um "dissidente".
Como é regra na Cia. Baiana de Patifaria, Fanta, Pandora e demais personagens são adaptadas para a cidade em que a peça é apresentada -além de passarem pelas improvisações diárias. "A gente tem grande respeito pelo texto até determinado ponto, depois vence a característica dos atores", diz Lelo Filho.
Para São Paulo, eles dizem estar pesquisando. Devem evitar a Ford na Bahia, mas "é claro que Celso Pitta não vai escapar".


Peça: A Bofetada
Autores: Miguel Magno, Ricardo de Almeida e Mauro Rasi
Direção: Fernando Guerreiro
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; reestréia hoje, para convidados Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400, tel. 239-4203)
Quanto: R$ 20 (qui., sex. e dom.) e R$ 25 (sáb.)


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