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TEATRO
Besteirol da Cia. Baiana de Patifaria reestréia hoje às 21h para convidados e amanhã para o público
Paulistanos recebem "A Bofetada"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Um dia, em alguma novela de
televisão, um personagem virou e
gritou, escrachado: "É a minha
cara!". Era o sinal de que "A Bofetada", o besteirol da Cia. Baiana
de Patifaria, havia vencido.
Foi em 91. "É a minha cara!" foi
um bordão da peça que se espalhou naquele ano por São Paulo e
Rio, depois de dois anos de sucesso histórico de "A Bofetada" em
Salvador. Hoje à noite, no teatro
Imprensa, o bordão será ouvido
outra vez em São Paulo, na voz de
Fanta, a professora perua.
A Cia. Baiana de Patifaria se
juntou outra vez, Frank Menezes
como a professora Pandora, Lelo
Filho como Fanta, mais Wilson
dos Santos e Diogo Lopes Filho.
Em turnê que já passou por Salvador, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte, Campinas e Santos
e ainda vai para o Rio, os "patifes" comemoram os dez anos da
estréia do espetáculo, ocorrida
em novembro de 88.
"A Bofetada", naquela virada
de década, iniciou a descoberta
do novo teatro baiano, hoje um
dos mais diversificados e ricos do
país. Iniciou, sobretudo, um
reencontro do teatro brasileiro
com o besteirol sem culpa, irresponsável -diversão e ponto.
Para entender melhor: "A Bofetada" reúne esquetes de três autores paulistas do besteirol, o "movimento" de teatro farsesco,
"vaudeville", que aconteceu ali
pelo início dos anos 80.
São dois quadros ("Fanta e
Pandora", "Exercício para o Ponto e a Atriz") tirados do besteirol
lendário "Quem Tem Medo de
Itália Fausta?", de Miguel Magno
e Ricardo de Almeida, considerado a peça inaugural do gênero, e
um quadro ("O Calcanhar de
Aquiles") tirado de "Pedra, a Tragédia", de 86, do comediógrafo
bauruense Mauro Rasi.
Fanta e Pandora, interpretadas
com grande abertura para improvisação a partir do esquete de
Magno/Almeida, são duas professoras sem a menor didática,
que põem abaixo a quarta parede
e jogam a cena no meio do público, com pleno domínio. Fanta
lança, aqui e ali, seu grito de guerra, "é a minha cara!", e a platéia
vem abaixo. Ou vinha.
A peça não mudou muito, garante Lelo Filho. Uma diferença,
diz ele, rindo, é que os atores envelheceram e alteraram um pouco o próprio ritmo da cena. Ele,
por exemplo, saltou dos 24 anos
dos primeiros ensaios como Fanta para os 36 de agora.
A morte do ator Moacir Moreno levou à mudança mais profunda: a personagem da Anãzinha, que criou para o quadro
"Exercício para o Ponto e a
Atriz", foi tirada, como maneira
de homenagear o ator.
O paulista Wilson dos Santos,
que chegou a participar da primeira versão de "A Bofetada", assumiu os outros personagens de
Moreno. Um quarto ator, Diogo
Lopes Filho, visto em "Noviças
Rebeldes", o musical que os "patifes" apresentaram em 95/96,
completa o elenco.
Mas o mais importante nessa
retomada de "A Bofetada", que
não sai de cartaz no país até o fim
do próximo verão, que ela vai encerrar em Salvador, é mesmo a
volta de Frank Menezes ao grupo,
ele que passou os últimos anos
como um "dissidente".
Como é regra na Cia. Baiana de
Patifaria, Fanta, Pandora e demais personagens são adaptadas
para a cidade em que a peça é
apresentada -além de passarem
pelas improvisações diárias. "A
gente tem grande respeito pelo
texto até determinado ponto, depois vence a característica dos
atores", diz Lelo Filho.
Para São Paulo, eles dizem estar
pesquisando. Devem evitar a
Ford na Bahia, mas "é claro que
Celso Pitta não vai escapar".
Peça: A Bofetada
Autores: Miguel Magno, Ricardo de
Almeida e Mauro Rasi
Direção: Fernando Guerreiro
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às
20h; reestréia hoje, para convidados
Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400,
tel. 239-4203)
Quanto: R$ 20 (qui., sex. e dom.) e R$ 25
(sáb.)
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