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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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ERUDITO

Orquestra Experimental de Repertório interpreta a versão que mais se aproxima das intenções de Jacques Offenbach

Municipal recebe Hoffmann "quase original"

Flávio Florido/Folha Imagem
Ensaio geral de "Os Contos de Hoffmann", ópera de Offenbach que estréia hoje no Teatro Municipal


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os Contos de Hoffmann", de Jacques Offenbach (1819-80), estréia hoje em São Paulo, em temporada de apenas cinco récitas. Será a última ópera montada neste ano no Teatro Municipal.
Jamil Maluf faz a direção musical e rege a Orquestra Experimental de Repertório. A direção cênica é de Jorge Takla, num espetáculo de três horas e meia.
Por sua complexidade -são três enredos distintos, com momentos da vida amorosa do personagem Hoffmann (o tenor Fernando Portari)-, a ópera exige superlativa infra-estrutura: 15 solistas vocais, 90 integrantes do coro, 14 bailarinos e seis atores, além dos 80 músicos da orquestra.
Offenbach, nascido na Alemanha e emigrado com os pais para a França, é, na história do romantismo musical francês, o criador da opereta. "Orfeu no Inferno" (1858), com seu frenético cancã, é o mais acabado dos exemplos.
Mas "Os Contos de Hoffmann" estão numa tradição mais refinada. Foi a única grande ópera deixada por Offenbach. Que certamente revirou-se no túmulo porque a estréia póstuma, em 1881, trazia enxertos, supressões e mudanças de enredo supostamente destinadas a satisfazer a conveniência do empresário e os preconceitos estéticos do público.
Não há na história do teatro lírico uma peça com tantas versões. As duas últimas datam de 1978, após a descoberta de 1.250 páginas do manuscrito original, e de 1984, com outras 350 páginas. Mas a mais próxima das intenções do compositor traz o empenho do musicólogo americano Michael Kaye, que se beneficiou, em 94, da descoberta de novo manuscrito que reverteu um trecho modificado do quarto ato. Essa versão estreou em Hamburgo, em 99. Ainda inédita na França e nos EUA, será ouvida em São Paulo.
"Offenbach morreu quando a ópera já estava em processo de ensaio", diz o maestro Jamil Maluf. "Na estréia, o diretor da Ópera Comique de Paris cortou o quarto ato. Na edição de 1907 continuaram os enxertos."
Alguns exemplos: a conhecida ária "Diamante Cintilante" era, na verdade, a transcrição de uma abertura feita pelo próprio Offenbach para o projeto de ópera "Viagem à Lua". O sexteto com coro, do quarto ato, nem por Offenbach fora escrito. É de autoria do compositor André Bloch.
Cada um dos três atos centrais coloca Hoffmann em diferentes situações de amor frustrado. Olímpia não é um ser humano; é um autômato pelo qual o herói inadvertidamente se apaixona. Vem a seguir Antônia. Ela é submetida à vontade de um gênio do mal que a mata por meio do canto. E há a cortesã Giulietta, persuadida pelo reaparecido gênio do mal a capturar a imagem refletida de Hoffmann no espelho.

Mahler
Também neste fim de semana, a Orquestra Sinfônica de Santo André apresenta, hoje e amanhã, às 20h, a "Sinfonia nº 5", de Mahler (1860-1911). As récitas serão no Teatro Municipal de Santo André (pça. 4º Centenário, s/nº, tel. 4433-0799; entrada franca).

OS CONTOS DE HOFFMANN. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698). Quando: hoje e dias 1º, 3 e 5/12, às 20h; 7/12, às 17h. Quanto: de R$ 15 a R$ 100.


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