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LITERATURA
Escritor lança hoje em SP seu segundo romance
Joca Reiners Terron arromba as portas do nefasto "Hotel Hell"
DA REPORTAGEM LOCAL
Espécie de parque temático da
podridão urbana, o Hotel Hell
abre suas portas em São Paulo.
Seus corredores sujos, com assassinos trafegando em cadeiras de
rodas, animais-gente, loiras barbadas e um maníaco por máquinas de frango assado que ronda
cada "televisão de cachorro" em
busca do galináceo perfeito, recebem hóspedes a partir de hoje.
Gerente, porteiro, carregador
de malas e faxineiro do estabelecimento fictício, o mato-grossense
Joca Reiners Terron apresenta esse cenário nefasto em seu segundo romance, que será lançado em
um bar paulistano nesta noite.
"Hotel Hell" é o nome do livro,
que o escritor, editor e designer
gráfico está publicando pela editora gaúcha Livros do Mal, que
também festeja nesta noite o romance "Até o Dia em que o Cão
Morreu", de Daniel Galera.
Aos 35 anos, dono do selo Ciências do Acidente, que já publicou
30 títulos de literatura contemporânea brasileira ("Não tem nenhum defunto lá"), Terron começou o atual projeto na internet.
O hotel infernal nasceu em um
blog, ainda no ar (hellhotel.blog
ger.com.br), no qual ele foi hospedando ao longo do ano passado
pequenas narrativas de um ambiente caótico e escatológico.
As narrativas, sempre em primeira pessoa, da galeria de personagens bizarros, acabaram saltando da rede para o livro, que
reúne 60 fragmentos narrativos
ilustrados com sofisticados desenhos à HQ de Félix Reiners.
Em conversa com a Folha, o escritor faz um breve tour pelo "Hotel Hell".
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Folha - Você apelidou o escritor
Valêncio Xavier de "Frankenstein
de Curitiba". Ele aceitou a alcunha,
dizendo que "faz literatura com pedaços de coisas", como doutor
Frankenstein. Você também é um
"frankenstein"?
Joca Reiners Terron - Em algum
sentido, sim. Meus dois livros
mais recentes são muito fragmentários. Têm muito mais lacunas
do que linearidade. Não são nada
realista-naturalistas. Enxergo o livro como romance desmontável.
São 60 fragmentos que se sustentam sozinhos. Minicontos.
"Hotel Hell" é uma tentativa de
traduzir por meio de mitos urbanos o absurdo de São Paulo.
Folha - Hoje quando se fala em
blog e sua influência na literatura
existe uma certa resistência dos escritores em admitir esse novo meio
como um modificador do modo de
produzir ficção. O formato blog
não influencia seu trabalho?
Terron - Comecei a escrever antes de sonhar em usar computador. A resistência em admitir influência dos blogues está ligada à
associação tácita entre a literatura
feita nesse meio com os diários íntimos. Meu livro foi feito em blog
sem ser nunca literatura de blog.
Foi só uma forma de fazer literatura ao vivo, de vencer a vergonha
de ter alguém em cima do meu
ombro me vendo escrever.
Folha - Você esteve em duas antologias recentes, a "PS:SP" e a "Geração 90", que foram debatidas em
entrevista com quatro escritores
na Ilustrada no sábado. Qual sua
opinião sobre essas coletâneas?
Terron - Apesar de militância ser
um termo desgastado, é exatamente o que mais se adequa a tal
situação, já que nenhum dos antologizadores ou antologizados
ganhou um tostão para publicar.
Alguns dos melhores autores
surgidos agora não têm paciência
de seguir os métodos tradicionais
e ficar anos esperando alguém
que saiba lê-los numa grande editora. Se há um mérito nessa "Geração 90", é que ela não tem o falso pudor de enfiar a mão na lama
para cavar espaço. O escritor não
deve ser uma dona-de-casa, presa
ao jardim onde cultiva begônias.
HOTEL HELL. Autor: Joca Reiners Terron.
ATÉ O DIA EM QUE O CÃO MORREU.
Autor: Daniel Galera. Quanto: R$ 20 (cada
um). Editora: Livros do Mal (tel. 0/xx/51/
3248-4637). Lançamento: hoje, a partir
das 19h30. Onde: Mercearia São Pedro (r.
Rodésia, 34, tel. 3815-7200).
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