São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Designers influentes comentam a Bienal

Alexandre Wollner e Gustavo Piqueira avaliam evento gratuito no Memorial

O histórico Wollner destaca projetos de livros; já o mais jovem faz ressalvas ao uso de regionalismos e diz que profissão não é entendida

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
O designer Alexandre Wollner, 78, em visita à Bienal de Design Gráfico, no Memorial da América Latina; evento vai até o dia 6


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A 8ª Bienal Brasileira de Design Gráfico ainda tem mais uma semana de exibição. E, a convite da Folha, dois designers de gerações distintas visitaram o evento em dias diferentes e fizeram avaliações sobre o momento pelo qual passa a atividade no Brasil.
Considerado um dos maiores designers brasileiros, Alexandre Wollner, 78, chega ao Memorial da América Latina para a visita e ganha boa recepção. Sorridente, logo após alguns minutos na galeria, é interpelado por designers mais experientes e, principalmente, por jovens estudantes, que não se intimidam em pedir autógrafos. Atende a todos.
Já Gustavo Piqueira, 34, é menos famoso, mas é reconhecido por alguns. Com seu visual de vocalista de banda de rock, ele é um dos sócios do premiado escritório Rex Design, citado pela publicação britânica "Creative Review" logo após ter lançado "Morte aos Papagaios" (Ateliê), livro bem-humorado no qual discute o que é ser designer no Brasil, com todas as contradições.
"Acho um saco ser conhecido só pela imagem de irreverente, polêmico", confessa Piqueira.

Destaques e ressalvas
Wollner, famoso por suas idéias taxativas a respeito de algumas "especializações" (vide "capa de livro não é design, é ilustração"), surpreendentemente se anima com alguns projetos editoriais.
"Percebo que agora no Brasil se pensa no livro como um projeto de design. Significa que não apenas a capa é importante, mas toda a função do livro -a melhor tipografia para não cansar a vista, o espaçamento entre as linhas, e por aí vai."
O designer histórico, que passou pela famosa Escola de Ulm, vê com cautela "a boa qualidade" dos designers brasileiros. "O problema não é dos profissionais, é mais dos clientes. Infelizmente, a cultura empresarial do Brasil ainda é pobre."
Em outro contexto, Piqueira, que se formou em arquitetura na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), concorda com a tese. "Uma vez, um cliente me chamou porque o Corel [Draw, programa de computador utilizado para fazer ilustrações] dele não estava funcionando. É para ver como não entendem o que fazemos: ele achou que designer é técnico de informática."
Piqueira questiona algumas das características percebidas pela curadoria do evento, como a reação à cultura do computador por meio da busca pelo manual, artesanal e regional.
"Muitos trabalhos caem no clichê regionalista. Por que, por exemplo, se alguém utiliza as xilogravuras dos livros de cordel em um cartaz, você sabe que ele vem do Nordeste?"
No entanto, Piqueira condena a uniformização das linguagens. "Fiz parte de vários júris e percebo certa pasteurização geral. Um trabalho do Piauí é igual a um da Polônia."
Os dois designers concordam com um elemento que termina por prejudicar a atividade deles: a poluição visual de SP. "É impossível dissociar a atividade de designer do entorno onde vivemos. E ele é muito poluído", diz Piqueira. "Só no Brasil existe essa permissividade subdesenvolvida", dispara Wollner.


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