São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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Crítica

"A Retirada" restitui ao fato as suas dores

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nacionalidade é uma idéia abstrata, diz um personagem logo no início de "A Retirada". O que vem depois parece querer demonstrar concretamente o teor dessa abstração.
De certa forma, "A Retirada" é também uma Babel. Anna (Juliette Binoche) é filha de um professor americano que passou a vida na França. É na França que ela se encontra, para o funeral do pai, com o irmão adotivo Uli, que vive em Israel.
Ao tratar da herança, descobrem que o pai deixou tudo para a neta, a filha que Anna teve e pela qual nunca se interessou. A menina hoje mora em um assentamento na faixa de Gaza, um desses quistos radicais plantados em terras que estão em pleno processo de desocupação. Segundo o testamento, Anna deve ir em pessoa a Israel para entregar a herança.
Detido em seus objetos, como sempre, e mais bem-humorado que de hábito, cada vez mais o diretor israelense Amos Gitaï atenta às pequenas coisas: o estado de espírito de um policial de fronteira, a reação de Uli (também policial e envolvido na retirada) ao veículo militar que abalroa seu carro etc.
Gitaï consegue harmonizar esse momento com a dramaticidade da situação vivida por Anna. E com esse drama interno de Israel que são os religiosos radicais. É estranho, porque já vimos a retirada na TV. Mas, ao ver este filme, se tem a impressão de que nunca vimos nada a respeito. Agora estamos diante de um momento grave da história recente no Oriente Médio. "A Retirada" restitui ao fato o seu peso e as suas dores, sem esquecer de sua graça.

Avaliação: ótimo


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