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Crítica
"A Retirada" restitui ao fato as suas dores
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nacionalidade é uma
idéia abstrata, diz um
personagem logo no
início de "A Retirada". O que
vem depois parece querer demonstrar concretamente o
teor dessa abstração.
De certa forma, "A Retirada"
é também uma Babel. Anna
(Juliette Binoche) é filha de um
professor americano que passou a vida na França. É na
França que ela se encontra, para o funeral do pai, com o irmão
adotivo Uli, que vive em Israel.
Ao tratar da herança, descobrem que o pai deixou tudo para a neta, a filha que Anna teve e
pela qual nunca se interessou.
A menina hoje mora em um assentamento na faixa de Gaza,
um desses quistos radicais
plantados em terras que estão
em pleno processo de desocupação. Segundo o testamento,
Anna deve ir em pessoa a Israel
para entregar a herança.
Detido em seus objetos, como sempre, e mais bem-humorado que de hábito, cada vez
mais o diretor israelense Amos
Gitaï atenta às pequenas coisas:
o estado de espírito de um policial de fronteira, a reação de Uli
(também policial e envolvido
na retirada) ao veículo militar
que abalroa seu carro etc.
Gitaï consegue harmonizar
esse momento com a dramaticidade da situação vivida por
Anna. E com esse drama interno de Israel que são os religiosos radicais. É estranho, porque já vimos a retirada na TV.
Mas, ao ver este filme, se tem a
impressão de que nunca vimos
nada a respeito. Agora estamos
diante de um momento grave
da história recente no Oriente
Médio. "A Retirada" restitui ao
fato o seu peso e as suas dores,
sem esquecer de sua graça.
Avaliação: ótimo
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