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"CÃOCOISA E A COISA HOMEM"
Grupo curitibano com o ator Luís Melo está em cartaz no teatro Sesc Anchieta
ACT apenas começa a mostrar seus dentes
Divulgação
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Cena de "Cãocoisa e a Coisa Homem", de Aderbal Freire-Filho |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Então, eis que ressurge Luís
Melo no palco do Sesc Consolação, nem tanto filho pródigo,
mas Robinson Crusoé, voltando à
"civilização" para narrar o que
aprendeu sobre ela.
Havia partido dali, onde por
anos foi o ator central do Centro
de Pesquisa Teatral (CPT) do diretor Antunes Filho, em busca da
televisão e de outros eletrodomésticos; e, em seguida, isolou-se da
fama não por naufrágio, mas como quem abandona um navio encalhado.
A ilha em que passou a viver
desde 2000 é Curitiba, uma volta
às origens; mais especificamente
o ACT, Ateliê de Criação Teatral,
uma comunidade utópica instalada em uma antiga estufa de bananas: yes, nós temos teatro experimental.
Associado à atriz/produtora
Nena Inoue e ao cenógrafo Fernando Marés, passou a atrair os
nativos, que constituíram esse
núcleo de pesquisa que agora se
apresenta. "Cãocoisa e a Coisa
Homem" é o relato do que por lá
se viu e se fez.
O espetáculo é, assim, um alinhavo de workshops, apaixonadamente costurados por Aderbal
Freire-Filho. Não é, no entanto,
uma colcha de retalhos desconexa, já que a pesquisa teve uma clara direção: o retrato da companhia enquanto jovens cães, a exposição do que cada um é com generosa transparência e distanciamento veterinário. Um exercício
emblemático: cada um se apresenta ao outro como se falasse de
um cão, detalhando características da raça.
Aqui não há coleiras nem hierarquias e, se o personagem de
Melo surge andando na rua dentro de uma gaiola, a aura da fama
talvez, cada um terá direito a seu
solo na jaula.
Teatrocoisa
"Cãocoisa e a Coisa Homem"
vai criando assim metáforas abertas, na construção de um teatro
nem literário nem exibicionista: o
teatrocoisa, no batismo de Freire-Filho, que expõe enigmas do
mundo cão.
Munidos de cenário e iluminação essenciais, com achados à altura de Lepage, e do canto seguro
que Babaya ensina, os atores podem dissecar a dinâmica do
amor, com a higiene castrando o
instinto, ou a solidão cosmopolita, na qual se finge que é de seu cachorro que se está falando.
O texto de Freire-Filho, ao estilo
de Nelson Rodrigues, deixa frases
para o público completar, mas
não corta o que há de reiterativo
no longo segundo ato. É compreensível: em sua primeira aparição no continente, o ACT sente
que tem muito que contar. "Cãocoisa" é cão que morde, no entanto: o grupo de Melo apenas começa a mostrar os dentes.
Cãocoisa e a Coisa Homem
Texto e direção: Aderbal Freire-Filho
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, tel. 3256-2281)
Quando: sex. e sáb., às 20h30, e dom., às
19h; até 22/12
Quanto: de R$ 10 a R$ 20
Patrocinador: BrasilTelecom
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