São Paulo, segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Cinema/"Julie & Julia"

Filme dá vontade de correr para bistrô

O problema da nova comédia romântica de Nora Ephron é que dá vontade de deixar o cinema antes do fim da história

Divulgação
Meryl Streep, como Julia Child, e Stanley Tucci, no papel de seu marido, Paul Child, em "Julie & Julia", que estreou na sexta-feira

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O que seria da "Sessão da Tarde" se não existisse Nora Ephron? A diretora norte-americana, famosa por uma série de despretensiosas comédias românticas como "Sintonia de Amor" (1992) e "Mensagem para Você" (1999), traz agora "Julie & Julia", mais uma amenidade que, de tão leve, parece evaporar da memória assim que termina.
O filme conta duas histórias, separadas por quase 40 anos: a de Julia Child (1912-2004), autora de livros de culinária e celebridade nos Estados Unidos dos anos 60, e de Julie Powell (Amy Adams, de "Dúvida"), uma escritora frustrada que, em 2002, decide fazer as mais de 500 receitas de um famoso livro de Child e relatar sua experiência em um blog.
As vidas de Julia e Julie são contadas em paralelo. Ephron mostra a chegada de Julia Child (Meryl Streep) e seu marido, o diplomata Paul Child (o ótimo Stanley Tucci), a Paris em 1948. Dona de casa aborrecida, Julia tenta encontrar uma ocupação, até que se matricula na célebre escola de culinária Le Cordon Bleu e descobre um sentido para a vida.
A reconstituição de época é linda, e as cenas de jantares em pequenos bistrôs parisienses dão água na boca. Meryl Streep, como de hábito, rouba a cena.
Sua Julia Child é uma mulher carismática, cheia de energia e bom humor. As cenas com Stanley Tucci, com quem a atriz também havia atuado em "O Diabo Veste Prada", são o destaque do filme.
Mas a outra metade da história, a de Julie Powell, não é tão interessante. Tirando as cenas em que Julie está cozinhando as receitas de Julia -e que têm um apelo muito mais gastronômico do que cinematográfico- sua vida realmente não é tão saborosa assim, e ficamos torcendo para que Meryl Streep volte.
Ephron, que também escreveu o roteiro, usa alguns truques para tentar injetar ânimo e profundidade na história: há uma interminável subtrama envolvendo as dificuldades de Julia em achar uma editora para o livro e outra sobre a suposta perseguição do senador anticomunista Joseph McCarthy a Paul Child. Uma briga entre Julie e o marido ocupa mais tempo do que merecia.
No fim, "Julie e Julia" não tem clímax ou tensão; as personagens sequer se encontram, o que seria um expediente dramático interessante. Como sempre, Nora Ephron não arrisca na receita e exagera na água com açúcar.
Além de Meryl Streep, o que dá um gostinho especial são mesmo os pratos. Nina Horta ou Josimar Melo, que escrevem na Ilustrada, certamente poderiam opinar com mais autoridade, mas parece que as receitas mostradas -boeuf bourguignon, suflês, lagostas, tortas e bolos- são fantásticas.
Já foi dito que assistir a "Julie & Julia" dá vontade de sair correndo para o bistrô francês mais próximo. Verdade. O problema é que a vontade é de sair correndo durante o filme.


JULIE & JULIA

Direção: Nora Ephron
Produção: EUA, 2009
Onde: Cinema da Vila, Espaço Unibanco Augusta e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




Próximo Texto: Crítica/Miguel Bakun e Hélio Oiticica: Instituição cria confusão conceitual
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.