São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009

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174 matrizes de Grassmann são recuperadas

A partir das chapas de cobre, houve nova impressão de gravuras, que resultaram em quatro grandes volumes

Artista e colecionador estão em processo de escolha da instituição que receberá o material; conjunto será exibido em Curitiba


Leonardo Wen/Folha Imagem
Marcello Grassmann exibe prova de uma de suas gravuras, em seu apartamento, em São Paulo

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Monstrinhos" e outras criaturas fantásticas de autoria de Marcello Grassmann, considerado um dos principais nomes do expressionismo no Brasil, ganharam um impulso para a sua "sobrevivência". Quatro volumes com 174 gravuras do artista, de 1949 até hoje, ficaram prontos neste ano e devem ser doados a algum museu ou instituição nacional que se comprometa a conservar e veicular bem sua obra gráfica.
O trabalho começou em 2006, por iniciativa do empresário e colecionador Pedro Hiller, 60. "Admiro muito o trabalho de Grassmann, tenho várias de suas gravuras. Mas nunca vi nenhum esforço de conservação do conjunto da sua obra", conta ele.
"Em visita à oficina onde são feitas as gravações, que pertencem ao irmão do Marcello [Roberto], percebi que havia chapas de anos atrás. Começamos a cavoucar e conseguimos reunir 174 matrizes de cobre, que cobrem a produção do artista desde 1949 e foram restauradas. Aí resolvi bancar novas impressões do conjunto, com diversos trabalhos inéditos."
Grassmann, 83, é visto como um dos grandes gravuristas brasileiros, ao lado de nomes como Livio Abramo (1903-1992) e Oswaldo Goeldi (1895-1961). Seu universo de criaturas fantásticas já foi lido pela crítica como expressionista, simbolista e surrealista, mas nenhum dos rótulos agrada ao paulistano, participante de nove edições da Bienal de São Paulo e de quatro da Bienal de Veneza.
"Os "monstrinhos" e outras coisas sempre tiveram menos mercado e ficaram engavetados. Para mim, o esforço da compilação em livro foi interessante, é como se fosse um álbum de fotografias. Cada uma das gravuras está ligada a um certo período da minha vida, a uma experiência estética determinada", avalia ele.

Preconceito
Para Hiller, que sempre admirou a produção mais ligada ao fantástico de Grassmann, "as pessoas têm preconceito, não querem pendurar na parede trabalhos desse tipo".
"De certa forma, entendo as razões do público. As melhores gravuras do Goya são as mais grotescas, as mais violentas. Mas eu não conviveria com aqueles monstros da última fase dele. Você não gostaria de ver aquilo frequentemente", afirma o artista.
De acordo com Hiller, está certo que um dos lotes das gravuras será doado à Biblioteca Nacional. Ele e o artista estão em negociações para que o conjunto das matrizes e dos quatro volumes sejam adquiridos por uma instituição -Pinacoteca do Estado, Museu Nacional de Belas Artes, MAM-SP e Museu de Arte Brasileira, da Faap, concorrem para recebê-lo.
"O ideal era que alguma empresa patrocinasse a aquisição, mas estamos conversando com todo mundo. O importante é que o conjunto esteja completo e que a instituição se responsabilize pela guarda desse material precioso", diz Hiller.
Grassmann será tema de uma retrospectiva de grande porte, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, no segundo semestre. O curador Antonio Carlos Abdalla planeja exibir cerca de 500 obras, entre gravuras, provas, objetos e o novo conjunto, com as matrizes e os livros com suas gravações.


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