São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Festival exibe lado B de Louis Malle

É Tudo Verdade apresenta sete documentários do diretor francês, famoso por ficções como "Adeus Meninos" (1987)

Segunda parte da mostra acontece até domingo na Cinemateca e traz mais dez documentários, incluindo dois brasileiros inéditos

Divulgação
Sete filmes de Louis Malle
Dois sobre a Índia (da série "Índia Fantasma"), dois rodados nos EUA e três sobre a sociedade francesa. Um dos melhores é "Humano, Demasiado Humano", sobre a rotina numa montadora


LEONARDO CRUZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O lado B do cineasta francês Louis Malle poderá ser visto de hoje a domingo no lado B do principal festival de documentários do país. Mais conhecido por ficções como "O Sopro do Coração" (1971) e "Adeus Meninos" (1987), Malle rodou dos anos 60 aos 80 documentários na Índia, na França e nos EUA -sete deles serão exibidos a partir desta noite na Cinemateca Brasileira, em SP, na segunda parte do É Tudo Verdade.
Festival realizado tradicionalmente em abril, o É Tudo Verdade deste ano dividiu sua programação em duas para garantir mais sessões a cada filme. O primeiro semestre concentrou as mostras competitivas nacional e internacional; agora acontece o lado B.
Amir Labaki, diretor do É Tudo Verdade, afirma que o foco nesta semana é a formação de plateias. "O objetivo desta segunda parte é mostrar filmes importantes para a história do documentário, trazer a tradição brasileira e estrangeira, informar um público cada vez mais interessado", argumenta.
Por isso, a retrospectiva de Malle é o carro-chefe, com filmes de temática e resultados bem diferentes, mas fieis à técnica do cinema direto, de observação, que o diretor definia como "de instinto" e "um tipo de documentário em que você improvisa completamente, trabalha com equipe mínima, não tenta organizar a realidade".
Exemplo é "A Câmera Impossível", primeiro episódio da série "Índia Fantasma", dirigida por Malle em 1969. Ele nos leva à Índia, registrando o cotidiano na cidade e no campo. É um diário de viagem, narrado pelo cineasta, que discute o tempo todo seu papel como observador externo. "Ocidentais com uma câmera são duas vezes ocidentais", resume Malle a certa altura do filme, que tem sessão na quarta, às 18h30.
Tal método de trabalho se repete em "Place de la République", que passa hoje na sessão de abertura (para convidados) e na quinta, às 18h30. É o resultado de dez dias de filmagens em uma mesma calçada de Paris em 1972 -e, em certos momentos, "sofisticadas" parisienses demonstram a mesma aversão à câmera que Malle às vezes enfrentara na Índia.
Em "O País de Deus" (sexta, 18h30), Malle vai aos EUA para examinar uma pequena comunidade em Minnesota, no meio-oeste americano.
Formada por famílias de fazendeiros, em geral brancos, cristãos e conservadores, Glencoe é retratada em dois tempos. Em 1979, domina um clima de prosperidade e otimismo; em 1985, sob impacto de uma crise econômica, o tom é de decadência e apreensão.

A voz dos realizadores
Além dos filmes de Malle, o É Tudo Verdade exibirá oito longas na seção O Estado das Coisas, dos quais a produção canadense "Capturando a Realidade" é sessão obrigatória para quem se interessa pelo gênero.
A diretora Pepita Ferrari ouviu 38 documentaristas em 14 países -cineastas como Errol Morris, Albert Maysles e Eduardo Coutinho discutem as etapas de realização, falam da relação com os personagens, contam casos de seus filmes.
O festival também apresentará dois filmes brasileiros inéditos ("Fordlândia" e "Ecos") e prestará uma homenagem ao diretor Paulo César Saraceni, devido aos 50 anos de seu "Arraial do Cabo". Precursor do cinema novo, codirigido com Mario Carneiro, o curta mostra o impacto da chegada de uma fábrica na rotina dos pescadores locais. Saraceni estará presente à sessão do domingo, às 16h30, e será entrevistado por Amir Labaki após a exibição.
Em paralelo a SP, esta segunda parte do É Tudo Verdade também será realizada no Rio de Janeiro, no Instituto Moreira Salles, a partir desta sexta-feira e até o próximo dia 12.


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