Montagem de Newton Moreno reúne textos do diretor e de três autores estrangeiros

"Da Possibilidade da Alegria no Mundo" mostra a conquista da alegria como algo improvável; espetáculo é composto por cinco peças

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos." Essa reflexão de Shakespeare segue atual, como constata o premiado autor e diretor Newton Moreno no espetáculo "Da Possibilidade da Alegria no Mundo", desde ontem em cartaz em São Paulo. "Mal as pessoas fecham um ciclo de uma conquista, já partem para outro. Não há tempo de decantação", explica Moreno.
Na busca por um pensamento crítico sobre a possibilidade de o homem contemporâneo produzir alegria, ele idealizou uma viagem poética e filosófica por quatro países. Criou "Quenguinha" e "Terra do Meio", que estabelecem um diálogo com a cultura brasileira, e encomendou textos de expoentes da dramaturgia de Portugal (Abel Neves, "A Mãe e o Urso"), Uruguai (Mariana Percovich, "For Export Made in Uruguai") e Irã (Naghmeh Samini, "Beijos na Escuridão").
"Da Possibilidade da Alegria no Mundo" é composto por essas cinco peças. Elas são interpretadas por Denise Weinberg, Simone Evaristo, Sergio Modena e José Robert. Retratam momentos de festividades de diferentes culturas e, ironicamente, mostram a conquista da alegria como algo improvável. "Os autores aproveitaram o mote do espetáculo para falar das angústias humanas", diz Moreno. Seus textos apresentam brasileiros em situações-limite. Neves, importante autor teatral português, enfatiza a desesperança humana presente numa festa de casamento. Samini, jovem dramaturga iraniana, apresenta um extrato delicado do teatro do Irã indissociado de sua situação de guerra.
A uruguaia Percovich traça um painel patético sobre sua pátria aproveitando um churrasco organizado para promover a imagem de seu país. Com o clima de celebração ausente das tramas, resta enfatizá-lo na cena, por meio de um cenário composto por um palanque decorado -e esperar que os recortes de infelicidades despertem no público uma ânsia maior pela alegria. "Fiz uma provocação", diz Moreno.