São Paulo, quarta, 5 de março de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PODER SERTANEJO
Temporada deste ano, que inclui 1.200 eventos, faz parte da estratégia de marketing de várias empresas
Circo dos rodeios seduz investidores

Antonio Gaudério/ Folha Imagem
Peão é derrubado pelo cavalo em festa realizada na arena de Taquaritinga, no interior de São Paulo


ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local

O circo dos rodeios volta à estrada esta semana com a perspectiva de se incorporar definitivamente ao agrobusiness brasileiro.
A temporada deste ano, que prevê a realização de 1.200 eventos pelo interior do país, deverá agitar o comércio de milhares de cidades, além de atrair investimentos de grandes empresas, como cervejarias, bancos e fábricas de automóveis.
De pipoqueiros a duplas sertanejas, criadores de cavalos a confecções de moda country, passando por hotéis, restaurantes e selarias, calcula-se que a indústria do rodeio no Brasil movimenta cerca de R$ 500 milhões por ano, valor 30% superior às exportações de carne bovina.
A estimativa é da Federação Nacional do Rodeio Completo (FNRC), que também avalia em 24 milhões o público desses eventos.
Prova de que o rodeio virou coisa séria é o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo à realização de um workshop sobre o potencial desse negócio sertanejo (veja ao lado).
Novas arenas
O sucesso dos rodeios fez proliferar o número de arenas pelo interior do país, principalmente nos Estados de São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Hoje existem 105 estádios exclusivos para rodeios no Brasil.
A maior parte dos eventos, porém, continua acontecendo em arenas montadas, tal como ocorria na década de 50, quando o rodeio surgiu no Brasil.
A federação estima em cerca de 200 mil o número de empregos gerados pelos rodeios, que exigem ainda cerca de 15 mil animais (bois e cavalos) e 1.800 peões.
Alguns deles, como Vilson Martins de Araújo, campeão da temporada 96, já conseguem viver com os prêmios que ganham na arena. Araújo faturou R$ 60 mil no ano passado.
É pouco se comparados com os US$ 290 mil do seu colega Adriano Moraes, caubói brasileiro que ganhou fama no exterior, acumulando prêmios no Canadá e nos EUA.
Investimentos
As empresas que organizam os grandes rodeios conseguem faturar cerca de R$ 2,5 milhões por ano com a comercialização e promoção dos eventos.
Um rodeio, com montarias de touro e cavalo, mais premiação, arquibancada, arena e bretes, custa cerca de R$ 140 mil.
``O rodeio ganhou apoio popular. É organizado em parceria com prefeituras. Estamos bem perto da profissionalização'', diz o empresário Marcelo Murta, um dos principais organizadores de rodeios do país.
Murta vai trabalhar com cinco grandes rodeios este ano: Presidente Prudente, Jaguariúna, Barretos, Goiânia e Maringá.
Somente a 42¦ Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (SP), a maior do gênero no mundo, deve atrair R$ 3 milhões em investimentos e faturar mais de R$ 6 milhões.
A Brahma, uma das principais patrocinadoras, investirá US$ 600 mil na festa de Barretos.
Mas não são apenas os grandes rodeios que chamam a atenção de investidores.
O calendário de rodeios faz parte da estratégia de marketing de várias empresas, como a cervejaria Kaiser, que planeja investir US$ 2 milhões em 150 rodeios pelo interior de São Paulo.
No ano passado, a Kaiser destinou US$ 300 mil para o patrocínio de 32 festas.
O Circuito Kaiser de Rodeios pretende atingir um público de 6 milhões de pessoas este ano.
Nas 150 festas deste ano, a cervejaria espera vender 1,2 milhão de dúzias de cervejas e faturar US$ 1 milhão.
O circo do rodeio também é fonte de lucros para a música sertaneja. As duplas Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó reservam 80% de suas agendas para as festas de rodeios e eventos agropecuários. Cada show custa entre R$ 30 mil e R$ 60 mil.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã