São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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ZONA LIVRE
Secretaria da Agricultura e PT trabalham para a proibição no Estado dos produtos alterados geneticamente
Governo do RS quer banir transgênicos

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

O governo do Rio Grande do Sul pretende proibir a produção de alimentos transgênicos (alterados geneticamente) no Estado.
O objetivo, segundo o secretário da Agricultura José Hermetto Hoffman, é preservar a saúde pública e também ampliar as exportações de soja do Estado para o mercado europeu.
Alimentos alterados geneticamente estão encontrando sérias restrições na União Européia, devido, principalmente, à ação de grupos ambientalistas, como o Greenpeace, que questionam a segurança desses produtos à saúde humana e à biodiversidade.
Há duas semanas, importadores franceses decidiram analisar amostras da soja que compraram no Rio Grande do Sul e podem devolver o produto.
Eles suspeitam que a Cotrijal (Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí) lhes vendeu soja transgênica como se fosse a convencional.
"Não temos conhecimento de suspeita dos franceses nem de transgênicos na nossa área", afirma o assessor de comunicação da Cotrijal, Ênio Schroeder.
Com a proibição, Hoffmann acredita que seria possível evitar esses problemas e até ampliar o mercado para a soja gaúcha.
"Vamos esclarecer os agricultores para que não comprem as sementes transgênicas, que normalmente são contrabandeadas da Argentina. Não adianta plantar e depois não ter mercado."

Riscos da biotecnologia
O deputado estadual Elvino Bohn Gass (PT) teve o respaldo do governo gaúcho para apresentar, em fevereiro último, à Assembléia Legislativa, um projeto de lei que torna o Estado zona livre de produtos transgênicos.
"Os gaúchos produzem 22% da soja brasileira. A transgenia significaria perda da biodiversidade, escravização dos agricultores por empresas que trabalham com organismos genéticos modificados e a desvalorização do produto gaúcho. Na Europa, a soja convencional tem preço superior ao da soja transgênica", diz o deputado do PT.
Ele cita também, como justificativas, problemas ecológicos e de saúde pública.
"O principal risco da disseminação dos cultivos transgênicos está na distância que há entre a complexidade dos seres vivos e o patamar alcançado pelo conhecimento científico. Ou seja, nem a ciência sabe dimensionar os efeitos dessa prática", afirma o deputado.
Segundo Gass, entre os grandes produtores mundiais de soja (Brasil, Estados Unidos e Argentina), só o Brasil não produz a transgênica, e 90% da produção é vendida à Europa.


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