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FRONTEIRA AGRÍCOLA
Comboio de 75 caminhões inaugura rota na Amazônia para viabilizar a produção do norte do Estado
Mato Grosso exporta soja pelo Tapajós
BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha
Carregados com 2.000 t de soja,
75 caminhões partem hoje de Lucas do Rio Verde (MT) para uma
viagem histórica de 1.150 km pela
Amazônia. O destino é Itaituba
(PA), às margens do rio Tapajós,
onde os grãos serão transferidos
na sexta-feira para uma barcaça,
seguindo viagem até Itacoatiara,
no rio Amazonas. De lá, em navio,
o produto embarca para a Europa.
"Será a primeira exportação de
soja pelo Tapajós, um fato histórico, que, no futuro, deve viabilizar a
produção agrícola da região norte
de Mato Grosso", diz Adenir Alves
Barbosa, 55, prefeito de Sinop.
Essa operação, segundo Barbosa,
vai representar um ganho de R$ 2
por saca para o agricultor.
"Aqui em Sinop o produtor recebe apenas R$ 10,50/saca, devido à
distância dos portos de Santos e de
Paranaguá. O transporte até Paranaguá, a cerca de 2.300 km, custa
hoje R$ 85/t. Em Itaituba, vamos
receber R$ 12,50/saca, já descontado o frete (R$ 3,50/saca)", calcula.
Para a região norte do Estado,
responsável pela produção de cerca de 2 milhões de t de soja, essa diferença significa uma receita extra
de R$ 67 milhões por safra.
Na ponta do lápis, as vantagens
são evidentes, mas na prática a nova rota da soja ainda tem sabor de
aventura.
Para vencer os primeiros 350 km,
de Lucas do Rio Verde a Guarantã
do Norte, o comboio deve levar
cerca de sete horas. Nesse trecho, o
asfalto da BR-163 ainda garante
condições razoáveis de tráfego.
De lá para frente, a estrada só
existe no mapa. O comboio vai sacolejar mais dois dias por 800 km
de estrada de terra, sujeitos a atoleiros e buracos.
Em Itaituba, a infra-estrutura
portuária também é improvisada.
Para tornar possível a transferência da soja dos caminhões para a
barcaça, a Hermasa, empresa que
opera a hidrovia Madeira-Amazonas, trouxe do porto de Itacoatiara
uma balsa transbordadora, uma
balsa graneleira e um empurrador.
"O ideal é construir um terminal
no porto de Santarém", diz o empresário Blairo Maggi, 43, que há
duas semanas tomou posse como
senador pelo Mato Grosso, devido
à licença de Jonas Pinheiro.
Maior produtor de soja do mundo, Maggi construiu, em 96, terminais em Porto Velho (RO) e em Itacoatiara (AM), iniciando o escoamento da soja colhida na região da
chapada dos Parecis (MT) pela hidrovia Madeira-Amazonas.
Este ano, as 22 barcaças da Hermasa devem transportar 700 mil t
de soja. "Com essa rota, os agricultores da chapada dos Parecis e de
Rondônia, que produzem 1,5 milhão de t de soja, passaram a ganhar R$ 30/t a mais", diz Maggi.
As mesmas barcaças que levam
a soja até Itacoatiara trazem, na
volta, fertilizantes para as fazendas da chapada dos Parecis, a preços mais baratos que os dos adubos provenientes do Sul e Sudeste.
"Se o governo asfaltar os 800 km
de terra da BR-163, um investimento de cerca de US$ 300 milhões, o norte de Mato Grosso logo poderá usufruir dessas vantagens. A construção de um terminal graneleiro em Santarém e a
operação da hidrovia ficam por
conta da iniciativa privada", diz
Maggi.
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