São Paulo, Terça-feira, 25 de Maio de 1999
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FRONTEIRA AGRÍCOLA
Comboio de 75 caminhões inaugura rota na Amazônia para viabilizar a produção do norte do Estado
Mato Grosso exporta soja pelo Tapajós

BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha

Carregados com 2.000 t de soja, 75 caminhões partem hoje de Lucas do Rio Verde (MT) para uma viagem histórica de 1.150 km pela Amazônia. O destino é Itaituba (PA), às margens do rio Tapajós, onde os grãos serão transferidos na sexta-feira para uma barcaça, seguindo viagem até Itacoatiara, no rio Amazonas. De lá, em navio, o produto embarca para a Europa.
"Será a primeira exportação de soja pelo Tapajós, um fato histórico, que, no futuro, deve viabilizar a produção agrícola da região norte de Mato Grosso", diz Adenir Alves Barbosa, 55, prefeito de Sinop.
Essa operação, segundo Barbosa, vai representar um ganho de R$ 2 por saca para o agricultor.
"Aqui em Sinop o produtor recebe apenas R$ 10,50/saca, devido à distância dos portos de Santos e de Paranaguá. O transporte até Paranaguá, a cerca de 2.300 km, custa hoje R$ 85/t. Em Itaituba, vamos receber R$ 12,50/saca, já descontado o frete (R$ 3,50/saca)", calcula.
Para a região norte do Estado, responsável pela produção de cerca de 2 milhões de t de soja, essa diferença significa uma receita extra de R$ 67 milhões por safra.
Na ponta do lápis, as vantagens são evidentes, mas na prática a nova rota da soja ainda tem sabor de aventura.
Para vencer os primeiros 350 km, de Lucas do Rio Verde a Guarantã do Norte, o comboio deve levar cerca de sete horas. Nesse trecho, o asfalto da BR-163 ainda garante condições razoáveis de tráfego.
De lá para frente, a estrada só existe no mapa. O comboio vai sacolejar mais dois dias por 800 km de estrada de terra, sujeitos a atoleiros e buracos.
Em Itaituba, a infra-estrutura portuária também é improvisada. Para tornar possível a transferência da soja dos caminhões para a barcaça, a Hermasa, empresa que opera a hidrovia Madeira-Amazonas, trouxe do porto de Itacoatiara uma balsa transbordadora, uma balsa graneleira e um empurrador.
"O ideal é construir um terminal no porto de Santarém", diz o empresário Blairo Maggi, 43, que há duas semanas tomou posse como senador pelo Mato Grosso, devido à licença de Jonas Pinheiro.
Maior produtor de soja do mundo, Maggi construiu, em 96, terminais em Porto Velho (RO) e em Itacoatiara (AM), iniciando o escoamento da soja colhida na região da chapada dos Parecis (MT) pela hidrovia Madeira-Amazonas.
Este ano, as 22 barcaças da Hermasa devem transportar 700 mil t de soja. "Com essa rota, os agricultores da chapada dos Parecis e de Rondônia, que produzem 1,5 milhão de t de soja, passaram a ganhar R$ 30/t a mais", diz Maggi.
As mesmas barcaças que levam a soja até Itacoatiara trazem, na volta, fertilizantes para as fazendas da chapada dos Parecis, a preços mais baratos que os dos adubos provenientes do Sul e Sudeste.
"Se o governo asfaltar os 800 km de terra da BR-163, um investimento de cerca de US$ 300 milhões, o norte de Mato Grosso logo poderá usufruir dessas vantagens. A construção de um terminal graneleiro em Santarém e a operação da hidrovia ficam por conta da iniciativa privada", diz Maggi.


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