São Paulo, Terça-feira, 25 de Maio de 1999
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AGROBUSINESS

Custos do plantio assustam produtores

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
das Regionais

Os bons resultados da agricultura no primeiro trimestre deste ano, conforme demonstrou o PIB (Produto Interno Bruto) divulgado na semana retrasada, devem ser analisados com cautela, segundo economistas e produtores rurais ouvidos pela Folha.
As previsões apontam para um segundo semestre de dificuldades, geradas principalmente pelo aumento nos custos de produção.
Segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a agropecuária cresceu 9,22% neste ano em relação ao primeiro trimestre de 98.
O setor foi favorecido no início do ano pela desvalorização do real, em janeiro, que facilitou a venda de produtos para o exterior.
No entanto, os custos de produção também aumentaram, pois a maior parte dos defensivos e fertilizantes é importada, o que deve apresentar um reflexo no desempenho do segundo semestre.
"Por enquanto, estamos sentindo o impacto positivo, mas em setembro poderemos ver o lado negativo", afirma o economista Eduardo Leão de Sousa, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) da USP (Universidade de São Paulo), especialista em mercado agrícola.
De acordo com ele, os produtores de soja, trigo, café, milho e laranja serão os que mais sentirão o impacto negativo da mudança. Por isso, Sousa diz que o setor deve evitar a euforia em torno dos números divulgados pelo IBGE.
"É preciso analisar com calma essa situação. Alguns fertilizantes e agroquímicos aumentaram 50% com a desvalorização e isso só vai aparecer lá na frente", diz.
A mesmo opinião tem o engenheiro agrônomo Nelson Costa, da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná). "Nos produtos que estão sendo colhidos esse aumento não está aparecendo. Isso vai ocorrer quando o agricultor plantar a próxima safra."
Segundo a Ocepar, o aumento no custo de produção do milho atingiu 23,5%. Na soja, ele ficou em torno de 26% e no trigo e no arroz em torno de 29%.
"O primeiro reflexo vai aparecer no trigo, que será colhido no próximo semestre", afirma ele, que acredita que a indústria de fertilizantes e defensivos deve reduzir os preços.
O presidente do Sindicato Rural de Taquaratinga (SP), Marco Antonio dos Santos, afirma que a entidade já está se reunindo com produtores para evitar uma crise no segundo semestre.
"O preço dos defensivos cresceu. O pomar não espera, temos que comprar", diz ele. Segundo o sindicato, a caixa de laranja já está sendo negociada a US$ 1,40, quase US$ 2 abaixo do ano passado.
Pelos cálculos do sindicato de Taquaritinga, pelo menos 60% dos custos de produção da lavoura de laranja ficam por conta dos defensivos e fertilizantes.
Na região de Franca (SP), os produtores de café, que exportam principalmente para Europa e Japão, também esperam dificuldades para os próximos meses.
Segundo a cooperativa de Franca, o aumento no preço dos insumos está fazendo os produtores reverem suas metas.


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