São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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ALTERNATIVA
Com demanda crescente na Europa, a carne do animal tem baixo teor de colesterol e menos gordura
Nutricionista cria canguru em cativeiro

Rogério Assis/Folha Imagem
Canguru boxeador, raça que está em extinção, no criatório de Jocelem Salgado em Piracicaba (SP)


LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

A especialista em nutrição terapêutica Jocelem Salgado importou 12 cangurus da Austrália e quer ser a primeira a produzir carne do animal no Brasil.
A importação ocorreu há cerca de um ano e, hoje, a criação -mantida em uma fazenda no interior de São Paulo- já tem 16 cangurus e 4 filhotes nas bolsas.
O início da venda dos cangurus ainda não tem data definida. Jocelem quer reunir um número grande de animais em cativeiro para começar o abate.
"Deve ser em breve porque esses animais reproduzem muito rapidamente."
A carne de canguru é consumida em vários países da Europa e na Austrália. O prato, nos restaurantes, chega a custar US$ 80.
"Além de saborosa, a carne tem menos colesterol e menos gordura. É uma opção saudável, como mostra a literatura médica", afirma.
Ela também está pensando em vender os cangurus como animais de estimação.
Professora titular do setor de nutrição humana e alimentos da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e uma das criadoras da "dieta da USP de Piracicaba" -um composto alimentar à base de proteínas vegetais que ajuda a emagrecer ou a engordar-, Jocelem afirma que pretende realizar estudos com a sua criação de cangurus e analisar as propriedades da carne do animal.
A professora conta que a idéia de criar cangurus surgiu durante uma viagem que fez à Inglaterra e à Austrália.
"Em Londres, notei que os restaurantes servem carne de canguru como alternativa à carne bovina por causa da doença da vaca louca (mal que atacou o gado britânico e causou forte queda no consumo da carne bovina na Europa). Depois, na Austrália, vi os cangurus e tive a idéia."
Ela importou dois tipos diferentes de cangurus: 2 boxeadores e 10 bennets.
O canguru boxeador é o mais conhecido e está em extinção. Os animais medem cerca de 2 m e têm a pele bege.
O bennet é menor (média de 1,2 m) e tem a pele cinza. Como reproduzem mais facilmente, os bennets são mais utilizados para o abate.
Jocelem resolveu divulgar a criação agora porque diz ter conseguido resolver os problemas de adaptação dos animais no Brasil.
Ela conta que, no início, os cangurus tiveram problemas de adaptação em sua fazenda.
Eles eram atacados por bernes (uma larva depositada por uma mosca que perfura a pele dos animais).
O problema foi resolvido depois que ela começou a acrescentar alho na dieta dos cangurus. Com isso, eles exalam um cheiro que afasta as moscas.
Diarréia e problemas respiratórios são as doenças mais frequentes. Jocelem conseguiu resolver a primeira com uma ração à base de capim, soja, farinha de osso e probióticos.



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