São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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GOVERNO PETISTA

Lula toma posse hoje como o 39º presidente do Brasil

Ormuzd Alves/Folha Imagem
O petista Luiz Inácio Lula da Silva, que foi eleito presidente da República com 52.793.364 dos votos (61,27% dos válidos)


  Sem curso superior, petista é o primeiro operário a ocupar cargo

  Eleito terá que enfrentar alta da inflação e crescimento da dívida

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-sindicalista pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, 57, toma posse hoje, em Brasília, às 15h, como o 39º presidente do Brasil -levando-se em conta os substitutos e integrantes das juntas militares.
Sucederá ao sociólogo carioca Fernando Henrique Cardoso, 71, o mais duradouro chefe de governo em período democrático, tendo permanecido oito anos no poder, por dois mandatos a partir de 1995. É a primeira vez, desde 1961, que um presidente eleito diretamente entrega a faixa a outro escolhido nas mesmas condições.
Como bandeira, Lula combaterá o que o Partido dos Trabalhadores aponta como "a excessiva sedução pelos mercados" de seu antecessor tucano.
Tentará elaborar o que chama de um "novo contrato social", pacto para viabilizar a realização das reformas tributária, previdenciária, trabalhista e política, que formariam a base necessária para a retomada do "crescimento econômico sustentado" do país.
Como inimigos declarados, terá o salto da inflação, que passou de 1,8% em 1998 para 25,3% em 2002, segundo o IGP-M; a dívida interna, que aumentou de 30% para 60% do PIB, com dívida em títulos federais tendo dobrado nos últimos quatro anos, passando de R$ 323,8 bilhões para R$ 663 bilhões; e a baixa taxa de crescimento econômico -percentual de 0,94% acumulado até setembro deste ano.
Mesmo assim, 76% dos brasileiros, de acordo com o Datafolha, acreditam que Lula fará um governo ótimo ou bom. A taxas de FHC eram de 70% no primeiro mandato (1994) e 41% no segundo (1998). A de Fernando Collor era de 71% (em 1990).
Desde o início da campanha eleitoral, Lula esforçou-se para tentar convencer o país de que um governo do PT seria mais amplo do que o partido. A tese era respaldada pela necessidade de garantir a governabilidade no momento inicial. Mas também funcionava como uma espécie de vacina contra a imagem de radicalismo associada ao petismo.
O desenho do ministério de Lula é o de um governo com a cara do PT -o que pode parecer óbvio em razão dos milhões de votos que obteve, mas é menos pluralista do que Lula dizia na campanha.
A indicação de José Dirceu, na Casa Civil, e de Antonio Palocci Filho, na Fazenda, como homens-chave do governo imprime a tinta vermelha do partido na imagem da equipe ministerial. Terá a guarda do cofre e o comando das negociações políticas.
Concessões de cargos e centros de poder a aliados como Ciro Gomes (PPS) e a integrantes de PSB, PDT e PL cumpriram compromissos de campanha. Mas não garantiram o quórum de dois terços dos votos do Congresso, necessário para aprovar as reformas.
Palocci é quem conduzirá uma "criteriosa, responsável e cuidadosa transição", como definiu, entre a era FHC e a de Lula, que agora se inicia.
Primeiro presidente originado de um partido de esquerda, primeiro operário e sem diploma universitário a ocupar o cargo, Lula foi eleito, no segundo turno, com 52.793.364 dos votos (61,27% dos válidos).
Com nível alto de colesterol, fumante, vida sedentária e bursite (inflamação muscular crônica) no ombro direito, Lula chega a Brasília revigorado pela vitória eleitoral de 27 de outubro, depois de quatro candidaturas derrotadas (três a presidente, em 1989, 1994 e 1998, e uma ao governo de São Paulo, em 1982).
Pai de cinco filhos e com dois netos, é casado com Marisa Letícia da Silva, 52, que se autodefine como "primeira-companheira".
Como vice-presidente da República, será empossado o empresário mineiro José Alencar Gomes da Silva, 71, senador filiado ao Partido Liberal.
Havia sido confirmada a presença de dez presidentes e três primeiros-ministros para a posse. Às 16h15, no Palácio do Planalto, Lula receberá a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso e depois partirá em desfile de carro aberto pela Esplanada dos Ministérios, onde estão sendo esperadas cerca de 150 mil pessoas.


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