São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2007

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Lula-2 larga com indefinição no ministério e na economia

Presidente petista, que é empossado hoje, só anunciará a equipe definitiva em fevereiro

Duas decepções confessas de Lula a aliados no primeiro mandato: crescimento baixo do PIB e o "desastre político", com o mensalão


KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário de 2002, quando criou ministérios e lançou novidades como o "Fome Zero", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 61, inicia oficialmente hoje o segundo mandato com um governo de feição provisória. Há indefinições na política e na economia.
A situação não é inédita: Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assumiu o segundo mandato em 1999 sem alterações significativas na equipe.
Nova reforma ministerial é esperada para fevereiro. O primeiro escalão do 39º presidente do Brasil e segundo a ser reeleito tem seis ministros interinos, um demissionário e outros que poderão ser remanejados ou substituídos. A equipe será alterada de acordo com as negociações para a montagem da base de apoio no Congresso.
Nem o partido do presidente, o PT, sabe qual será a sua cota. A tendência é que perca espaço para acomodar aliados, sobretudo do PMDB. Em 2003, o PT tinha 19 dos 33 ministros. Hoje, possui 17 entre 34.
Quando reeleito no segundo turno, em 29 de outubro, Lula prometeu medidas para "destravar" o crescimento da economia. No discurso da nova posse, hoje, deverá dizer que esse será o desafio do segundo mandato. No entanto, o prometido pacote econômico foi adiado mais uma vez. O anúncio das medidas não tem data. E seu conteúdo é uma incógnita.
Ao mesmo tempo em que promete manutenção da responsabilidade fiscal, Lula estuda se permitirá afrouxamento nas contas públicas para acelerar o crescimento da economia. O primeiro exemplo foi a elevação do salário mínimo em 2007 de R$ 350 para R$ 380.
Os ministros discordam da visão de que Lula assume com um governo provisório. "Esse é um governo de continuidade e de superação. O presidente não é provisório. É o mesmo que saiu consagrado do processo eleitoral, com um grupo de ministros que o acompanha há anos", afirma Tarso Genro (Relações Institucionais).
"O governo vai priorizar os investimentos em infra-estrutura para o Brasil crescer mais rapidamente, com maior distribuição de renda e sem descuidar do controle da inflação", diz o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, com assento garantido no segundo mandato.
Tarso rebate as críticas de que o governo está sem rumo na economia e pode afrouxar o ajuste fiscal: "A crítica é ideológica. Parte do princípio de que a questão fiscal pode ser resolvida pelo arrocho salarial".

Duas decepções
O presidente Lula chegou a confessar, em conversas reservadas, "duas decepções" que teve em seu primeiro governo.
A Folha apurou que o diagnóstico de Lula sobre a economia é mais severo do que o admitido publicamente. O crescimento foi bem menor do que o esperado e prometido.
No primeiro mandato, a taxa média do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deverá ficar em torno de 2,7%. Nos oito anos de FHC, foi de 2,3%.
Na política, Lula reconhece reservadamente que o primeiro mandato foi "um desastre" que resultou na crise do mensalão. Temeu o processo de impeachment no auge do escândalo que lhe minou a popularidade entre setembro de 2005 e janeiro de 2006. Na época, Lula temeu ainda a derrota nas urnas. O petista havia perdido as eleições de 1989, 1994 e 1998.
A amigos Lula diz que uma de suas principais preocupações é fortalecer sua articulação política no Congresso. Reservadamente, ele diz que seu maior erro foi permitir as CPIs que deram eco às denúncias que Roberto Jefferson, presidente do PTB à época e hoje, fez em entrevistas à Folha em junho de 2005.
Para tentar costurar uma base mais fiel no segundo mandato, Lula adiou a formação do novo ministério. Pretende casá-la com as eleições para as presidências da Câmara e do Senado (1º de fevereiro) e com a indicação dos novos líderes. Dará cargos e verbas aos aliados, mas exigirá fidelidade nas votações e defesa do governo.
Lula terá dez partidos na coalizão -PT, PMDB, PSB, PDT, PTB, PP, PC do B, PV, PR e PRB. Poderá reduzir o espaço do PT, distanciando-se mais do partido após as crises políticas que abalaram a legenda. O segundo governo será "mais lulista do que petista", diz um auxiliar direto do presidente.
O presidente faz um diagnóstico sobre as razões da reeleição com votação recorde (60,83% dos votos válidos e mais de 58 milhões de votos) após o susto do dossiegate na virada do primeiro para o segundo turno da eleição. A "volta por cima", acredita, deveu-se a ações positivas na economia e na área social.
Apesar do baixo crescimento, a inflação sob controle e a valorização do real baratearam itens de consumo, como alimentação e material de construção. Simultaneamente, a política social ampliou a destinação de recursos.
Ao final de 2006, o Bolsa Família atingiu 11,16 milhões de famílias. Lula investiu no ano eleitoral R$ 8,5 bilhões no seu principal programa social. Em 2002, FHC gastou R$ 2 bilhões em programas comparáveis ao Bolsa Família.
O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, diz que "o controle da inflação foi fundamental para o bom resultado das ações sociais". "A gestão econômica responsável e uma ação social eficaz deram bom resultado num país socialmente brutalizado."


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