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Lula-2 larga com indefinição no ministério e na economia
Presidente petista, que é empossado hoje, só anunciará a equipe definitiva em fevereiro
Duas decepções confessas de Lula a aliados no primeiro mandato: crescimento baixo do PIB e o "desastre político", com o mensalão
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao contrário de 2002, quando criou ministérios e lançou
novidades como o "Fome Zero", o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, 61, inicia oficialmente hoje o segundo mandato
com um governo de feição provisória. Há indefinições na política e na economia.
A situação não é inédita: Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) assumiu o segundo
mandato em 1999 sem alterações significativas na equipe.
Nova reforma ministerial é
esperada para fevereiro. O primeiro escalão do 39º presidente do Brasil e segundo a ser reeleito tem seis ministros interinos, um demissionário e outros
que poderão ser remanejados
ou substituídos. A equipe será
alterada de acordo com as negociações para a montagem da
base de apoio no Congresso.
Nem o partido do presidente,
o PT, sabe qual será a sua cota.
A tendência é que perca espaço
para acomodar aliados, sobretudo do PMDB. Em 2003, o PT
tinha 19 dos 33 ministros. Hoje,
possui 17 entre 34.
Quando reeleito no segundo
turno, em 29 de outubro, Lula
prometeu medidas para "destravar" o crescimento da economia. No discurso da nova
posse, hoje, deverá dizer que
esse será o desafio do segundo
mandato. No entanto, o prometido pacote econômico foi adiado mais uma vez. O anúncio das
medidas não tem data. E seu
conteúdo é uma incógnita.
Ao mesmo tempo em que
promete manutenção da responsabilidade fiscal, Lula estuda se permitirá afrouxamento
nas contas públicas para acelerar o crescimento da economia.
O primeiro exemplo foi a elevação do salário mínimo em 2007
de R$ 350 para R$ 380.
Os ministros discordam da
visão de que Lula assume com
um governo provisório. "Esse é
um governo de continuidade e
de superação. O presidente não
é provisório. É o mesmo que
saiu consagrado do processo
eleitoral, com um grupo de ministros que o acompanha há
anos", afirma Tarso Genro (Relações Institucionais).
"O governo vai priorizar os
investimentos em infra-estrutura para o Brasil crescer mais
rapidamente, com maior distribuição de renda e sem descuidar do controle da inflação", diz
o ministro do Trabalho, Luiz
Marinho, com assento garantido no segundo mandato.
Tarso rebate as críticas de
que o governo está sem rumo
na economia e pode afrouxar o
ajuste fiscal: "A crítica é ideológica. Parte do princípio de que a
questão fiscal pode ser resolvida pelo arrocho salarial".
Duas decepções
O presidente Lula chegou a
confessar, em conversas reservadas, "duas decepções" que teve em seu primeiro governo.
A Folha apurou que o diagnóstico de Lula sobre a economia é mais severo do que o admitido publicamente. O crescimento foi bem menor do que o
esperado e prometido.
No primeiro mandato, a taxa
média do crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) deverá ficar em torno de 2,7%. Nos
oito anos de FHC, foi de 2,3%.
Na política, Lula reconhece
reservadamente que o primeiro mandato foi "um desastre"
que resultou na crise do mensalão. Temeu o processo de impeachment no auge do escândalo que lhe minou a popularidade entre setembro de 2005 e
janeiro de 2006. Na época, Lula
temeu ainda a derrota nas urnas. O petista havia perdido as
eleições de 1989, 1994 e 1998.
A amigos Lula diz que uma
de suas principais preocupações é fortalecer sua articulação política no Congresso. Reservadamente, ele diz que seu
maior erro foi permitir as CPIs
que deram eco às denúncias
que Roberto Jefferson, presidente do PTB à época e hoje,
fez em entrevistas à Folha em
junho de 2005.
Para tentar costurar uma base mais fiel no segundo mandato, Lula adiou a formação do
novo ministério. Pretende casá-la com as eleições para as
presidências da Câmara e do
Senado (1º de fevereiro) e com
a indicação dos novos líderes.
Dará cargos e verbas aos aliados, mas exigirá fidelidade nas
votações e defesa do governo.
Lula terá dez partidos na
coalizão -PT, PMDB, PSB,
PDT, PTB, PP, PC do B, PV, PR
e PRB. Poderá reduzir o espaço
do PT, distanciando-se mais do
partido após as crises políticas
que abalaram a legenda. O segundo governo será "mais lulista do que petista", diz um auxiliar direto do presidente.
O presidente faz um diagnóstico sobre as razões da reeleição com votação recorde
(60,83% dos votos válidos e
mais de 58 milhões de votos)
após o susto do dossiegate na
virada do primeiro para o segundo turno da eleição. A "volta por cima", acredita, deveu-se
a ações positivas na economia e
na área social.
Apesar do baixo crescimento, a inflação sob controle e a
valorização do real baratearam
itens de consumo, como alimentação e material de construção. Simultaneamente, a
política social ampliou a destinação de recursos.
Ao final de 2006, o Bolsa Família atingiu 11,16 milhões de
famílias. Lula investiu no ano
eleitoral R$ 8,5 bilhões no seu
principal programa social. Em
2002, FHC gastou R$ 2 bilhões
em programas comparáveis ao
Bolsa Família.
O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias,
diz que "o controle da inflação
foi fundamental para o bom resultado das ações sociais". "A
gestão econômica responsável
e uma ação social eficaz deram
bom resultado num país socialmente brutalizado."
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