|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA DA 2ª - GILBERTO KASSAB
A aliança com o Serra está mais forte do que nunca
Prefeito de SP elogia idéias petistas, como Renda Mínima e CEUs, e diz que não é hora de pensar em reeleição
Júlia Moraes/Folha Imagem
|
O prefeito Gilberto Kassab no Edifício Matarazzo, no Anhangabaú (centro), a sede da prefeitura |
EVANDRO SPINELLI
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas das principais bandeiras políticas da administração Marta Suplicy (PT) estão mudando de mãos.
Há nove meses no comando da Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL) tornou-se um entusiasta
inesperado dos Centros Educacionais Unificados, os
CEUs, e do programa Renda Mínima.
Se à época da eleição a chapa
José Serra-Kassab (o primeiro
candidato a prefeito, o segundo
a vice) referia-se pejorativamente aos 24 CEUs feitos por
Marta, acusando-os de perdulários -"os CEUs têm 5% dos
alunos e consomem 40% da
verba da educação", criticava o
tucano-, hoje Kassab contabiliza entre os melhores feitos de
seu governo a construção de 15
novos CEUs, oito em obras,
sendo que quatro começarão a
funcionar já neste ano.
Quanto ao programa de
transferência de renda da prefeitura, o Renda Mínima, vitrine da administração Marta, esta semana foi vitaminado por
iniciativa de Kassab. O tíquete
médio pago por família foi de
R$ 128 para R$ 160 e a prefeitura já anunciou o crescimento
no número de famílias atendidas: das 110 mil atuais passará
para 130 mil em 2007.
Aliados identificam na adoção de projetos da gestão Marta
um esforço sistemático para
solapar as bases petistas da cidade, conquistando-as para a
aliança PSDB-PFL sob a liderança de Serra, a quem Kassab
jura lealdade: "A aliança está
mais forte do que nunca, agora
com Serra no governo".
O pefelista não gosta de falar
sobre a eventual candidatura a
prefeito em 2008, para suceder
a si mesmo. "Na hora certa vamos identificar qual é o melhor
caminho para a cidade, avaliar a
gestão, daí ver [o que fazer]."
Olhos azuis, engenheiro e
economista formado pela USP,
sócio do tradicional Clube Pinheiros, Kassab, 46, saiu definitivamente da obscuridade
quando autorizou aumento de
15% nos ônibus, em dezembro.
Seu nome então foi gritado
por todo o centro da cidade em
passeatas que o acusavam de
defender os interesses das viações. "Por que em outras cidades a tarifa também custa R$
2,30 e só aqui tem protestos?"
Ele também enfrentou oposição renhida quando tentou
aumentar o IPTU -teve de recuar, mas leva numa boa: "A
gente debateu, discutiu, e houve alterações. Se estou sendo
acusado de ter debatido democraticamente, então aceito essa
acusação de bom grado", diz.
Na última quinta, Kassab recebeu a Folha em almoço no
Edifício Matarazzo, sede do governo municipal. Entre garfadas de filé e purê de abóbora,
concedeu a entrevista a seguir:
FOLHA - Como o sr. avalia os seus
primeiros nove meses?
GILBERTO KASSAB - Passou aquela
fase de especulação em relação
a mudanças no rumo. Está claro que tivemos uma mesma linha desde o primeiro dia e essa
linha não foi mudada. Essa não
é uma administração do PFL,
continua sendo uma administração do PSDB com o PFL,
com os mesmos bons quadros e
com o mesmo programa. E vai
ser assim até o último dia.
FOLHA - O senhor pensa em ser
candidato à reeleição em 2008?
KASSAB - Não. A democracia
amadureceu muito. O cidadão
não está pensando em eleição.
Se o eleitor não está pensando,
o administrador que tem sensibilidade também não está pensando. Então, não penso nem
em ser nem em não ser. Essa
preocupação não está na pauta,
e na hora certa estará na pauta.
FOLHA - O governador Lembo acha
que o sr. tem de ser candidato.
KASSAB - É a posição dele. Na
hora certa vamos identificar o
melhor caminho para a cidade,
avaliar a gestão, daí ver. Defenderei a manutenção da aliança
PSDB/PFL. Essa aliança tem
um líder, uma figura maior, o
governador José Serra.
FOLHA - O sr. tem projeto para 15
CEUs e ampliou o Renda Mínima. O
sr. está querendo avançar sobre as
bandeiras da Marta?
KASSAB - O administrador tem
de ser responsável. Passou a
época do sensacionalismo de
dizer que está tudo errado.
Existem programas, temos de
dar seqüência a eles. O brasileiro amadureceu, a democracia
está consolidada, ele enxerga a
postura do administrador. Então, cabe a nós dar seqüência ao
que existe na cidade. As administrações se sucedem. Eleição
é um processo e administração
é outro. A nossa postura é de
respeito com a cidade.
FOLHA - O PFL e o PSDB criticaram o
Bolsa Família na campanha por
achá-lo assistencialista. Por que o
Bolsa Família era assistencialista e o
Renda Mínima é tão bom que precisa ser ampliado?
KASSAB - Tínhamos denúncias
do uso político do Bolsa Família. Eu ratifico aqui a posição do
PSDB e do PFL. E se eu souber
que o Renda Mínima em São
Paulo tem uso político, haverá
punição exemplar.
FOLHA - O sr. era desconhecido
quando assumiu a prefeitura e agora é alvo de protestos. Como o sr. lida com essa situação nova?
KASSAB - Quem nunca teve
presença numa eleição majoritária não pode ser conhecido de
11 milhões de habitantes, seja
no primeiro dia que assumiu,
seja hoje. É uma situação atípica, que não me incomoda, mas
continuo com uma motivação
muito grande de, no final da
gestão, ser reconhecido como
um bom prefeito da cidade.
Quanto às manifestações,
não há administrador que goste
de dar tarifa. Eu gostaria que a
tarifa fosse zero. O que é estranho é que em São Paulo as pessoas que andavam de metrô e
ônibus pagavam a tarifa do metrô e a do ônibus. Para andar de
trem e ônibus, a tarifa do trem e
a do ônibus. E hoje elas pagam
uma tarifa só. Hoje nós temos
uma tarifa que infelizmente é o
mínimo possível, R$ 2,30, porque nós temos nosso limite. Diversas outras cidades têm [essa
tarifa] sem os mesmos benefícios. E só estou vendo manifestações na cidade de São Paulo.
FOLHA - Alguns dos projetos de
mais visibilidade da prefeitura, como habitação e reforma das marginais, dependem de verbas do governo do Estado. O sr. não se sente
"amarrado" ao governador Serra?
KASSAB - São Paulo tem um Orçamento de R$ 21,5 bilhões. O
Orçamento estadual chega a
quase R$ 90 bilhões. E o Orçamento federal, centenas de bilhões. É evidente que os municípios trabalhem em parceria
com os Estados e com a União.
FOLHA - O governador Serra tem sido chamado de "prego", mistura de
prefeito com governador. O sr. tem
sido chamado de secretário para assuntos de São Paulo do Serra.
KASSAB - A relação com o governador Serra é a melhor possível, pessoal, política e partidária. Ele foi eleito prefeito de
São Paulo, é o programa de governo que ele construiu, e é
uma satisfação tê-lo junto pensando a cidade. Seria de estranhar se ele não estivesse pensando a cidade de São Paulo.
FOLHA - A cidade parece que está
mais suja.
KASSAB - Eu discordo. Eu acho
que está mais limpa. E as últimas manifestações de entidades, pessoas que fazem pesquisa em bairros, têm nos dito que
um dos principais itens da avaliação da cidade é a qualidade
de seu serviço, sua manutenção, limpeza. A cidade pode não
estar no ideal, mas muito mais
limpa que em anos anteriores.
FOLHA - Então por que aumentou
o número de reclamações em relação à limpeza pública?
KASSAB - Eu não sei em relação
às gestões anteriores, mas nesta tem transparência total. As
manifestações são abertas ao
público, nosso sistema é totalmente franqueado à imprensa
e eu posso afirmar a você que a
cidade está mais limpa.
FOLHA - O combate à poluição visual é seu projeto de mais visibilidade? O sr. acha que ele pega?
KASSAB - Eu vejo muita aceitação a esse projeto. A Justiça está avaliando e eu tenho certeza
absoluta que ela vai chegar às
suas conclusões pela legalidade
do projeto. Vai mudar a fachada
de São Paulo, torná-la mais humana. Nós vamos poder conhecer a nossa cidade, nossa arquitetura, nossos prédios, os modernos, os velhos, os bonitos, os
feios, as nossas avenidas, os
nossos bairros. Eu tenho certeza absoluta de que em poucos
dias nós vamos iniciar as ações
para fazer do Cidade Limpa um
importante projeto para a cidade de São Paulo. Não para o
prefeito, para a cidade.
FOLHA - O sr. é vice-presidente da
Associação Comercial, que conseguiu liminar contra o Cidade Limpa.
KASSAB - Tem um grupo de empresários que questiona a legalidade da lei. Eles fazem parte
da entidade como eu faço e eles
têm todo o direito de reivindicar que a entidade argumente a
ilegalidade da lei. Tenho certeza que a lei é legal e vejo com
muita naturalidade essa ação
da associação, atendendo a alguns associados. Eu acho que
meu comportamento seria inadequado se eu fosse impedir a
entidade de corresponder ao
desejo de parte dos associados.
FOLHA - Como o sr. analisa a transição de governos em Brasília e São
Paulo? Como o sr. acha que ficarão
as composições políticas?
KASSAB - Eu acho que hoje você
tem bem identificado dois núcleos políticos no Brasil. Você
tem de um lado o PT com o
PMDB e alguns outros partidos. É muito claro isso. O PT
conseguindo trazer o PMDB e o
PMDB indo ao projeto do PT. E
tem do outro lado PSDB, PFL e
alguns outros partidos. Há anos
você não tinha no Brasil essa
clareza. O PMDB, por exemplo,
tinha uma situação dúbia. Agora o PMDB está no governo,
quer estar no governo, unido.
Então, eu vejo essa grande diferença dos anos anteriores, esse
quadro muito claro de quem é
situação e de quem é oposição.
FOLHA - Como será a eleição municipal, as principais forças?
KASSAB - Acho que é muito prematuro. O importante agora é
concentrar os esforços no Poder Executivo, nas metas.
FOLHA - O sr. não acha que existe
uma fraqueza dos partidos de oposição no sentido de entrarem nas discussões de assuntos que também
interessam ao país, como aborto,
eutanásia, tem agora anencefalia?
KASSAB - Não. É um bloco que
faz oposição e que durante dez
anos governou o país com propostas, ações, que melhoraram
muito o país. Sobre questões
que são visões de mundo, cabe
aos líderes se posicionarem, todos aqueles que têm atuação na
vida pública, a cada momento
que demandado se manifestar,
emitir suas opiniões, que nem
sempre são partidárias.
FOLHA - Qual título o sr. gostaria de
ter nesta reportagem?
KASSAB - (pausa) A meta de
Kassab é ser um bom prefeito.
Leia mais trechos da entrevista
Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá Próximo Texto: Frases Índice
|