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Contra oposição, PT adota o discurso do risco de retrocesso
Estratégia é alertar para possível ruptura de políticas sociais de Lula em caso de derrota
Em 2002, campanha tucana usou discurso do "medo" de que possível vitória de Lula trouxesse de volta inflação e instabilidade econômica
ANA FLOR
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos de oito anos depois de
ser vítima do discurso do "risco
PT", em que a oposição tentava
associar uma vitória de Lula à
volta da inflação e à instabilidade econômica, o governo pôs
em marcha uma estratégia semelhante para 2010.
Ministros, autoridades do
governo e o próprio Lula passaram a embutir em suas falas pelo país alertas para a possibilidade de ruptura nas políticas
econômicas e sociais caso a
candidata do Planalto, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil),
não vença as eleições.
Em 2002, quando tucanos e
aliados adotaram o discurso do
"risco PT", a atriz Regina Duarte foi à TV declarar o voto a Serra, que concorria à Presidência,
afirmando ter "medo" de Lula.
Hoje, a estratégia é vincular
Dilma à continuidade das políticas do governo Lula, e colar,
na possibilidade de vitória da
oposição, o risco de retrocesso.
Em entrevista, o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, afirmou ter convicção de que Dilma manteria a
atual política econômica -mas
sobre o principal nome da oposição para enfrentá-la, o governador José Serra (PSDB), disse
não ter a mesma certeza.
Diante dos bons resultados
da Petrobras, o presidente da
estatal, José Sergio Gabrielli,
atribuiu o sucesso ao governo
Lula e afirmou, também em entrevista, que se tivesse vencido
em 2002 e 2006, "o PSDB já teria vendido parte" da empresa.
Ainda mais enfático foi o presidente Lula que, ao encontrar
catadores e moradores de rua,
alertou para o perigo da não
continuidade de seu governo:
"Não sabemos o que pode acontecer no país".
Aprovação
O expediente de associar Dilma ao sucesso do governo Lula
é uma das principais estratégias de campanha. Sem nunca
ter enfrentado as urnas, Dilma
tem apenas o trabalho como
ministra para mostrar.
O comando do PT e ministros próximos ao presidente rechaçam as expressões "terrorismo" ou "medo". Avisam, entretanto, que intensificarão a
estratégia de associar Serra à
administração Fernando Henrique Cardoso.
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais)
afirma que é "inevitável" a
comparação de projetos. "É
uma linha de defesa do governo. E não é apenas continuidade, o projeto é continuar avançando", diz.
Segundo o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza
(SP), o partido quer promover
um debate sobre "os destinos
do Brasil" -em que sobram
ataques para o governo tucano.
"[Vamos discutir se o Brasil] vai
ser potência mundial ou não",
diz ele. "O PT defende o Estado
forte, um Estado que enfrenta a
crise como nós enfrentamos.
Eles acham que isso é gastança", afirmou o deputado.
O presidente do PT, Ricardo
Berzoini, diz que a estratégia de
comparação entre os governos
terá o seu ápice durante o horário eleitoral. "Não queremos
que o eleitor tenha medo. Mas
que possa optar entre dois projetos antagônicos."
Berzoini afirma que o tucanato praticou terrorismo também em 1998 ao dizer que a
eleição de Lula ameaçaria a estabilidade econômica.
Enquanto o PT investe na
comparação dos governos Lula
e FHC, o PSDB vai insistir no
confronto dos currículos de
Dilma Rousseff e José Serra. Os
tucanos realçarão as realizações do tucano no governo de
São Paulo e no Ministério da
Saúde. Lembrarão, por exemplo, a criação dos medicamentos genéricos:
"A história de Serra é anteparo para esse debate medíocre. A
estratégia [do medo] não cola
em quem fez o genérico e quebrou patente", disse o deputado
federal Jutahy Magalhães
(PSDB-BA).
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