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SEGUNDO MANDATO
Batalha entre defensores e opositores das medidas econômicas crescerá pela retomada do crescimento
Política cambial terá desfecho em 2 anos
VALDO CRUZ
Sucursal de Brasília
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília
O segundo
mandato de Fernando Henrique
Cardoso mostrará, logo nos
primeiros dois
anos, o desfecho
da principal polêmica dos primeiros quatro anos
de FHC no Palácio do Planalto: a
política cambial da equipe econômica do ministro Pedro Malan
(Fazenda) e do presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
A batalha entre os defensores da
política atual e seus opositores será
intensificada diante do que deve
ser o principal desafio do presidente FHC no próximo mandato:
retomar o crescimento econômico
e reduzir a taxa de desemprego.
Não será uma tarefa fácil. Afinal,
o cenário que se desenha para 99 é
muito pessimista: recessão com
deflação, provocadas por taxas de
juros elevadas, consideradas insustentáveis até pela equipe econômica.
Malan e Gustavo Franco saíram
vencedores no primeiro round
dessa luta. Não sem algumas escoriações. As pressões contra o modelo dos dois auxiliares de FHC
cresceram em dezembro, obrigando o presidente a defendê-los publicamente.
As pressões -de dentro e de fora
do governo- foram tão intensas
que o presidente do BC chegou a
confidenciar a amigos que, pela
primeira vez, estava desanimado e
analisando o melhor momento para deixar o governo.
O grupo dentro do governo que
se opõe à atual política cambial, liderado pelo ministro José Serra
(Saúde), tem dito ao presidente
que seu governo não escapará de
uma desvalorização cambial mais
forte no primeiro semestre de 99.
Esse grupo, que conta com os ministros Bresser Pereira (Administração) e Paulo Renato (Educação), defende uma queda mais rápida das taxas de juros no primeiro
trimestre de 99. A posição conservadora do Banco Central, que reduziu os juros para 29% ao ano,
não agradou a essa ala do governo.
A principal arma dos críticos de
Malan e Franco para o segundo
mandato era o ex-ministro Luiz
Carlos Mendonça de Barros (Comunicações). Sua escolha para o
antigo Ministério da Produção,
agora do Desenvolvimento, era
certa e funcionaria como um contraponto à política econômica.
O grampo telefônico no BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), porém, frustou a estratégia dessa ala.
Mendonça de Barros acabou sendo obrigado a pedir demissão.
Malan e Franco sabem que o
principal desafio do presidente
FHC em seu segundo mandato será exatamente sair da armadilha
criada pela política cambial, que
poderá levar o país a uma retração
de até 2% do PIB (Produto Interno
Bruto, a soma das riquezas produzidas) em 99, que deve ser o primeiro ano de recessão desde 92.
A resposta da equipe econômica
não convence os críticos: montados em cálculos e estatísticas, os
economistas sustentam que, com
mais um ano de desvalorização
gradual do real, a cotação do dólar
chegaria perto de R$ 1,30 e o câmbio estaria praticamente ajustado.
Nesse meio tempo, o governo faria o ajuste fiscal, ganharia maior
credibilidade no exterior e poderia
reduzir os juros sem tanto risco de
fuga de capital externo do país.
A partir do ano 2000, com câmbio em ordem e juros em queda, o
país voltaria a crescer -em taxas
modestas a princípio, mas que tenderiam a crescer.
Contra essa tese normalmente se
argumenta que o cálculo relevante
para o ajuste do câmbio é o resultado da balança comercial. Se as importações continuarem muito acima das importações, de nada valerão os argumentos da Fazenda e do
BC. Sem resolver o déficit externo,
o país não conseguiria reduzir os
juros. Sem queda das taxas, o déficit público se manteria alto, comprometendo o acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e a credibilidade do país.
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