São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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SEGUNDO MANDATO
Batalha entre defensores e opositores das medidas econômicas crescerá pela retomada do crescimento
Política cambial terá desfecho em 2 anos

VALDO CRUZ
Sucursal de Brasília

GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília
O segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso mostrará, logo nos primeiros dois anos, o desfecho da principal polêmica dos primeiros quatro anos de FHC no Palácio do Planalto: a política cambial da equipe econômica do ministro Pedro Malan (Fazenda) e do presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
A batalha entre os defensores da política atual e seus opositores será intensificada diante do que deve ser o principal desafio do presidente FHC no próximo mandato: retomar o crescimento econômico e reduzir a taxa de desemprego.
Não será uma tarefa fácil. Afinal, o cenário que se desenha para 99 é muito pessimista: recessão com deflação, provocadas por taxas de juros elevadas, consideradas insustentáveis até pela equipe econômica.
Malan e Gustavo Franco saíram vencedores no primeiro round dessa luta. Não sem algumas escoriações. As pressões contra o modelo dos dois auxiliares de FHC cresceram em dezembro, obrigando o presidente a defendê-los publicamente.
As pressões -de dentro e de fora do governo- foram tão intensas que o presidente do BC chegou a confidenciar a amigos que, pela primeira vez, estava desanimado e analisando o melhor momento para deixar o governo.
O grupo dentro do governo que se opõe à atual política cambial, liderado pelo ministro José Serra (Saúde), tem dito ao presidente que seu governo não escapará de uma desvalorização cambial mais forte no primeiro semestre de 99.
Esse grupo, que conta com os ministros Bresser Pereira (Administração) e Paulo Renato (Educação), defende uma queda mais rápida das taxas de juros no primeiro trimestre de 99. A posição conservadora do Banco Central, que reduziu os juros para 29% ao ano, não agradou a essa ala do governo.
A principal arma dos críticos de Malan e Franco para o segundo mandato era o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações). Sua escolha para o antigo Ministério da Produção, agora do Desenvolvimento, era certa e funcionaria como um contraponto à política econômica.
O grampo telefônico no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), porém, frustou a estratégia dessa ala. Mendonça de Barros acabou sendo obrigado a pedir demissão.
Malan e Franco sabem que o principal desafio do presidente FHC em seu segundo mandato será exatamente sair da armadilha criada pela política cambial, que poderá levar o país a uma retração de até 2% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas) em 99, que deve ser o primeiro ano de recessão desde 92.
A resposta da equipe econômica não convence os críticos: montados em cálculos e estatísticas, os economistas sustentam que, com mais um ano de desvalorização gradual do real, a cotação do dólar chegaria perto de R$ 1,30 e o câmbio estaria praticamente ajustado.
Nesse meio tempo, o governo faria o ajuste fiscal, ganharia maior credibilidade no exterior e poderia reduzir os juros sem tanto risco de fuga de capital externo do país.
A partir do ano 2000, com câmbio em ordem e juros em queda, o país voltaria a crescer -em taxas modestas a princípio, mas que tenderiam a crescer.
Contra essa tese normalmente se argumenta que o cálculo relevante para o ajuste do câmbio é o resultado da balança comercial. Se as importações continuarem muito acima das importações, de nada valerão os argumentos da Fazenda e do BC. Sem resolver o déficit externo, o país não conseguiria reduzir os juros. Sem queda das taxas, o déficit público se manteria alto, comprometendo o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a credibilidade do país.



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