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DEPORTADOS
Brasileiros que tentam entrar ilegalmente nos EUA seguem roteiros traçados por companheiros que já vivem lá
Parentes e amigos guiam imigração ilegal
Juca Varella/Folha Imagem
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Brasileiros deportados dos Estados Unidos deixam o Centro de Ajuda ao Migrante, em Belo Horizonte, onde chegaram na quarta |
JOSÉ EDUARDO RONDON
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A saga de brasileiros que tentam
entrar ilegalmente nos EUA a partir do México começa em geral
pela existência prévia de redes de
parentesco ou de amizade em território americano, diz a socióloga
Teresa Sales, 58, do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas.
Para Sales, autora de "Brasileiros Longe de Casa" (ed. Cortez),
baixos salários e falta de moradia
não são suficientes para levar à
decisão de emigrar. Ao se aventurarem por rotas clandestinas no
deserto mexicano, enfrentando a
segurança americana pós-11 de
Setembro, muitos brasileiros seguem roteiros traçados por amigos ou parentes nos EUA, que
ajudam na busca de emprego.
"Isso explica o fato de as pessoas
saírem predominantemente de
certos locais de origem, como Criciúma (SC) e Governador Valadares (MG), por exemplo, e se dirigirem a determinados locais de destino, como Nova York, Miami e a
região da Grande Boston."
É o caso do mineiro Antônio
Carlos Alves da Costa, 38. Dos
EUA, um de seus irmãos preparou todo o itinerário da tentativa
de cruzar a fronteira, que acabou
no presídio de Florence, no Arizona. Costa integra o grupo de 277
brasileiros deportados que chegou a Belo Horizonte na quarta.
Deportação em massa
Já para o professor de história
da Universidade de São Paulo José Carlos Sebe Bom Meihy, 60, a
volta dos brasileiros é um sinal da
nova política norte-americana de
"deportação em massa".
Para Meihy, a medida expõe a
fragilidade das relações Brasil-EUA e aponta para uma nova ordem mundial: "Deportação sempre existiu. Mas uma atitude
coordenada, regulamentada e financiada pelo governo americano realmente é uma coisa que tem
que chamar a atenção. O curioso é
que isso aconteça justamente
quando se discute o livre comércio e a a livre negociação, que
pressupõem livre trânsito", disse.
Essa nova ordem mundial faz
parte do livro "Brasil Fora de Si",
que ele lança em março (ed. Parábola). A publicação é resultado de
cinco anos de pesquisas e entrevistas com 600 imigrantes brasileiros nos EUA e 100 no Brasil.
Para Meihy, o Brasil está saindo
da condição de "terra acolhedora" para a de "exportador de pobres". Ele cita a liberação da exigência de visto de entrada de brasileiros no México como um dos
principais motivos para o crescimento das redes dos chamados
"coiotes". Meihy estima que cerca
de 2.000 brasileiros ainda serão
deportados nos próximos meses.
Alguns repatriados ouvidos pela Agência Folha relataram que
existem várias maneiras de se tentar chegar aos EUA ilegalmente.
Em alguns casos, incentivados
por amigos e familiares nos EUA,
entram em contato com representantes dos coiotes (traficantes
de imigrantes), por telefone, no
México, e são informados sobre o
preço a ser pago (entre US$ 3.000
e US$ 10 mil) para a travessia.
Esses representantes os esperam no aeroporto da Cidade do
México e os levam para casas de
coiotes na fronteira, principalmente nas cidades de Água Preta
e Cananéia. De lá, partem em grupo de 20 pessoas para tentar a travessia. Outra maneira usada é a
dos agenciadores brasileiros, que
cobram cerca de US$ 12 mil e arcam com o traslado até a Cidade
do México, onde representantes
dos coiotes os levam à fronteira.
Colaborou ADRIANA CHAVES, da Agência Folha
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