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ESTADO LAICO
Líderes dizem temer que Patrus, católico atuante, privilegie igreja
Novo ministro preocupa evangélicos
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
A nomeação de Patrus Ananias
(PT-MG), um católico atuante,
para o Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome deixou evangélicos preocupados. O pastor batista Ariovaldo
Ramos disse que a indicação é a
"vitória da Igreja Católica na queda-de-braço com o governo" para
controlar as políticas sociais.
O pastor integra o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), ligado ao governo, e é vice-presidente da Associação
Evangélica Brasileira, que reúne
igrejas protestantes tradicionais.
"No ano passado, a Igreja Católica se distanciou das ações sociais
do governo, em razão das críticas
de d. Mauro Morelli e da doutora
Zilda Arns. São críticas que eu respeito, embora não concorde."
Morelli, bispo de Duque de Caxias (RJ), e Arns, coordenadora
da Pastoral da Criança, têm afirmado que não há planejamento
nas ações sociais do governo.
O senador Magno Malta (PL-ES), batista e presidente de uma
ONG de apoio a jovens viciados
em drogas, disse esperar que Patrus tenha a "sensibilidade" de
ouvir os evangélicos. "Assim como a Igreja Católica, os evangélicos têm o que oferecer. Esperamos continuar sendo ouvidos."
Patrus tem laços históricos com
a ala progressista da Igreja Católica. Em Minas, ele preside o Instituto Jacques Maritain, que leva o
nome do filósofo francês considerado um dos maiores pensadores
da doutrina social da igreja.
Para Ramos, o ministro não pode privilegiar um segmento religioso em detrimento de outro.
"Nós, evangélicos, estamos em
compasso de espera. Apesar de
professar uma religião, ele deve
ter consciência que o Estado é leigo [laico]. No Brasil, o Estado é
leigo por direito, mas, de fato, prevalece a força da Igreja Católica."
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), d. Odilo Pedro Scherer,
discorda das críticas do pastor.
Para ele, não se trata de queda-de-braço ou pretensão de controlar
os projetos sociais.
O presidente da CNBB, Geraldo
Magela, acha que a indicação de
Patrus não implicará "subserviência" da igreja ao governo.
"Nós vamos continuar colaborando, mas não vamos nos partidarizar." O presidente da CNBB
não esconde suas críticas às ações
sociais do governo em 2003. "Elas
foram muito lentas. Não podemos esperar para amanhã, porque a situação é de emergência."
Para Zilda Arns, da Pastoral da
Criança, o governo fracassou no
primeiro ano por "falta de planejamento e organização". "Não
houve um afastamento [da igreja], mas eu não concordava com
alguns pontos. Acho uma besteira
grande ficar cobrando notas fiscais [dos beneficiários dos programas sociais]. Espero que o governo confie nos pobres. É tão
pouco dinheiro."
Ela avalia que Patrus tem "pé no
chão", e que, por isso, deverá ampliar o leque de colaboradores do
governo para além de prefeituras
e Estados, incluindo maior número de ONGs. "O governo deve saber identificar os bolsões de miséria, mas, para isso, não bastam as
prefeituras, ainda mais num ano
eleitoral, em que muitas privilegiam cabos eleitorais."
Patrus disse, por meio de sua assessoria, que não pretende discriminar os evangélicos. Afirmou
que representa um Estado laico e
que, apesar de ser religioso, está
aberto ao diálogo com todas as religiões. Afirmou que, quando foi
prefeito de Belo Horizonte, nomeou dois secretários evangélicos
e que pretende contar com o
apoio "ativo" de todas as religiões.
O assessor da Presidência, Frei
Betto, nega que a indicação de Patrus seja uma vitória da Igreja Católica. Segundo ele, os evangélicos
"não serão prejudicados".
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