São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO CELSO DANIEL

Acusado diz que ameaças o levaram a confessar que atirou no prefeito

Jovem muda versão sobre assassinato

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O jovem L., que confessou à Polícia Civil ser o autor dos oito disparos contra o prefeito Celso Daniel (PT), mudou a versão e afirmou a policiais e a promotores que assumiu o crime após ser ameaçado por outros integrantes da quadrilha da qual participava.
L., que era menor de idade na época do crime, disse que, no período entre o seqüestro e a morte de Daniel, de 18 a 20 de janeiro de 2002, vigiava uma garota que havia sido seqüestrada pelo mesmo grupo dias antes. A versão dele foi confirmada pela vítima -liberada depois do pagamento do resgate. A culpabilidade de L. foi apontada pela Polícia Civil 46 dias após a morte de Daniel.
"Mais do que meros indícios, resta-nos a certeza de ser o adolescente em questão o autor imediato dos disparos de arma de fogo que ceifaram a vida de Celso Daniel", afirmou, em março de 2002, o delegado titular Armando de Oliveira Costa Filho, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), em documento dirigido à Justiça de Infância e Juventude. Procurado pela Folha, Costa Filho afirmou que sua convicção foi baseada na confissão do então menor.

Ameaças
Na semana passada, após ser recapturado pela polícia -ele havia fugido da Febem em 2005-, L. disse a policiais e promotores que assumiu o crime após ouvir ameaças, a ele próprio e à sua família, de José Edison da Silva, outro integrante da quadrilha e um dos sete presos pelo assassinato de Daniel. José Edison, que foi condenado pelo seqüestro da jovem, teria dito que, por ser menor de idade, L. não teria problemas com a Justiça.
"Não tive nenhum envolvimento direto ou indireto no seqüestro e na morte de Celso Daniel", afirmou L. no depoimento. Ele relatou que, na noite do seqüestro, estava na casa de José Edison, usado como cativeiro para a garota, cuidando da vítima.
Na mesma noite, disse L., José Edison teria comentado com ele sobre o seqüestro de "um cara forte".
A confissão inicial do menor foi considerada inverossímil pelo médico-legista Carlos Delmonte Printes, que morreu em outubro do ano passado. À época, o perito afirmou que a reconstituição do assassinato feita pelo menor era conflitante com o laudo balístico do corpo do prefeito.
Em depoimento à Promotoria Criminal de Santo André, L. também não reconheceu o prefeito por meio de uma foto. "Não conheço esse homem aí, ele não participou do crime", disse, referindo-se a Daniel. De forma não oficial, L. já havia dito que não participara do crime, mas nunca antes havia concordado em colocar suas declarações no papel.
L., que ficou foragido da Febem por sete meses e retornou à instituição, será solto no próximo mês, quando completará 21 anos -idade máxima permitida para internação.
No dia 25 de janeiro, logo após ter prestado o depoimento em que mudou a versão sobre sua participação no crime, L. foi entrevistado pela Folha.
Na ocasião, porém, ele voltou a dizer que foi o autor dos disparos. "A vida toda vou ouvir essa pergunta, se matei. Eu matei", afirmou. Na entrevista, ele não quis falar sobre eventuais ameaças que teria sofrido.


Texto Anterior: Outro lado: Desembargador diz que tribunal pode julgar caso
Próximo Texto: Toda mídia - Nelson de Sá: Google entre nós
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.