São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na Câmara, Temer lidera disputa com vantagem de 12 votos

Enquete realizada pela Folha mostra que 269 dizem que votarão no PMDB, mas voto secreto dá margem a traições

73% dos deputados ouvidos reclamam que a Casa tem sofrido muita interferência dos outros Poderes, como a edição de MPs pelo Planalto

MARIA CLARA CABRAL
SOFIA FERNANDES
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se depender da palavra de seus colegas, o que historicamente não é muito confiável, o candidato Michel Temer (PMDB-SP) será eleito já no primeiro turno amanhã como novo presidente da Câmara.
Mais da metade dos deputados (269) declarou à Folha apoio ao peemedebista, em enquete realizada entre os dias 19 e 30 de janeiro, que ouviu 410 congressistas (80% dos 513).
Mesmo com apoio oficial de 15 partidos, a margem de segurança de Temer, segundo a enquete, é de 12 votos -ele precisaria de ao menos 257 votos para não levar a disputa ao segundo turno, na hipótese de os 513 deputados estarem presentes.
Ciro Nogueira (PP-PI) aparece como segundo, com 37 votos. Aldo Rebelo (PC do B-SP) vem em seguida, com 35, e Osmar Serraglio (PMDB-PR) tem 6. Outros 63 deputados não quiseram revelar seu candidato. A reportagem entrou em contato com todos os gabinetes, mas poucos congressistas do PP -votos, em tese, para Ciro Nogueira- ligaram de volta.
Apesar das declarações, o histórico de eleições da Mesa mostra que traições e mentiras são comuns, já que a votação é secreta. As bancadas de todos os partidos vão se reunir hoje para mais uma rodada de discussão. O voto dos deputados também pode sofrer alteração de acordo com o resultado da eleição do Senado, onde a disputa é concluída primeiro e o PMDB também é favorito, com José Sarney (AP).
A enquete também revela o que os deputados dizem querer do próximo presidente: pulso firme para, sobretudo, mudar a imagem da Casa e fortalecer a autonomia do Legislativo.
Mais da metade dos entrevistados (73,2%) reclama que a Câmara tem caído no demérito da população e sofrido a interferência cotidiana dos outros Poderes, principalmente do Executivo, com a frequente edição de medidas provisórias.
Outros assuntos levantados como prioridade para o novo presidente da Casa são a votação das reformas política e tributária e a implementação do orçamento impositivo.
Segundo a enquete, 60% dos deputados defenderam a equiparação dos seus rendimentos com o teto do Judiciário, o que significa aumentar de R$ 16,5 mil para R$ 24,5 mil o salário dos congressistas.
Parte afirmou que apoiaria o aumento salarial acompanhado do corte da verba indenizatória, auxílio mensal com limite de R$ 15 mil destinado ao ressarcimento de despesas relacionadas ao exercício parlamentar. Com a verba incorporada ao salário, os deputados não precisariam mais prestar contas desses gastos.
O discurso, por outro lado, é o da transparência. Cerca de 76% dos deputados ouvidos defenderam a publicação de toda nota fiscal de gastos com verba indenizatória.
A prática, contudo, é diferente. Quando a Folha solicitou aos 513 deputados federais e 81 senadores que fornecessem cópias das notas de seus gastos, em 2008, apenas 14 deles atenderam ao pedido.


Colaboraram FERNANDA ODILLA , ANGELA PINHO e FELIPE SELIGMAN , da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Enquete da Folha indica vantagem de Sarney
Próximo Texto: Memória: Comando do Legislativo era função do vice
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.