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Eleição faz governo evitar pautas polêmicas
Congresso deve deixar fora de votação temas como descriminalização do aborto e união entre pessoas de mesmo sexo
Aprovação de projetos sobre pré-sal é prioridade em 2010, mas orientação é de não inclusão de propostas que acirrem disputas estaduais
MARIA CLARA CABRAL
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em ano de eleição, o governo
pretende deixar de fora da pauta do Congresso assuntos polêmicos. Como na prática deputados e senadores contam com
apenas seis meses de trabalho
legislativo -depois de junho
eles passam a se focar em suas
campanhas nos Estados-, a
prioridade é concentrar esforços na aprovação dos quatro
projetos que definem a regulação e exploração do pré-sal.
A Câmara volta do recesso
amanhã já debruçada na conclusão da votação do projeto de
lei que estabelece o modelo de
partilha do pré-sal. Depois, o
texto ainda tem que seguir para
o Senado.
Como há briga sobre o assunto entre os Estados produtores
e não produtores de petróleo, a
orientação do governo é que os
líderes da base não pautem novas propostas que possam trazer grandes problemas.
"Se conseguirmos concluir a
votação dos quatro projetos do
pré-sal neste primeiro semestre nas duas Casas, já está ótimo", disse o deputado Cândido
Vaccarezza (PT-SP), novo líder
do governo na Câmara.
Caso consigam liquidar o assunto, os congressistas devem
trabalhar temas que já estavam
sendo tratados no Congresso. A
atualização da lei de licitações,
por exemplo, é importante porque pode ajudar no andamento
das obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
um dos pontos de sustentação
da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.
As outras propostas listadas
pelo gabinete de Relações Institucionais e por líderes da base
aliada a Lula são o projeto que
cria o cadastro positivo, o que
dá nova estrutura para o Cade
(Conselho Administrativo de
Defesa Econômica), o que define a competência dos entes federados em matéria ambiental
e o que cria o "Fundo de Catástrofe" para a produção rural
-constituído por consórcio
privado e que poderá contar
com subvenção do governo.
Chegando ao Congresso, a
consolidação das leis sociais
também será prioridade.
Algumas outras propostas,
que já estão em votação na Câmara e no Senado, devem ser
concluídas, como a emenda
constitucional que inclui a alimentação como direito social e
a emenda que agiliza o divórcio.
Se conseguir votar tudo isso
no semestre, o governo já se
considera satisfeito. Ou seja, temas listados no Programa Nacional de Direitos Humanos,
como a descriminalização do
aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo não devem
avançar muito no Congresso.
A votação do projeto de lei
que institui 40 horas semanais
para os trabalhadores, por
exemplo, não deve acontecer,
principalmente para não criar
um embate com os empresários em ano de eleição.
Já a política de reajuste dos
aposentados, muito discutida
no ano passado, foi tratada em
uma medida provisória enviada
no ano passado e não deve sofrer grandes alterações.
"Assuntos polêmicos que tenham grande complexidade
não devem entrar [na pauta],
não temos condições de antecipar [esses assuntos]", afirmou o
líder do governo no Senado,
Romero Jucá (PMDB-RR).
Mesmo se quisesse, pelo menos no Senado, o governo começaria o ano já com dificuldades de votar temas polêmicos,
principalmente devido ao alto
número de medidas provisórias editadas. São três que estão
na Casa, duas trancando a pauta -com prioridade de votação.
A outra começa a trancar dia 17.
Como lá o presidente José
Sarney (PMDB-AP) preferiu
ainda não adotar a mesma regra do presidente da Câmara,
deputado Michel Temer
(PMDB-SP) -que liberou as
votações mesmo com medidas
provisórias em sessões extraordinárias-, a dificuldade para
votar as matérias é maior.
Na Câmara, nove medidas
provisórias já chegaram. Elas
tratam de política do salário
mínimo até a liberação de recursos para cidades afetadas
pelas enchentes.
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