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OPOSIÇÃO
"Temos que perder a vergonha de ter gente com saquinhos pedindo dinheiro nos comícios", afirma petista
Lula agora elogia Ulysses e Edir Macedo
CARLOS EDUARDO ALVES
enviado especial a Salvador
Elogio a Edir Macedo, saudade
de Ulysses Guimarães e discurso
incisivo contra o radicalismo. É
com esse coquetel inusitado que
Luiz Inácio Lula da Silva tem tentado convencer a militância do PT
de que sua campanha presidencial
não comporta mais somente a nota única do "não".
De terça a sexta-feira, a Folha
acompanhou debates de Lula com
militantes do partido em quatro
capitais do Nordeste. Não é exagero dizer que o líder petista, ao menos no debate interno, tornou-se o
"missionário da moderação".
Em todos os eventos, Lula marcou a fala pela ampliação das
alianças petistas. Corou a ortodoxia petista, por exemplo, ao dizer
que o partido tem o que aprender
com o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.
"Temos que aprender, sim, com
o Edir Macedo como arrecadar dinheiro para a campanha. Temos
que perder a vergonha de ter gente
com saquinhos pedindo dinheiro
nos comícios", afirmou. Um militante, ao ouvir a frase, não se conteve no comentário com o amigo
ao lado. "Assim já é demais."
Lula quer uma campanha diferente em 98. Sabe que tem de descer alguns tons no discurso. "A
sociedade não quer mais alguém
que apenas seja contra", disse.
Ceder
O caminho da derrota ensinou,
na confissão de Lula aos seguidores nordestinos, que ampliar as
alianças é necessário. Mais do que
isso, ceder também faz parte do
jogo eleitoral.
"Em política, não se pode esticar a corda. É preciso procurar um
ponto de equilíbrio", disse em
Maceió. A retórica surpreendente
confunde parte da militância petista, hoje cada vez menor e envelhecida. Em Maceió, ao ouvir a defesa de um partido lutando pelo
que é possível, um correligionário
resmungou, baixinho. "Esse cabra já foi mais comunista."
Lula não ouviu -na verdade, ele
nunca se definiu como comunista-, mas não se incomodaria
com o comentário. O que ele quer
é evitar um fiasco eleitoral.
"Aos 52 anos, o que eu não quero é disputar para marcar posição", afirmou em três dos debates
nordestinos. Assim como o eterno
adversário Paulo Maluf (PPB), que
um dia afirmou que "as derrotas
são pedagógicas", Lula recorreu
ao revés para uma revisão tardia.
O virtual candidato petista acha
que sua derrota para Fernando
Collor em 89 deve ser atribuída ao
equívoco de, no segundo turno,
não ter pedido os votos que, na
primeira rodada, foram destinados a Ulysses Guimarães (PMDB).
"Não queríamos pedir votos aos
conservadores e erramos. Agora,
quero fazer o jogo para ganhar."
Ulysses, aliás, pode ser um bom
exemplo para a guinada pragmática de Lula: "Hoje eu vejo a falta
que faz uma figura como o Ulysses. Sem ele, o PMDB perdeu a referência nacional". Ulysses, para
a maioria petista, personifica o
"pacto das elites".
A mudança na operação pode
ser provada, no seu entender, no
relacionamento com Brizola, de
quem foi adversário nas duas últimas eleições presidenciais. "Ninguém me xingou mais do que o
Brizola. Mas eu disse para ele que
estávamos cansados de apanhar
separados e propus que apanhássemos um pouco junto."
Lula aceitou a terceira candidatura presidencial a contragosto,
até para evitar a implosão do PT,
que só se unifica, e mesmo assim
precariamente, debaixo do inegável patrimônio eleitoral do líder.
A contragosto, também, Lula
admite agora que a forma de dar o
recado para a população tem de
ser modificado: "Se eu falar como
falo em porta de fábrica, posso até
voltar satisfeito para casa, mas sei
que não ganho a eleição".
A dúvida agora é se o discurso
cordato trará mais votos e, se
ocorrer outra derrota, qual será a
reação do setor radical do PT, que
por enquanto não tem como reagir à guinada, mas não assina embaixo de muitas das idéias do líder.
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