São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IGREJA
Representação na nova legislatura cresce de 27 deputados para 44; Universal lidera com 16 parlamentares
Bancada evangélica cresce 63% na Câmara

Cabo Júlio, deputado federal evangélico pelo PL de Minas CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local


Os evangélicos aumentaram em 63% sua presença na Câmara. Na legislatura que começa amanhã, eles serão 44 parlamentares, a maior bancada evangélica da história. Atualmente, são 27 deputados federais.
Os números refletem o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil e a postura mais agressiva que muitas delas têm adotado em relação à participação política.
Apesar da expansão, os evangélicos ainda estão sub-representados na Câmara. Estima-se que eles representem de 13% a 15% da população brasileira. Os 44 parlamentares equivalem a 8,57% dos 513 deputados federais.
Entre as igrejas evangélicas, a Universal do Reino de Deus foi a grande vitoriosa das últimas eleições: passou de 6 para 14 deputados e desbancou a Assembléia de Deus do primeiro lugar no ranking do número de representantes.
A Assembléia de Deus, a maior igreja pentecostal do país, foi a que mais perdeu, em termos relativos. Terá 7 deputados, 3 a menos que o número atual.
Ela passa, a partir de hoje, para o terceiro lugar entre as maiores bancadas evangélicas, atrás da Igreja Batista, que terá oito de seus membros na Câmara -o dobro do número atual.
²
Constituinte A presença dos evangélicos no Congresso começou a se expandir em 1986, com a eleição dos parlamentares que iriam integrar o Congresso constituinte.
A participação foi impulsionada pelo boato de que havia um movimento para transformar o catolicismo em religião oficial do Brasil.
Naquele ano, foram eleitos 32 deputados federais evangélicos. Na eleição de 90, o número diminuiu um pouco e, em 1994, chegou a 27.
"Na Constituinte, os evangélicos substituíram o bordão "crente não se mete em política' pelo "irmão vota em irmão'", diz o sociólogo Ricardo Mariano, autor de uma tese sobre o neopentecostalismo.
O "irmão vota em irmão' tem força principalmente nas igrejas pentecostais ou neopentecostais, como a Assembléia de Deus e a Evangelho Quadrangular.
Mas em nenhuma delas a prática é levada tão a sério quanto na Universal. A igreja tem candidatos oficiais, exerce rígido controle sobre sua escolha e permite a campanha eleitoral explícita no interior dos templos.
²
Estratégia política Essa prática é responsável por grande parte do sucesso eleitoral da igreja Universal.
"O crescimento da Universal era previsível porque ela é a única igreja que tem uma estratégia política definida", afirma o deputado federal Salatiel Carvalho (PPB-PE), da Assembléia.
A estratégia inclui a limitação do número de candidatos por região, para evitar a pulverização dos votos dos fiéis. Carvalho observa que essa prática não existe na Assembléia e em nenhuma outra grande igreja evangélica.
"Só em Pernambuco, a Assembléia de Deus tinha seis candidatos a deputado federal", diz. E compara: "A Universal racionaliza e divide os espaços".
Em sua opinião, a igreja tem suas razões para agir dessa forma. "A Universal tem a TV Record, tem outras empresas. Por isso, precisa ocupar espaço político, precisa barganhar com o governo."
Apesar da identidade religiosa, a "bancada evangélica" não deve ter uma atuação unificada em todos os temas.
Na opinião de Ricardo Mariano e de parlamentares evangélicos, essa união deve ocorrer em relação a propostas que afetem a moral cristã ou que possam ameaçar o funcionamento das igrejas.
²
União contra projeto No primeiro caso, está, por exemplo, o projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo, apresentado pela deputada federal Marta Suplicy (PT-SP).
A proposta encontra resistência até entre petistas evangélicos -minoria absoluta na bancada. "Hoje eu teria dificuldade de votar o projeto", afirma o deputado federal eleito Gilmar Machado (PT-MG), batista há 22 anos.
O projeto que limitava a emissão de ruídos, aprovado no ano passado, é um exemplo clássico de proposta que pode atrapalhar o funcionamento das igrejas.
A bancada evangélica se uniu contra o que considerou uma ameaça à realização de cultos e obteve o veto do presidente Fernando Henrique Cardoso ao texto.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.