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CRIME ORGANIZADO
Folha publicou conversas gravadas pela PF
Justiça abre inquérito para apurar vazamento de informação sigilosa
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O juiz César Augusto Bearsi, da
3ª Vara Federal de Cuiabá, determinou abertura de inquérito para
apurar os responsáveis pelo vazamento de documentos e gravações de investigação sigilosa sobre
suposto esquema de "negociação
de sentenças" envolvendo um
membro do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O material foi publicado pela Folha, no domingo.
O jornal transcreveu diálogos
mantidos por prepostos da quadrilha de João Arcanjo Ribeiro, de
Mato Grosso.
Foram captados em escuta telefônica feita pela Polícia Federal,
sob supervisão judicial. As conversas trazem o nome do advogado Erick Vidigal e referências ao
pai dele, o ministro Edson Vidigal, vice-presidente do STJ.
O inquérito foi aberto anteontem. O juiz tomou a decisão depois de receber ofício em que Edson Vidigal pedia a suspensão do
sigilo do processo. Para ele, o vazamento tornou o segredo de Justiça desnecessário.
"É notório que dados importantes das investigações preliminares
sigilosas [...] foram repassados,
criminosamente, ao jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo", escreveu Vidigal ao juiz Augusto Bearsi.
"O segredo de Justiça, se mantido, apenas servirá, em razão dos
vazamentos já ocorridos, para
ampliar dúvidas e alimentar as especulações e desconfianças [...]",
acrescentou, em outro trecho.
Sigilo mantido
O juiz manteve o sigilo do inquérito. Alegou que o vazamento
já ocorrido, um "crime", "não justifica a prática de uma nova quebra de sigilo". Ele informou em
seu despacho que "o vazamento
de informações foi apenas parcial
e não comprometeu a idoneidade, seriedade e sigilo de outras diligências investigatórias que ainda estão sendo feitas".
Edson Vidigal entregou pessoalmente o ofício à Justiça em
Cuiabá. Em sua passagem pela capital mato-grossense, teve acesso
ao pedido de abertura de inquérito formulado pelo procurador da
República Pedro Taques. O documento envolve o seu filho Erick
na suspeita de "negociação de
sentenças" judiciais.
"Palavras ásperas"
O ministro chamou o procurador de "analfabeto". Vidigal disse
que Taques "não conhece nem sequer uma letra da Constituição".
O procurador disse que se recusa
a "bater boca com um ministro".
Aconselhou-o a "largar de vez a
magistratura e defender o seu filho como advogado".
A polêmica levou o juiz Augusto Bearsi a emitir uma nota. Lamentou "as palavras ásperas" de
Vidigal. Lembrou que foi ele
quem analisou e deferiu os requerimentos de Taques, exceto um
em que o procurador pedia a prisão de Erick Vidigal.
"Por isso, se o ministro realmente considera que houve erros,
perseguições ou falhas de qualquer tipo, deve dirigir suas críticas a mim, de magistrado a magistrado [...]."
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