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TERRA SEM LEI
Para a polícia, depoimentos reforçam existência de "consórcio"
Indiciados depõem e citam prefeito em morte de freira
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALTAMIRA
Dois indiciados por autoria e
co-autoria na morte da missionária Dorothy Stang, 73, envolveram ontem no caso o prefeito de
Anapu (PA), Luiz dos Reis Carvalho (PTB), e o fazendeiro Laudelino Délio Fernandes Neto. As polícias Federal e Civil investigam as
novas informações e convocarão
o prefeito e o fazendeiro para depor nos próximos dias.
Rayfran das Neves Sales, 27, o
Fogoió (que confessou ser o executor dos disparos que mataram a
irmã no último dia 12), disse à comissão do Senado que investiga o
caso, numa sala na delegacia de
Altamira (PA), que o fazendeiro
Vitalmiro Bastos de Moura, 34, o
Bida (suposto mandante do crime, foragido), disse a ele após o
crime que "iria fazer uma coletinha" para pagar um advogado.
O advogado os defenderia caso
algum deles fosse preso. Para coletar o dinheiro, Bida teria dito
que iria procurar o prefeito de
Anapu. Segundo Fogoió, Bida
também disse que pediria um
avião a Laudelino Délio Fernandes Neto para fugir da região.
Délio, como o fazendeiro é conhecido em Altamira, é um dos
maiores fazendeiros da região e é
apontado pelo Ministério Público
Federal como fraudador de projetos da extinta Sudam.
Além dele, a PF e Polícia Civil
vão investigar o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão,
que vendeu a fazenda em Anapu
para Bida e é réu no mesmo processo que apura desvio de verbas
da Sudam (Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia).
A CPI da Terra pediu na semana
passada, em Brasília, a quebra dos
sigilos bancário, fiscal e telefônico
de Bida, Délio e Taradão.
Acareação
A Folha teve acesso a trechos da
acareação feita pelos senadores na
manhã de ontem. Segundo Fogoió, Bida disse a ele: "Vocês livram a nossa cara. Vou arrumar
um advogado e vou fazer uma coletinha, com o prefeito, e vou pedir um avião para Délio para
sair". Fogoió chorou durante o
depoimento, disse estar arrependido e que Bida mandou que eles
saíssem da fazenda porque a polícia iria para o local.
Já Amair Feijoli da Cunha, o Tato, negou que tenha sido o intermediário entre o mandante e os
pistoleiros. "Não posso assumir
uma coisa que eu não fiz." Ele disse ainda ter percorrido a pé 120
km em uma semana de fuga na
mata se alimentando apenas de
farinha. O relato não convenceu
os senadores nem os delegados.
O depoimento de Fogoió reforça a tese de que haveria um "consórcio" para arrecadar verbas. As
declarações de Fogoió foram confirmadas por Clodoaldo Carlos
Batista, 31, o Eduardo, indiciado
como co-autor do assassinato.
Além de Fogoió e de Eduardo,
as polícias Federal e Civil indiciaram ontem por crime hediondo
Tato, como co-autor, e Bida, como co-autor e mandante.
O inquérito foi entregue à Justiça de Pacajá. As polícias indiciaram dois vaqueiros de Bida que
ajudaram na fuga dos acusados e
foram presos no fim de semana
pela PF. "Vamos instaurar autos
complementares para investigar
as novas informações", disse o delegado Ualame Machado.
"Os executores reconhecem
que, quando chegaram à fazenda
do Bida [após o crime], ele teria
dito para que fugissem e que, se
fossem presos, negassem a participação dele [Bida] e de Tato, porque ele arrumaria um advogado
no valor de R$ 50 mil a R$ 100 mil
para defendê-los. Eles fariam uma
coleta para arrecadar o dinheiro e
mencionaram o nome do prefeito
de Anapu", disse o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), relator da comissão do Senado criada
para acompanhar o caso.
A comissão ouviu também lideranças em Anapu e enviará as notas taquigráficas para as polícias.
O relatório final será entregue ao
governo federal. Além de Torres,
integram a comissão os senadores
Eduardo Suplicy (PT-SP), Ana Júlia Carepa (PT-PA) e Flecha Ribeiro (PSDB-PA).
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