São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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ANÁLISE

Colômbia e Venezuela lideram corrida por armas

Lula Marques/Folha Imagem
O novo comandante da Aeronáutica, brigadeiro-do-ar Juniti Saito


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


A discussão sobre a política de defesa brasileira, seja ela apenas um desejo expresso ontem por Waldir Pires ou uma realidade, ocorre num momento em que se assiste ao possível começo de uma corrida armamentista na América do Sul.
Por enquanto, a disputa está polarizada entre a Venezuela e a Colômbia, com o Chile correndo por fora, e tem implicações estratégicas importantes, embora ambos os países neguem estar em disputa.
Tudo começa em 2000, com a adoção do Plano Colômbia, que permitiu a entrada de pessoal e equipamento militar americano no país, como parte da guerra ao narcoterrorismo. Se por um lado houve sucessos, por outro não são poucos os que vêem a Colômbia como uma base militar avançada dos EUA -como o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Com a ascensão de Chávez e sua "revolução bolivariana", a fartura de petrodólares tornou-se primeiramente moeda para compra de apoios regionais. Desde o ano passado, contudo, o presidente da Venezuela está demonstrando um apetite militar inusual.
Depois de acordos iniciais com a China, desencorajados por meios diplomáticos pelos EUA, vieram vetos efetivos de compra de material com tecnologia norte-americana -como Supertucanos da Embraer, aviões de transporte espanhóis e peças para seus antigos caças F-16 norte-americanos.
Isso levou Chávez à Rússia, com vasta oferta militar e que está reestruturando sua indústria de defesa. O Kremlin sob Vladimir Putin não perde uma oportunidade de se afirmar como potência renascida, e isso o torna quase imune a vetos e pressões promovidas pelos americanos.
Resultado: Chávez gastou mais de US$ 4 bilhões no bazar de armas russo. Ele deseja obter um poder regional de dissuasão com caças, sistemas antiaéreos e helicópteros. Isso fora a polêmica compra de 100 mil fuzis Kalashnikov e a abertura de uma fábrica da arma, visando equipar suas milícias "revolucionárias".
Chávez faz retórica dizendo se preparar para uma invasão americana, sabendo o quão improvável ela é. Mais previsível é um conflito com um aliado de Washington. No caso, a Colômbia, que por via das dúvidas anunciou nesta semana que vai gastar US$ 3,6 bilhões em aviões e armamentos.
Enquanto isso, o Chile reequipou fortemente sua Marinha e Aeronáutica. Fora do jogo por ora está a Argentina, preocupada em se recuperar economicamente.
O armamento da Venezuela é amplo e está mais detalhado até aqui. Quando completa, sua Força Aérea terá os caças mais poderosos do continente, os russos Sukhoi Su-30, e mais de 50 helicópteros russos.
A defesa antiaérea deverá ser baseada no sistema russo Tor-M1, o mesmo comprado pelo Irã -que, aliado ao regime de Chávez na sua campanha antiamericana, assinou tratados para desenvolver equipamento militar. E há planos de compra de 12 submarinos.
Enquanto isso, o Brasil assiste e reage de forma errática na última década. Enterrou programas que previam transferência de tecnologia, como o F-X (supersônicos multifunção) e o CH-X (helicópteros de transporte). Acabou comprando material usado.
No lado positivo, tornou operacional um esquadrão eficaz de aviões de vigilância e sensoriamento montados no país pela Embraer, está modernizando seus antigos caças F-5 e lançou um submarino.
Mas não há uma estratégia clara visando a realidade regional, talvez pela simpatia do governo Lula aos regimes favoráveis a Chávez.
Isso leva a lances que denotam falta de planejamento: a FAB adquiriu alguns helicópteros usados dos EUA e, quando viu a compra feita por Chávez, foi atrás dos modelos vendidos por Moscou.
Por fim, sempre há o argumento de que o Brasil tem que ter outras prioridades. Isso acaba sendo uma verdade cômoda, porque desobriga as autoridades a encarar a mudança no cenário estratégico da América do Sul -o único lugar em que o Brasil pode ser líder natural.


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