São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Real política

Não obstante as motivações da cobiça do PMDB sobre o fundo de pensão de Furnas e o bom desempenho contábil obtido pela atual diretoria, é incorreto caracterizá-la como blindada de interesses políticos.
Roberto Panisset, responsável pela área de seguridade do Real Grandeza, é homem da CUT -frequentador assíduo de eventos da central e conhecido de seu presidente, Artur Henrique. Alderizio dos Santos, presidente do conselho deliberativo da Caixa de Assistência dos Empregados de Furnas (Caefe), é pessoa de confiança do deputado licenciado Jorge Bittar (PT), secretário municipal de Habitação do Rio. O presidente, Sergio Fontes, tem relação antiga com o grupo do ex-presidente da República Itamar Franco.




Laranja. Abortada na última hora pelo Planalto, a indicação de Eduardo Henrique Garcia para comandar o Real Grandeza era apenas o primeiro passo da operação arquitetada pelo PMDB. O plano era deixar Garcia por alguns meses esquentando o lugar para Victor Albano, atual presidente do conselho deliberativo e nome favorito da cúpula do partido.

Babel 1. A direção de Furnas é exemplo acabado do modelo "picado" de loteamento adotado pelo governo Lula. O presidente da estatal, Carlos Nadalutti, é PMDB. O diretor de Operações, Fábio Resende, tem patrocínio do petista Jorge Bittar e do PSB (é irmão do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende). O de Engenharia, Mário Rogar, é bancado pelo PR, e o de Gestão, Luis Fernando Paroli, pelo PT mineiro.

Babel 2. O condomínio de partidos na mesma estatal está na base de escândalos como o dos Correios, em 2005, estopim da crise do mensalão.

Raízes. Depois de passar o Carnaval em Pernambuco, terra natal de Lula, a pré-candidata Dilma Rousseff será a estrela de seminário no dia 11 em São Bernardo do Campo, berço político do presidente. Políticos, empresários e sindicalistas ouvirão a ministra discorrer sobre o impacto da crise na região do ABC.

Tinindo. Disposto a encerrar seu período de sumiço, Ciro Gomes antecipou à bancada do PSB trechos da palestra que fará quarta na Câmara. "O mito do livre mercado é uma ideologia de quinta, que foi vendida como ciência." Segue Ciro: "Felizmente, o processo de privatização foi interrompido, e assim salvamos o Banco do Brasil, a Petrobras, Furnas e outras joias da coroa".

Extra! Diante da liminar que suspendeu as 4.200 demissões na Embraer, obtida por ação da Força Sindical, uma mente bem-humorada imaginou a manchete do boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ligado ao trotskista PSTU: "Sindicato pelego ganha vitória na Justiça burguesa com base na legislação fascista de Vargas".

Carga pesada. O Planalto já percebeu que será difícil levar adiante o projeto de instalar Erenice Guerra no Tribunal de Contas da União, em vaga a ser preenchida no meio do ano. Personagem do caso do dossiê de gastos de FHC, a número dois de Dilma na Casa Civil encontraria forte resistência no Senado, pelo qual a indicação tem de passar.

À disposição. Ciente das dificuldades de Erenice, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio (PTB), trabalha para ser o plano B do governo no TCU. Seu cargo atual é objeto de permanente cobiça dos petistas.

Parceria. Na berlinda depois das recentes invasões em São Paulo e do assassinato de seguranças em Pernambuco, o MST fará carreata hoje no Maranhão em defesa do governador Jackson Lago (PDT), ameaçado de cassação pelo TSE. O PT dá apoio.

Em tempo. José Sarney (PMDB-AP), interessado como ninguém na cassação de Lago, endossou as críticas do presidente do STF às ilegalidades cometidas pelo MST.

Ondas curtas. A Câmara criou grupo de trabalho para estudar formas de ampliar o sinal de sua rádio, difusora de discursos e projetos apresentados pelos deputados.

Tiroteio

"O fracasso da operação para substituir a direção do fundo de pensão de Furnas mostra que ninguém pode tudo no Brasil. Nem o PMDB. "

Da senadora IDELI SALVATTI (PT-SC), sobre a malfadada tentativa, comandada pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia), de dar ao partido o controle da Fundação Real Grandeza.

Contraponto

Vintage

A recém-lançada biografia de Olavo Setubal, de Ignácio de Loyola Brandão e Jorge J. Okubaro, registra visita de Jânio Quadros ao apartamento do banqueiro. Era 1985, e o ex-presidente buscava apoio para disputar a Prefeitura de São Paulo, campanha da qual saiu vitorioso.
Jânio, que já estivera outras vezes na casa do dono do Itaú, fez questão de entrar pela cozinha, e ali apresentou seu primeiro pedido:
-Quero vinho do Porto. Mas não me sirva em cálice, que parece um dedal. Quero o vinho servido em copo.
E tomou tudo de uma vez.

com FÁBIO ZANINI e SILVIO NAVARRO


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