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São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2003

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Promessa de Lula de dobrar mínimo fica mais distante

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o aumento do salário mínimo de R$ 200 para R$ 240, o governo Lula terá dificuldade para cumprir sua promessa de campanha de dobrar o poder aquisitivo do trabalhador brasileiro até o final do seu mandato.
Cálculo do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp, mostra que, ao reajustar em 20% o valor nominal do mínimo, o aumento real do salário foi de 3,5%, considerando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, nos últimos 12 meses terminados em fevereiro.
Só que, para dobrar o mínimo até o final de 2006, o aumento real do salário, pelos cálculos do Cesit, teria de ser de 19% ao ano em quatro anos -isto é, além de repor a inflação, o salário teria de ser reajustado em mais 19%.
Assim, considerando o IPCA dos últimos 12 meses terminados em fevereiro (15,85%) e mais 19% de aumento real, o mínimo, nos cálculos do Cesit, deveria ir para R$ 275,72 neste ano, caso o governo petista manifestasse a intenção de dobrar o poder aquisitivo do mínimo em quatro anos.
"O aumento de R$ 200 para R$ 240 mostra que a política de dobrar o salário mínimo ainda não foi implementada pelo governo. Isso vai exigir para os próximos anos uma ação mais agressiva de reajustes", diz Anselmo Luís dos Santos, economista do Cesit. Pelos seus cálculos, se o governo quiser dobrar o poder aquisitivo do trabalhador nos próximos três anos, o aumento real no salário mínimo terá de ser de 25%.
O governo, segundo economistas ouvidos pela Folha, pode, no entanto, reajustar novamente o salário mínimo em setembro e outubro deste ano.
Economistas ouvidos pela Folha dizem que o aumento do mínimo decorre de negociação política e não econômica, já que o governo não explica as razões pelas quais o mínimo foi para R$ 240 e não para R$ 230 ou R$ 250.
O economista José Maurício Soares, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), também considera que a meta de dobrar o poder aquisitivo em quatro anos está comprometida. Nos seus cálculos, o ganho real do mínimo será de 1,69% se considerada a estimativa de 18% de inflação acumulada nos últimos 12 meses terminados em março, de acordo com o ICV (Índice do Custo de Vida) medido pelo Dieese.
"O governo teria de aumentar em 20% acima da inflação o valor do mínimo para cumprir essa meta com certa folga. Ou seja, deveria aumentar o mínimo para R$ 288 neste ano. Caso contrário, terá de recuperar nos próximos anos esse valor concedendo aumentos mais significativos", diz Soares. E isso, diz, só será possível se a economia crescer em ritmo elevado (acima de 10% ao ano), se a inflação cair drasticamente e se houver aumento do emprego com carteira assinada, para que esses trabalhadores passem a contribuir para a Previdência.
Na avaliação do economista Caio Prates, da UFRJ, o aumento real do salário mínimo será maior do que 3,5% (como calcula a Unicamp) se considerar que a inflação deve se manter em queda nos próximos 12 meses. Neste momento, afirma, o governo não tinha outra alternativa de aumento, uma vez que o reajuste do mínimo tem impacto nas contas do governo, como nos benefícios pagos pela Previdência.


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