São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006/SÃO PAULO

Tucano diz que foi necessário renunciar a cargo para que "comboio continue progredindo"

Serra deixa Prefeitura após 15 meses para disputar governo

Jorge Araújo/Folha Imagem
José Serra (PSDB) durante entrevista em que renunciou ao cargo de prefeito para concorrer ao governo de São Paulo, no Anhembi


CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano e três meses após assumir a prefeitura, o tucano José Serra renunciou ontem ao cargo para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Para justificar sua saída com dois anos e nove meses de mandato pela frente -mesmo tendo assumido o compromisso formal de ficar até o fim-, Serra afirmou que sua opção "é a que exige maior sacrifício" e, seguindo o discurso em um teleprompter, reproduziu todos os argumentos reunidos até agora para sustentar a decisão.
"Se assumo o risco de sair do comboio que está em plena marcha, o faço para assegurar as condições para que continue progredindo. A meu ver, é a decisão correta. Pensei muito. Uma decisão difícil, a mais difícil que tomei na minha vida. Mas, embora arriscada, é necessária", disse.
Apesar de adotar um tom emocional, ao ponto de encher os olhos de lágrimas ao se referir ao amigo e secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira, Serra mostrou-se armado para a batalha contra o PT. Citou dados sobre o governo da antecessora, a petista Marta Suplicy, sua possível adversária, e contou ter pronto um balanço das ações de sua gestão em comparação à passada.
Para se vacinar contra a esperada ofensiva petista, foi para o ataque: "O time adversário, que fez barbaridade dos túneis, dos Jardins, não tem moral para abrir a boca a respeito de obras e de tudo o mais", reagiu Serra, chamando de previsível o argumento petista.
"Não têm nem terão outra coisa para dizer. Depois da bagunça com que deixaram a prefeitura (...), diante da falta de propostas e de rumo em que está o Brasil agora, realmente não vai haver para eles discurso fora este."
Tanto no anúncio como na entrevista, Serra consumiu maior parte do tempo explicando a renúncia após ter assinado um documento se comprometendo a concluir o mandato. Ao responder se tinha mentido, disse, duas vezes, que as circunstâncias -inclusive pesquisas de opinião- mudaram desde então: "Naquele momento, eu disse a verdade. As circunstâncias passaram a ser outras. Naquele momento não tinha por que não o fazer [assinar]".

O novo prefeito
Em entrevista, Serra defendeu o sucessor, o pefelista Gilberto Kassab, cuja participação no governo Celso Pitta foi explorada na eleição passada. "Quanto a alguém ter ocupado durante um ano uma secretaria num governo que foi ruim para São Paulo, isso não pode ser entendido como a decretação da falência múltipla de órgãos para exercer cargos públicos".
Serra chegou ao Anhembi -palco do discurso- com um disquete. Lá, imprimiu seu discurso para que fosse exibido num teleprompter. A seu pedido, as letras teriam de ser grandes. O texto foi elaborado num momento de mágoa de Serra com os que o acusam de usar a prefeitura como trampolim. No Anhembi, reunido com secretários, teria se emocionado ao reclamar dos críticos.
Por isso recorreu a sua biografia na abertura do discurso para dizer que, em nome de seus ideais, decidiu disputar o governo. "Uma posição conquistada, confortável, troco pelo risco de mais uma batalha". Ao longo do discurso ele insistiu em pontos como o de que "a melhor maneira de servir à cidade" é manter as parcerias com o governo do Estado. Ou de que "São Paulo não pode viver mais o risco de retrocesso".
Antes, Serra entregou a carta-renúncia ao presidente da Câmara, Roberto Tripoli, no campo de Marte, onde pousou de helicóptero. Embora tenha dito duas vezes que contava com a preferência do PSDB para a Presidência, Serra descartou a possibilidade de se apresentar para a corrida caso o candidato do partido, Geraldo Alckmin, não decole. "Estamos nessa batalha conjuntamente. O jogo não admite substituição."
Serra optou pelo Anhembi após uma manhã de indefinições. Num primeiro momento, os secretários foram convocados para um almoço. Mais tarde, foram informados de que deveriam deixar o horário das 18h livre para reunião. Só pela manhã, a prefeitura consultou o presidente do Anhembi, Caio Carvalho, sobre o uso do local.
No anúncio, Serra parafraseou Fernando Pessoa para explicar a saída: "A batalha vale a pena se o sonho e a alma não são pequenos". E concluiu: "Acredito que o povo de São Paulo saberá compreender minhas razões. E a ele me submeterei como já fiz sete vezes na minha vida".


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.