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ELEIÇÕES 2006/PFL NO PODER
Novo governador de SP afirma que a gestão Alckmin foi "impecável" e transparente e que a sua deixará a marca da "simplicidade"
Caso Nossa Caixa já foi investigado, diz Lembo
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTINA FIBE
DA REDAÇÃO
O governador de São Paulo,
Cláudio Lembo (PFL), 71, assume
o cargo prometendo seguir à risca
o estilo de seu antecessor. A
exemplo de Geraldo Alckmin,
Lembo acha que as suspeitas de
ingerência do governo nas verbas
de publicidade da Nossa Caixa
não devem ser investigadas.
Lembo diz que a gestão tucana
foi "impecável" e que a transparência é "total", embora todos os
69 pedidos de CPIs tenham sido
arquivados. Por isso pretende dar
continuidade a obras e projetos
de Alckmin, com "simplicidade".
"Não tenho sonho político, tenho realismo. Vamos melhorar o Brasil. Não pode continuar a democracia com tanta fragilidade"
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"Se o Geraldo foi franciscano,
eu vou ser um franciscano descalço", afirma o pefelista, que é chamado de "picolé de chuchu light",
referência ao apelido de Alckmin.
Ele gosta do nome. "Porque colorido é perigoso, pode ferir os
olhos alheios. Eu prefiro não ferir
nem os olhos nem o sabor."
Quanto à doação de 400 vestidos a Lu Alckmin pelo estilista
Rogério Figueiredo, o que a ex-primeira-dama nega, Lembo afirma que não seriam oferecidos
vestidos à sua mulher. "Ela é uma
mulher do lar, fechada, que não
tem grande presença social."
O pefelista defende seu conservadorismo, diz ter se casado virgem, não ter tempo de ir ao cinema e não ler livros de ficção, gênero que acha "medíocre". Ele critica a "promiscuidade" de muitos
políticos e afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possui
"traços populistas".
Leia trechos da entrevista concedida à Folha no Palácio dos
Bandeirantes, anteontem, véspera de sua posse.
Folha - Qual o perfil ideal para o
vice de Alckmin nessas eleições?
Lembo - Tem que ser um nordestino, de raízes populares, com
formação universitária e com experiência administrativa. Nascido
do voto popular para a política.
Folha - O senador José Jorge [PFL-PE] é um bom nome?
Lembo - É um bom nome. Ele e
outros do Nordeste, o [José] Agripino [RN]. São bons nomes.
Folha - Esse critério elimina o senador Jorge Bornhausen [SC].
Lembo - Com muita clareza. Não
pode ser alguém do Sul ou Sudeste, claro, se o governador é de São
Paulo, tem que ser alguém que represente outra parte do Brasil.
Folha - O que um político tem que
ter para ser vice do Alckmin?
Lembo - Tem que ser um homem que compreenda que a função dele é a de realizar a filosofia
do governante. Se receber funções
delegadas, deve realizá-las. Se
não, deve ficar silencioso, esperando, em expectativa, o que possa acontecer. Vice tem que ser silencioso. Vice tem que ser humilde. É um caso típico de auto-restrição da própria vontade.
Folha - O vice é alguém em expectativa o tempo todo?
Lembo - Sempre. E isso exige
nervos de aço.
Folha - Que momento da gestão
Alckmin exigiu nervos de aço?
Lembo - Eventualmente, a escolha de algum secretário. Posso ter
achado que não era o melhor.
Folha - O sr. pode mudar agora.
Lembo - Estou mudando, fazendo um secretariado que seja um
pouco da minha personalidade.
Folha - Houve algum momento
de discordância do Alckmin?
Lembo - Não, discordância eu
não tive. Foi um governo linear.
Folha - Mas impecável?
Lembo - Impecável.
Folha - Uma das críticas da oposição é a falta de transparência.
Lembo - Mas é ingênuo. Primeiro, [criar CPIs] é uma função interna da Assembléia, que não teve
nenhuma interferência. Segundo,
o caso específico [da Nossa Caixa]
foi objeto de uma sindicância, o
presidente da Nossa Caixa enviou
a documentação para o Ministério Público, para o Tribunal de
Contas, e o caso era muito simples. Todo contrato pode ser
prorrogado. Esqueceram o formalismo da prorrogação por escrito e continuaram fazendo liberação de verbas com o contrato.
Folha - Simplesmente esqueceram, foi uma falta de atenção?
Lembo - Foi, e isso acontece com
o ser humano, mas não tinha malícia. A transparência está total.
Folha - Então o sr. não vai tomar
nenhuma providência?
Lembo - Claro que se toma providência. Primeiro, houve a sindicância. Já foi tomada a providência máxima. Daqui para a frente
vamos acompanhar o que aconteceu, ver e rever procedimentos.
Folha - O sr. concorda com argumentos segundo os quais se José
Serra continuasse na prefeitura e o
PT elegesse o governador ele ficaria asfixiado?
Lembo - O Serra
na prefeitura e um
governo do PT no
Estado seria uma
tragédia.
"[Lula] tem traços [populistas]. [...] Após os incidentes de Brasília, ele está mais populista. Ele deveria ter uma visão mais de estadista"
|
Repetir o
Brasil em SP seria
muito mau para os
brasileiros. Felizmente, o Serra saiu
candidato, com
possibilidade de vitória, e a gente evita
que SP seja um outro Brasil. Nós, brasileiros de SP, não
temos consciência
de como estamos
vivendo num Estado de segurança jurídica, de respeito à
pessoa, de capacidade de desenvolvimento econômico, o que o Brasil não tem.
Folha - Qual é a marca que o sr.
vai deixar no governo?
Lembo - Da simplicidade. Se o
Geraldo foi franciscano, eu vou
ser um franciscano descalço.
Folha - O sr. imaginou que o PFL
fosse crescer tanto em SP?
Lembo - Foi um milagre. Acredito em milagre e estou muito satisfeito pelo PFL ter chegado, depois
de tanto esforço, ao governo de
SP, à prefeitura de São Paulo e à
Assembléia Legislativa.
Folha - É possível, em nove meses, converter isso em voto?
Lembo - Se a sociedade achar
que fomos bem, converte em voto. Imagino que é possível ao menos fazer um trabalho pedagógico
de mostrar que se pode governar
com sobriedade.
Folha - Qual é sua pretensão po-
lítica?
Lembo - Ajudar sempre o partido. [...] É preciso que o Brasil tenha uma visão liberal.
Folha - Qual é o lugar que o PFL
deve ocupar no eleitorado?
Lembo - O PFL tem que ter muito nitidamente um
traço: um partido
conservador. O que
falta no Brasil é a
coragem de se afirmar conservador.
Ser conservador é
ser preservador da
liberdade, dos direitos sociais, da dignidade humana. Agora, essa conotação
de direita, esquerda... E todo mundo
quer ser de esquerda, e se mostram
defensores de seus
interesses particulares. Vou tentar
mostrar nesses nove meses que é possível ser conservador e ter uma visão
social nítida.
Folha - Como se traduz esse conservadorismo no seu dia-a-dia?
Lembo - Respeito ao outro, não
ser promíscuo. Tenho visto nos
noticiários muita promiscuidade.
Folha - O sr. está falando da "casa
do lobby"?
Lembo - Estou falando de tudo o
que li nos jornais sobre o que
aconteceu em Brasília. E que é deplorável. Eram homens públicos
que se mostraram de uma devassidão de costumes que não é boa
para a sociedade.
Folha - Em SP, o PFL abriria mão
da vice ou do Senado em nome da
amplitude da aliança de Serra?
Lembo - Acho que não deve
abrir. Temos que preservar espaços majoritários, vice, Senado, temos que ser firmes nisso.
Folha - A vitória de Alckmin depende do seu desempenho?
Lembo - Não. Claro que eu não
posso ter um governo desastrado.
Folha - Mas qual o ponto que exigirá maior vigilância? Segurança?
Lembo - Segurança é vigilância
permanente. Educação, saúde, tudo vigilância constante.
Folha - Qual será o
seu foco de atenção?
Lembo - Todos.
[...] De onde não
parece, as coisas
podem acontecer.
Folha - Lu Alckmin
continuará a comandar programas sociais?
Lembo - Não, a
minha mulher vai
assumir e dar o traço dela, de sobriedade e apoio social.
Folha - O sr. permitiria que ela aceitasse 400 vestidos?
Lembo - Em primeiro lugar, o estilista não ia oferecer
a ela. Segundo, eu
diria que tem que se
ver como aconteceu essa hipótese.
Folha - Por que o estilista não daria o vestido para a sua mulher?
Lembo - Não daria pelo estilo da
minha mulher. Ela é uma mulher
do lar, fechada, que não tem grande presença social nem quer ter.
Ela é uma senhora, avançada nos
anos como eu. A gente vai lá no
Antonio da r. Herculano de Freitas, que cobra R$ 10 para fazer calça, R$ 30, posso te apresentar.
Folha - É lá que faz suas roupas?
Lembo - Não, minha mulher faz
muita coisa lá. Eu faço no Rogélio,
que é lá na r. Peixoto Gomide. São
meio tortinhas, mas são bonitas.
Folha - Ele vai gostar de o sr. dizer
que são tortinhas?
Lembo - São direitinhas. Eu que
sou torto, e o terno fica torto.
Folha - O que o sr. lê?
Lembo - Eu não leio mais ficção.
Na idade em que estou, eu já li tudo, então a ficção é medíocre. Estou lendo "A Expansão do Pensamento Cristão", sobre a expansão
do cristianismo e o conflito com o
islamismo. Para entender e tentar
fazer uma aliança de civilizações.
Folha - Qual o último filme que viu?
Lembo - No cinema, foi "Cidade de
Deus". Portanto,
não vou ao cinema.
Não tenho tempo.
Folha - O sr. bebe?
Lembo - Socialmente.
Folha - Já usou psicotrópicos?
Lembo - Nunca.
Folha - O sr. casou
virgem?
Lembo - Casei virgem. E sou fiel.
Folha - Vai à igreja
com freqüência?
Lembo - Não. Vou
regularmente, não
com freqüência.
Folha - O sr. reza
todos os dias?
Lembo - Eu penso.
Folha - De que músicas gosta?
Lembo - Gosto de chorinho, jazz,
música clássica. Eu sou eclético.
Folha - Torce para algum time?
Lembo - E sofro muito. Sou palmeirense.
Folha - O sr. acha que tem um
gosto popular?
Lembo - Não sou populista. Nem
quero ser. Acho esse um dos perigos da América Latina hoje. Populista é irracional, produz na sociedade situações perigosíssimas.
Folha - O Lula é populista?
Lembo - Tem traços. E digo
mais: após os incidentes de Brasília, ele está mais populista ainda.
O que é mau. Ele deveria eventualmente ter uma visão mais de
estadista do que de populista.
Folha - O que acha de ser apelidado de "picolé de chuchu light"?
Lembo - Acho ótimo, viu? Porque colorido é perigoso, pode ferir os olhos alheios. Eu prefiro não
ferir nem os olhos nem o sabor.
Folha - Prefere passar despercebido?
Lembo - É bom. Se em nove meses eu passar despercebido, trabalhando o tempo todo, será muito
bom. Depois as pessoas vêem. E
podem ter saudades.
Folha - O sr. não tem vontade de
concorrer a um cargo executivo?
Lembo - Não. Nunca a um cargo
proporcional. [...] Mas estou sempre pronto a qualquer disputa, se
necessário, a cargo majoritário.
Folha - Mas o sr. já disse que desistiria da política depois de ser governador.
Lembo - Estou dizendo que a minha visão é que, aos 72 anos, idade
com que vou deixar isso aqui, se
deixar, porque posso ser como o
Tancredo Neves [que morreu antes de assumir a Presidência, em
1985], de hoje para amanhã, acho
que aos 72 se deve abrir espaço
para os outros, mas não quer dizer que deixe a política.
Folha - Se Alckmin for eleito e
convidá-lo para um ministério, o sr.
aceita?
Lembo - Vamos pensar, primeiro vamos eleger o Alckmin, depois vamos pensar nisso.
Folha - Qual o seu sonho político?
Lembo - Não tenho nenhum sonho político, tenho realismo político. Vamos melhorar o Brasil.
Não pode continuar a democracia
com tanta fragilidade moral.
Folha - Qual o seu lugar preferido
em São Paulo?
Lembo - O Pátio do Colégio. O
centro da cidade. Eu pego meu
carrinho, um [Ford] Ka, e vou todo fim de semana sozinho, ou
com minha mulher, correr o centro histórico loucamente, porque
é sempre a mesma coisa. Eu gosto
daquilo, eu acho bonito.
Folha - O sr. já foi assaltado?
Lembo - Fui uma vez, tive um
bom diálogo com o assaltante.
Uns quatro, cinco anos atrás. Tive
que dar um pouquinho [de dinheiro], porque ele estava trabalhando. Ele estava lutando. Não
aceito a luta dele, porém entendo.
Folha - O que o sr. vai trazer para
o Palácio dos Bandeirantes?
Lembo - Eventualmente um terno, uma camisa e uma cueca.
Folha - Nem um porta-retrato?
Lembo - Não, não tenho. Os retratos são o passado. Guarde o
passado na sua alma e não exiba.
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