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HERANÇA MILITAR
42 anos após tomar poder, Força afirma orgulhar-se do passado; quem assina nota é general que parou avião
Golpe alicerçou democracia, diz Exército
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No aniversário de 42 anos do
golpe militar de 1964, a ordem do
dia do Exército, lida para cerca de
200 mil soldados em quartéis de
todo o país ontem, exalta sua
atuação ao dizer que "esse Exército orgulha-se do passado". Diz
ainda que o golpe ajudou a "alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a
democracia é dever nacional".
"O 31 de Março insere-se, pois,
na História pátria e é sob o prisma
dos valores imutáveis de nossa
Força e da dinâmica conjuntural
que o entendemos. É memória,
dignificado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar,
em cada brasileiro, a convicção
perene de que preservar a democracia é dever nacional", diz o final do texto, assinado pelo comandante do Exército, general
Francisco Albuquerque.
Antes, em seis pontos começados sempre com "Esse Exército, o
seu Exército", a nota destaca o
que considera "valores" da Força.
"Esse Exército, o seu Exército, orgulha-se do passado, porque nele
os valores e postulados da instituição, que se confundem com os
da própria nação brasileira, nasceram e se consolidaram", diz o
primeiro dos pontos.
O novo ministro da Defesa,
Waldir Pires, nomeado ontem para o cargo, disse respeitar a posição de cada um, ao comentar a ordem do dia do Exército. Pires foi
um exilado político justamente
pelo golpe militar de 1964
"Não tenho nada a contestar à
posição de quem interprete dessa
forma [a exaltação ao golpe militar]. Tenho que respeitar a posição de cada um", afirmou.
Segundo ele, "na história temos
que consolidar a soberania popular, a idéia de liberdade e a garantia dos direitos dos cidadãos".
Em outro trecho, a nota de ontem diz que o Exército "considera
que esse passado pertence à história e volta-se para o futuro, trabalhando pelo desenvolvimento nacional e empregando a mão amiga de sua gente toda vez que necessidades, urgências e emergências clamam por sua presença".
A nova manifestação do Exército ocorre num momento delicado, já que seu signatário, o comandante Albuquerque, foi alvo
de críticas nas últimas semanas,
depois de ter supostamente usado
o cargo para conseguir embarcar
em um avião lotado que já se preparava para decolar. Ele nega e diz
que agiu como um cidadão.
Mas não é a primeira vez, já depois da redemocratização, que o
Exército utiliza a ordem do dia
para defender o golpe. Em 2000, a
ordem do dia afirmava que o movimento militar de 64 foi um ato
de "coragem moral" para "restaurar a democracia". Contra a "insensatez" e o "destempero", dizia
a nota, os militares mantiveram-se "ao lado da razão".
No ano passado, porém, o Exército adotou tom
bem mais ameno sobre o golpe
em sua ordem do dia de 31 de
março. Uma nota de meses antes,
de outubro de 2004, exaltava a
atuação do Exército no golpe e
tentava justificar a violência dos
militares contra grupos que se
opunham à ditadura. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva obrigou o general Albuquerque a se
retratar, mas o militar ficou.
Quem caiu foi o então ministro da
Defesa, José Viegas.
Escaldado com a repercussão
da nota de apenas seis meses antes, em 2005 o Exército disse apenas que, quando chamado a agir,
"sempre o fez objetivando exclusivamente os mais elevados interesses nacionais".
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