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Com Bush, Lula volta a cobrar fim dos subsídios
Em Camp David, brasileiro e americano afirmam que acordo na OMC é possível
Apesar de considerar que foi o encontro mais produtivo que já teve com Bush, presidente disse que deixa os EUA com "nada" concreto
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CAMP DAVID
Apesar de ambos os presidentes terem feito preâmbulos
otimistas em relação às negociações comerciais dos dois
países em torno da Rodada Doha da Organização Mundial do
Comércio (OMC), Luiz Inácio
Lula da Silva e George W. Bush
não puderam ou não quiseram
dar detalhes de avanços nas
discussões. O brasileiro chegou
a dizer, entre risos, que saía da
reunião "sem nada".
"Essa foi a reunião mais produtiva com os EUA", disse Lula.
"Se alguém perguntar para
mim, "bom, o que você está levando para o Brasil?", certamente eu direi "nada". Agora
certamente os acordos que nós
assinamos e que poderemos assinar daqui para a frente podem garantir definitivamente
que as relações entre Estados
Unidos e Brasil não só são necessárias como estratégicas."
Lula e Bush se encontraram
ontem à tarde em Camp David,
o retiro presidencial norte-americano nas montanhas do
Estado de Maryland, vizinho a
Washington. O brasileiro é o
primeiro líder latino-americano a ser levado ao local em seis
anos da gestão Bush.
Foi recebido por Bush e sua
mulher, Laura, e os dois seguiram em direção à reunião de
trabalho num carrinho de golfe, que leva de brincadeira a
placa "Golfcart One", em referência ao nome dado à areonave presidencial dos EUA, AirForce One.
Tarifa
Já Lula voltaria a bater na tecla da queda da tarifa de importação que os EUA cobram do
etanol brasileiro, de R$ 0,30
por litro. Depois de afirmar que
os subsídios encarecem os alimentos e desestimulam a produção, pediu: "É preciso eliminar as barreiras para o etanol,
para fazer uma verdadeira
commodity."
Apesar do tom informal e de
ser a sétima vez que ambos se
encontram, a impressão dada
no encontro que fizeram com a
imprensa no meio da tarde é
que pouco se avançou.
"Temos nas mãos o poder de
fazer coisas, não faremos se não
quisermos", disse Lula. Indagados sobre se tinham um "plano
B" caso as negociações comerciais - Rodada Doha - não
avançassem, os dois descartaram a hipótese.
"Acho que não existe "plano
B". Ou é "plano A" ou não tem
acordo, e se não tiver acordo
certamente não teremos vencedores nem perdedores, todos
serão perdedores", disse Lula.
Ao seu lado, Bush concordou,
sorrindo. "Eu sou um homem
de "planos A", também, já me
perguntaram bastante sobre
"planos B'", afirmou, referindo-se ao constante ataque que sofre para apresentar uma alternativa à sua condução para a
Guerra do Iraque. "Os EUA tem
o desejo genuíno de que [a Rodada Doda"] seja bem-sucedida." Mas alertaria: "Que nossos
parceiros não esperem e nós
não esperamos ter de carregar
os ônus todos sozinhos".
Especificamente sobre o
Brasil, pediria maior acesso aos
mercados. Depois de dizer que
o país era um "forte exportador", afirmou que "é do interesse do Brasil abrir acesso aos
mercados". Para Bush, "o mundo tem uma tendência isolacionista e protecionista. "Isso faz o
mundo instável."
Outro ponto de discórdia entre os dois, segundo Lula, foi a
pretensão do Brasil de ter um
assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. "É
onde temos mais divergência,
mas, em política, se não tiver
divergência, não tem graça." A
seu lado, Bush ria.
Na ocasião, ambos os governos soltaram também comunicado em que indicam quais os
quatro países serão os primeiros destinos do investimento
previsto no memorando de biocombustíveis assinado pelos
dois presidentes em São Paulo
no começo do mês. Além do
Haiti, que já era dado como certo, foram confirmados República Dominicana, São Cristóvão e Nevis e El Salvador.
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