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Sucessão de três acasos criou o 1º dos três Getúlios
Ele foi o aglutinador das forças que derrubaram a República Velha, o ditador do Estado Novo e o populista "pai dos pobres'
Primeiro dos "acasos", hoje quase esquecido, é seu passado de colaborador de Washington Luís, de quem foi ministro da Fazenda
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando se fala em Getúlio
Vargas (1882-1954), a pergunta
que se impõe é: qual Getúlio
Vargas? Os três mais importantes foram o aglutinador das forças que derrubaram a República Velha na Revolução de 30, o
ditador do Estado Novo e o populista que ficou conhecido como o "pai dos pobres".
O político gaúcho foi alçado à
cena nacional por uma sucessão de acasos. Devido ao papel
"revolucionário" que desempenhou, é praticamente esquecido o seu passado de colaborador do antigo regime, como ministro da Fazenda do presidente Washington Luís. A ocupação desse cargo, resultado de
uma circunstância política regional que gerou a indicação,
foi o primeiro acaso.
Não demorou a ganhar a confiança do presidente. Ao despachar com Washington Luís, tinha a liberdade até para acender o indefectível charuto diante de um homem que não permitia que outros ministros fumassem nem cigarro em suasala. No fim do mandato, em outubro de 1930, Getúlio Vargas
iria expulsá-lo do palácio
do governo.
Como ele chegou a essa posição-chave? Primeiro, por um
lance político do qual não fora o
principal protagonista. Washington Luís, que representava
São Paulo no governo central,
rompeu a política do café-com-leite com Minas Gerais, e elegeu outro paulista, Júlio Prestes, para a Presidência. Os mineiros foram então procurar os
gaúchos para, juntos, enfrentarem os paulistas. Getúlio, governador do Rio Grande do Sul,
encabeçou a chapa. A oposição
perdeu nas urnas e, aliada aos
tenentistas que agitavam o país
desde 1922, cogitou pegar
em armas.
A idéia estava já descartada
quando -e este é o terceiro
acaso- o vice de Getúlio, João
Pessoa, foi assassinado, vítima
de um crime passional. Explorada politicamente, sua morte
provocou comoção e desembocou na queda da República Velha. Centralizador,
Getúlio soube aumentar seu
poder. Derrotou os paulistas
em 1932, mas, compreendendo
A ditadura coincidiu com a Segunda Guerra Mundial. Após
um jogo de cena inicial, em que
procurava arrancar vantagens
de americanos e nazistas, Getúlio optou pelos Aliados. O Brasil, sendo uma ditadura, lutava
ao lado das democracias. Foi
uma contradição que, assim
que os conflitos cessaram, levaram a seu afastamento.
A volta pelas urnas, em 1950,
foi triunfal. Mas a crise não tardou. Objeto de uma série de
acusações, Getúlio viu-se isolado. Carlos Lacerda, o líder da
oposição golpista, não dava trégua. A situação ficou insustentável após o atentado que Lacerda sofreu. Sem saída política, Getúlio matou-se dias depois. A população, que associava Getúlio a uma legislação paternalista, saiu às ruas em protesto. Sua carta-testamento
adiou em dez anos o golpe que
seria dado em 1964.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (Publifolha)
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