São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Sucessão de três acasos criou o 1º dos três Getúlios

Ele foi o aglutinador das forças que derrubaram a República Velha, o ditador do Estado Novo e o populista "pai dos pobres'

Primeiro dos "acasos", hoje quase esquecido, é seu passado de colaborador de Washington Luís, de quem foi ministro da Fazenda

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando se fala em Getúlio Vargas (1882-1954), a pergunta que se impõe é: qual Getúlio Vargas? Os três mais importantes foram o aglutinador das forças que derrubaram a República Velha na Revolução de 30, o ditador do Estado Novo e o populista que ficou conhecido como o "pai dos pobres". O político gaúcho foi alçado à cena nacional por uma sucessão de acasos. Devido ao papel "revolucionário" que desempenhou, é praticamente esquecido o seu passado de colaborador do antigo regime, como ministro da Fazenda do presidente Washington Luís. A ocupação desse cargo, resultado de uma circunstância política regional que gerou a indicação, foi o primeiro acaso. Não demorou a ganhar a confiança do presidente. Ao despachar com Washington Luís, tinha a liberdade até para acender o indefectível charuto diante de um homem que não permitia que outros ministros fumassem nem cigarro em suasala. No fim do mandato, em outubro de 1930, Getúlio Vargas iria expulsá-lo do palácio do governo. Como ele chegou a essa posição-chave? Primeiro, por um lance político do qual não fora o principal protagonista. Washington Luís, que representava São Paulo no governo central, rompeu a política do café-com-leite com Minas Gerais, e elegeu outro paulista, Júlio Prestes, para a Presidência. Os mineiros foram então procurar os gaúchos para, juntos, enfrentarem os paulistas. Getúlio, governador do Rio Grande do Sul, encabeçou a chapa. A oposição perdeu nas urnas e, aliada aos tenentistas que agitavam o país desde 1922, cogitou pegar em armas. A idéia estava já descartada quando -e este é o terceiro acaso- o vice de Getúlio, João Pessoa, foi assassinado, vítima de um crime passional. Explorada politicamente, sua morte provocou comoção e desembocou na queda da República Velha. Centralizador, Getúlio soube aumentar seu poder. Derrotou os paulistas em 1932, mas, compreendendo A ditadura coincidiu com a Segunda Guerra Mundial. Após um jogo de cena inicial, em que procurava arrancar vantagens de americanos e nazistas, Getúlio optou pelos Aliados. O Brasil, sendo uma ditadura, lutava ao lado das democracias. Foi uma contradição que, assim que os conflitos cessaram, levaram a seu afastamento. A volta pelas urnas, em 1950, foi triunfal. Mas a crise não tardou. Objeto de uma série de acusações, Getúlio viu-se isolado. Carlos Lacerda, o líder da oposição golpista, não dava trégua. A situação ficou insustentável após o atentado que Lacerda sofreu. Sem saída política, Getúlio matou-se dias depois. A população, que associava Getúlio a uma legislação paternalista, saiu às ruas em protesto. Sua carta-testamento adiou em dez anos o golpe que seria dado em 1964.


OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha)

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