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Argumentos do governo para dossiê não justificam base de dados paralela
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nenhuma das versões apresentadas pelo governo nos últimos dez dias justifica a criação
de uma base de dados paralela
ao sistema oficial de controle
de gastos da Presidência, com
claro viés político, para processar despesas do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Eis o ponto fraco do governo
na crise do dossiê: antes do vazamento, a Casa Civil preparava levantamento que passava
longe de ser uma simples organização de processos antigos,
de caráter administrativo.
Sem argumentos fortes para
justificar os relatórios de suprimento de fundos da administração tucana no formato em
que foram confeccionados, as
atenções do Planalto se voltam
a identificar o responsável pelo
vazamento dos dados.
Desde o início da crise, quando a revista "Veja" circulou
com a notícia de que o Planalto
produzira dossiê para constranger a oposição na CPI dos
Cartões, a Casa Civil identificou no vazamento uma "prática criminosa".
Sobre os motivos que levaram o governo a reabrir processos de prestações de contas da
Presidência de 1998 a 2002,
que já se encontravam no arquivo morto, a ministra Dilma
Rousseff insiste em atribuir o
trabalho a uma recomendação
do TCU (Tribunal de Contas da
União) que nunca existiu.
Se o governo se limitasse a
organizar os processos de prestações de gastos de forma a
atender futuros pedidos da
CPI, teria usado o mesmo padrão de controle utilizado para
os gastos feitos durante o governo Lula no Suprim, que é o
sistema oficial de registro das
despesas com suprimento de
fundos da Presidência.
Mas a Casa Civil optou por
uma base de dados paralela,
com anotações de viés político,
como uma observação que associa a compra de 180 garrafas
de champanhe ao período da
campanha da reeleição.
Embora o relatório -cuja autoria a Casa Civil assumiu-
não contenha nenhum dado
grave sobre os gastos de FHC,
são fartos os registros de compras de bebidas alcóolicas ou de
produtos de consumo supostamente suntuosos, como "estragão francês" (R$ 91,14).
Há despesas que, embora de
pequeno valor, poderiam ser
questionadas no uso de verba
de representação, como a compra de uma touca de silicone
para natação (R$ 13).
Base
A Casa Civil disse à Folha
que organizou uma base de dados paralela por falta de solução melhor da área de informática da Presidência. Disse também que os processos, remetidos ao arquivo morto, encontravam-se desorganizados, e
que a prestação de contas era
feita de maneira diferente antes da entrada em vigor dos
cartões corporativos, o que só
aconteceu quatro meses antes
do fim do mandato de FHC.
Os dados seriam tabulados
numa primeira fase nessa base
paralela e, depois, seriam lançados no Suprim.
Ontem, a Casa Civil não respondeu às questões enviadas
pela Folha sobre o destino dessa base de dados paralela.
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