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JANIO DE FREITAS
Os inconfiáveis
Seja você um vagabundo,
segundo o conceito de Fernando Henrique para os aposentados (um deles, e triplamente, o
próprio Fernando Henrique), seja um dos preguiçosos em cujo
traseiro Lula põe o olho, e não os
vê levando suas contas de banco
em banco, tem aí uma síntese
bastante eloqüente de como é
visto pelos seus eleitos, depois de
instalados nas delícias abusadas
do poder brasileiro. Mesmo que
não sirva de consolo, é interessante observar como esses inteligentes e finos governantes vêm,
também, a sua própria gente.
O PT, gabam-se os dirigentes
petistas, tem 800 mil filiados.
Mas entre eles, na opinião evidenciada pelo triunvirato Lula-Palocci-Dirceu, não há quem
mereça confiança técnica ou pessoal nem para exercer cargo de
assessoria na definição das
orientações básicas do governo.
Todos os que na área econômica
têm autoridade, de fato, são originários do anti-PT, quando não
integrantes de níveis altos no governo PSDB/PFL.
Nos quatro ministérios dados
por Lula como a base do seu governo - Fazenda, Relações Exteriores, Indústria e Agricultura
- os petistas não puderam nem
falar da portaria. No primeiro,
Antonio Palocci cumpre a tarefa
de guardião dos economistas antipetistas que traçam as decisões
apresentadas como do próprio
Palocci. Nos outros três ministérios, um ministro não conservador mas não petista, e os outros
dois desde sempre anti-PT. O
presidente do Banco Central integrou o governo, com carta
branca, como filiado ao PSDB. E,
a confirmar que a regra não tem
exceção, para substituir agora
um dos dois assessores neoliberalóides que comandam a Fazenda, Palocci foi buscar alguém
no extremo da ortodoxia econômica e do conservadorismo social.
Tudo como no governo de Fernando Henrique. Seus dois ministérios básicos, Fazenda e Relações Exteriores, e o Banco Central foram negados aos destinatários naturais do PSDB. José
Serra, emudecido em um Planejamento manietado, foi se virar
na Saúde, onde sua nomeação
esperava que fosse calado para
sempre. Bresser Pereira foi desreformar a administração pública.
Do PSDB, só Sérgio Motta teve
voz, temporariamente, mas tanta, que a teve mais forte no governo que a de Fernando Henrique.
Outrora, eleições provocavam
uma pergunta: quanto vale o voto? Agora estão difundindo outra: de que vale votar?
Mais erro
As duas perguntas que fugiram
ao ramerrão, na primeira coletiva de Lula, foram ambas de repórteres-radialistas. Ainda bem
que um deles pediu a Lula só três
citações de erros do governo. Se
baixasse alguma franqueza no
entrevistado, não se sabe do que
escapamos. Mas Lula não escapou de si mesmo. Um dos erros:
"Não conseguimos fazer nas rodovias as obras que eu gostaria
de fazer".
"Não conseguiram" é inverdade. Não quiseram, isso sim. Têm
preferido cortar as verbas destinadas às rodovias, nos Orçamentos que o próprio governo
sugeriu e o Congresso aprovou, e
mandá-las remunerar juros.
Esse não é só um erro. Vale por
um crime contra o presente e o
futuro da produção nacional, do
crescimento econômico e, portanto, da vida de cada pessoa no
país.
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