São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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JANIO DE FREITAS

Os inconfiáveis

Seja você um vagabundo, segundo o conceito de Fernando Henrique para os aposentados (um deles, e triplamente, o próprio Fernando Henrique), seja um dos preguiçosos em cujo traseiro Lula põe o olho, e não os vê levando suas contas de banco em banco, tem aí uma síntese bastante eloqüente de como é visto pelos seus eleitos, depois de instalados nas delícias abusadas do poder brasileiro. Mesmo que não sirva de consolo, é interessante observar como esses inteligentes e finos governantes vêm, também, a sua própria gente.
O PT, gabam-se os dirigentes petistas, tem 800 mil filiados. Mas entre eles, na opinião evidenciada pelo triunvirato Lula-Palocci-Dirceu, não há quem mereça confiança técnica ou pessoal nem para exercer cargo de assessoria na definição das orientações básicas do governo. Todos os que na área econômica têm autoridade, de fato, são originários do anti-PT, quando não integrantes de níveis altos no governo PSDB/PFL.
Nos quatro ministérios dados por Lula como a base do seu governo - Fazenda, Relações Exteriores, Indústria e Agricultura - os petistas não puderam nem falar da portaria. No primeiro, Antonio Palocci cumpre a tarefa de guardião dos economistas antipetistas que traçam as decisões apresentadas como do próprio Palocci. Nos outros três ministérios, um ministro não conservador mas não petista, e os outros dois desde sempre anti-PT. O presidente do Banco Central integrou o governo, com carta branca, como filiado ao PSDB. E, a confirmar que a regra não tem exceção, para substituir agora um dos dois assessores neoliberalóides que comandam a Fazenda, Palocci foi buscar alguém no extremo da ortodoxia econômica e do conservadorismo social.
Tudo como no governo de Fernando Henrique. Seus dois ministérios básicos, Fazenda e Relações Exteriores, e o Banco Central foram negados aos destinatários naturais do PSDB. José Serra, emudecido em um Planejamento manietado, foi se virar na Saúde, onde sua nomeação esperava que fosse calado para sempre. Bresser Pereira foi desreformar a administração pública. Do PSDB, só Sérgio Motta teve voz, temporariamente, mas tanta, que a teve mais forte no governo que a de Fernando Henrique.
Outrora, eleições provocavam uma pergunta: quanto vale o voto? Agora estão difundindo outra: de que vale votar?

Mais erro
As duas perguntas que fugiram ao ramerrão, na primeira coletiva de Lula, foram ambas de repórteres-radialistas. Ainda bem que um deles pediu a Lula só três citações de erros do governo. Se baixasse alguma franqueza no entrevistado, não se sabe do que escapamos. Mas Lula não escapou de si mesmo. Um dos erros: "Não conseguimos fazer nas rodovias as obras que eu gostaria de fazer".
"Não conseguiram" é inverdade. Não quiseram, isso sim. Têm preferido cortar as verbas destinadas às rodovias, nos Orçamentos que o próprio governo sugeriu e o Congresso aprovou, e mandá-las remunerar juros.
Esse não é só um erro. Vale por um crime contra o presente e o futuro da produção nacional, do crescimento econômico e, portanto, da vida de cada pessoa no país.


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