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Dilma cita número que até PF desconhece
Para criticar tucanos, petista comparou operações nos governos Lula e FHC, mas corporação não sabe de onde surgiu a estatística
Procurada, a assessoria da
pré-candidata também não
informou origem dos dados;
segundo Dilma, foram 1.012
ações com Lula e 29 com FHC
MÁRCIO FALCÃO
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para comparar as ações da
Polícia Federal nos períodos de
Lula e FHC, a pré-candidata
petista Dilma Rousseff usou
em pelo menos três entrevistas
um número que nem a própria
PF sabe como surgiu.
Ao tentar atestar a eficiência
da PF no governo Lula de forma quantitativa, Dilma afirmou que foram feitas 1.012 operações especiais desde 2003,
número que consta na página
da PF na internet, contra 29 na
gestão de Fernando Henrique.
A Folha questionou a PF sobre o número. A resposta da assessoria foi que não existe levantamento exato a respeito de
anos anteriores a 2004 e, portanto, não teria como informar
o número de operações referentes aos anos anteriores.
O mistério continuou quando a Folha questionou a assessoria de imprensa da pré-candidata sobre a origem da estatística citada nas entrevistas.
No primeiro contato, a informação foi que o dado havia sido
obtido no governo. No dia seguinte, informalmente, assessores disseram que os números
vieram de pesquisas em jornais, relatórios e internet. Por
fim, a equipe da petista disse
que consultaria o "pessoal de
conteúdo". Três dias depois do
primeiro contato, não houve
resposta oficial.
A reportagem também procurou o Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência,
que afirmou não ter os números porque a PF está subordinada ao Ministério da Justiça.
Por sua vez, o ministério informou ser a PF a responsável pela contabilidade de operações.
A confusão aumenta se for
comparado o número apresentado por Dilma ao que o próprio Lula citou em 2006, quando concedia entrevista a jornalistas europeus. Lula disse que
"entre 2003 e 2006 a Polícia
Federal fez mais de 300 operações contra o crime organizado
e, nos oito anos anteriores, foram só 48" -diferença de 19
para as 29 citadas por Dilma.
Apesar de não haver contabilidade exata feita pela PF antes
de 2004, na página da internet
da polícia existem relatórios de
atividades a partir de 2002.
Nesse documento de 2002, a
Folha encontrou 62 operações
identificadas como principais
ou que ganharam nome da PF e
que poderiam ser comparadas
às 1.012 especiais citadas por
Dilma no governo petista. De
acordo com a própria PF, a partir de 2004 são contabilizadas
como operações especiais as
ações que ocorrem em mais de
um Estado ou têm número significativo de mandados.
Nas entrevistas que concedeu, Dilma foi categórica. "Sabe
qual é a diferença? Se você for
olhar nos oito anos antes da
gente, houve 29 operações especiais. No nosso governo, houve 1.012", disse ao apresentador
José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, em 21 de abril.
A declaração de Dilma provocou incômodo em integrantes
do governo FHC. Ex-ministro
da Justiça, Miguel Reale Júnior
criticou. "Não estranho essa diferença nos números. Ela [Dilma] não tem outra declaração a
não ser a de que o Brasil foi descoberto em 2003", disse.
"Atualmente, o número de
operações é alto, mas grande
parte dessas ações dá origem a
processos nulos que são derrubados na Justiça", afirmou.
Na avaliação do presidente
do Sindicato dos Delegados da
PF, Joel Mazo, Lula foi mais
atencioso com a corporação.
"Só 29 [ações] eu acho baixo,
mas tudo depende do critério
que está sendo utilizado. Sem
dúvida, o Lula apostou muito
mais na PF e deu muito mais
condições de trabalho", disse.
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