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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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FISIOLOGIA PETISTA

Casa Civil comanda operação de adesão de novos congressistas

Base de Lula aumenta 63% com troca-troca partidário

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quando foi eleito presidente da República em outubro passado, Luiz Inácio Lula da Silva contava com o apoio de meros 228 deputados e 31 senadores no Congresso. Hoje, cinco meses depois da posse e muitos cargos preenchidos na administração federal, esses números engordaram: 370 deputados e 53 senadores.
O frenético troca-troca partidário (73 mudanças de legenda na Câmara, sendo que alguns deputados já trocaram duas vezes de agremiação) ajudou Lula a montar uma base de apoio suficiente para aprovar reformas constitucionais. Na Câmara, são necessários 308 votos para reformar a Carta. No Senado, 49.
O comando da operação ficou com o ministro-chefe da Casa Civil, o deputado federal licenciado José Dirceu (PT-SP). A Folha avisou a assessoria Dirceu sobre o teor desta reportagem na quinta-feira. Na sexta-feira, foi feito mais um contato. Não houve resposta.
Os números da base formal de Lula no Congresso devem ser vistos com ressalvas. Partidos dados como aliados terão dissidentes. Mas há, da mesma forma, neo-lulistas disfarçados dentro das siglas chamadas de oposição -basicamente o PSDB e o PFL.
Somadas as defecções dos dois lados, o número final fica próximo ao da soma das bancadas dos 11 partidos que são dados como governistas na Câmara (370 deputados) e das 7 siglas no Senado Federal (53 senadores).
Da eleição para cá, portanto, Lula conseguiu cooptar 142 deputados e 22 senadores. Um ganho de 62,3% e 71%, respectivamente, na Câmara e no Senado.
As grandes aquisições do governo nas últimas semanas foram a adesão formal do PMDB (68 deputados e 22 senadores) e o apoio da maioria do PP (ex-PPB, que tem 46 deputados federais e nenhum senador).
"Vamos a 51 deputados. O governo está até falando em ministério. Pelo menos 38 a 40 deputados votarão com o governo", diz o deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE), presidente nacional da sigla desde a saída de Paulo Maluf do cargo, em 4 de abril passado -quando também foi adotado o novo nome da agremiação.
A declaração de apoio formal está para acontecer. "Vamos esperar o presidente voltar ao Brasil [Lula está na Europa]. Marcaremos um almoço dos 35 a 38 deputados do PP com ele na casa do presidente da Câmara, o deputado João Paulo", relata Corrêa.
O presidente nacional do PP revela que o método de cooptação dos congressistas é muito similar ao empregado pelo governo anterior, quando o PT era crítico desse tipo de prática.
Eis o que diz Pedro Corrêa: "Os parlamentares que votam com o governo estão fazendo suas reivindicações nos Estados. Há cargos que tradicionalmente são indicados pela base do governo. Por exemplo, DNIT [Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes], delegacias regionais do trabalho, Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral], superintendências da CEF [Caixa Econômica Federal]. Os deputados do PP estão mandando currículos de indicados para avaliação".
Corrêa explica, entretanto, que "a reivindicação maior é de verba para os prefeitos fazerem obras. É o que dá voto. Os cargos só dão prestígio".
Sobre a participação da Casa Civil no processo de cooptação, Corrêa não deixa dúvida: "A Casa Civil recebe a mim e ao deputado que está vindo para o partido. Também ajudam o Pedro Henry [líder do PP na Câmara] e o [deputado] José Janene [PP-PR]. Nós três nos ocupamos disso".
E mais: "Os deputados também podem ir sozinhos [à Casa Civil]. Eles falam: "Estou indo para o PP, PTB... Se eu chegar lá, vai ter problema?". O ministro José Dirceu, sempre que pode, atende. Ele diz que tem de ser dentro das possibilidades. Se for um bom currículo, pode indicar. Se for uma obra prevista no Orçamento, não tem problema".
Outra sigla que avançou com a presença no governo é o PL, do vice-presidente da República José Alencar. O partido elegeu 26 deputados e está com 33.
O presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), fala em crescer. "Temos 33 e vamos para 40 em mais um mês e meio", disse na semana passada.
Quando um deputado vai ingressar no PL, a Casa Civil ajuda? "Em alguns casos, uns 30% dos casos, perguntam no Palácio: "O que vocês acham de eu ir para o PL, PTB ou outro partido?". Eles falam: "Vai, faz o que você quiser". Mas não se envolvem no problema", declara Costa Neto.



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