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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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Antiglobalizantes querem "melhorar" imagem e montam esquema próprio de segurança

Segurança inclui até mísseis antiaéreos

MARIA LUIZA ABBOTT
ENVIADA ESPECIAL A LAUSANNE

A maior manifestação do movimento antiglobalização durante a reunião do G8 está prevista para hoje, mas vai acontecer longe de Evian, onde estarão os dirigentes desse grupo dos sete países mais ricos, mais a Rússia, e seus convidados de países em desenvolvimento.
Essa cidade francesa, separada da Suíça pelo Lago Leman, foi isolada por um esquema de segurança que inclui baterias de mísseis antiaéreos, aviões de prontidão para proteção do espaço aéreo e patrulhamento do lago onde há até mergulhadores.
Somente os participantes da reunião poderão entrar em Evian. Os manifestantes protestarão na fronteira com a Suíça, depois de marcharem de Annemasse -onde estão alojados, a 50 km de Evian- e de Genebra, de onde deve sair outro grupo.
Hoje é o dia em que começa oficialmente o encontro de cúpula, com a chamada reunião do diálogo ampliado, da qual participam, além dos dirigentes do G8, os líderes dos países em desenvolvimento, que viajam de barco desde Lausanne -onde estão hospedados no luxuoso hotel Beau Rivage- até Evian. Serão recebidos no porto pelo presidente da França, Jacques Chirac, e seguem para o hotel Royal Parc Evian, local da reunião, e que se anuncia como o "hotel mais bonito do mundo".
"Le Royal", como chamam os franceses, foi construído no século 19, no apogeu da "belle époque" e do balneário de Evian, que ganhou fama por suas "fontes de águas curativas", descobertas em 1790. A descoberta trouxe enorme prosperidade à cidade, que tem 7.000 habitantes oficiais, mas chega a registrar 30 mil, graças ao turismo.
Situada nos Alpes, Evian preserva até hoje a arquitetura barroca da época, onde se destaca o Royal, que fica em um parque de 17 hectares com árvores centenárias e áreas de golfe. Nesse hotel, estão os líderes do G8 e na sua varanda com vista para o lago e as montanhas será o almoço para os dirigentes mundiais.
Ao mesmo tempo, os participantes da cúpula alternativa antiglobalização estarão saindo de Annemasse para a marcha de protesto. A cidade se preparou para evitar a violência que caracterizou os protestos em reuniões anteriores do G8, como a de Gênova, na Itália, em que um manifestante foi morto. A região das três cidades -na fronteira entre França e Suíça- está protegida por 27 mil militares e policiais franceses, suíços e alemães. Muitos moradores decidiram sair de Annemasse e os donos das lojas da cidade cobriram as vitrines com madeira, com medo de quebra-quebra.
Mas até agora não houve incidentes sérios. Os líderes das principais organizações antiglobalização criaram esquemas de segurança, ainda assombrados pela lembrança de Gênova.
"Não temos tido sucesso em passar nossa mensagem ao grande público, pois nosso movimento parece evocar sobretudo as imagens de violência", afirmou Yoann Boget, um dos coordenadores suíços do movimento, ao jornal "Le Monde". Boget acusa a imprensa pela imagem do movimento.
A mensagem que eles gostariam que ficasse é a de que o G8 é "ilegal, pois embora os líderes tenham sido eleitos democraticamente, o foram em seus países, e não têm mandato para decidir a ordem mundial", como diz o manifesto do movimento. Uma das organizações mais ativas nos protestos antiglobalização, a Attac -criada em 1998 como um "movimento internacional para o controle democrático dos mercados financeiros e de suas instituições"- acusa o G8 de não ter cumprido as promessas.
"O G8 nos prometeu a estabilidade financeira, e temos a crise das Bolsas, o crescimento econômico, e estamos em depressão, a diminuição da distância entre países ricos e pobres, mas essa diferença só cresce", diz o presidente da Attac, Jacques Nikonoff. Na terça-feira, os líderes do movimento de protestos devem entregar um documento ao presidente francês.



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