São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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Zuleido enviou dinheiro vivo a Brasília, dizem funcionários

Empregados da Gautama não informam motivo nem quem recebia os recursos

Em testemunhos dados à ministra Eliana Calmon, do STJ, afirmam ter recebido ordens de encaminhar pelo menos R$ 640 mil neste ano


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Funcionários da construtora Gautama disseram, em depoimentos à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, ter recebido ordens de enviar neste ano ao menos R$ 640 mil, em dinheiro, a Brasília.
Segundo eles, as remessas foram determinadas pelo dono da empreiteira, Zuleido Veras, apontado pela Polícia Federal como o chefe do esquema de fraude a licitações investigado na Operação Navalha.
Os funcionários da construtora não informaram o motivo nem a quem os recursos eram endereçados. A Folha teve acesso a 52 depoimentos prestados à ministra. Os testemunhos confirmam parte do trabalho da PF, que flagrou integrantes da quadrilha, incluindo Zuleido, levando dinheiro em pastas e malas para várias cidades, incluindo Brasília.
"À vista do diálogo do dia 20/3/2007, esclarece o depoente que reconhece tal diálogo, que conversava com doutor Zuleido e recebeu dele ordens de mandar no dia seguinte R$ 200 mil para Brasília e que esta remessa foi feita em dinheiro em espécie", disse Gil Jacó de Carvalho Santos, assistente administrativo e financeiro.
No outro dia (21/3/ 2007), Gil Jacó teve outro diálogo, falando em remeter R$ 440 mil para Brasília. "Esclarece o depoente que agora reconhece como tendo sido remetido para Brasília o dinheiro; que não sabe quem foi a pessoa a que se referiu doutor Zuleido quando disse que a pessoa já tinha estado lá três vezes", completou.
Gil Jacó fala em outras três remessas, de R$ 100 mil, outra de R$ 300 mil e a última de R$ 600 mil. Não fica claro para onde nem para quem as primeiras teriam sido enviadas. A terceira, disse que foi para uma obra mas também não esclarece qual o empreendimento.
Outro funcionário da Gautama, Florêncio Vieira, deu versão complementar à de Jacó. Disse que no dia 21/3/2007 foi para Brasília "para entregar a encomenda no escritório da empresa". "Que essa encomenda era um pagamento em espécie que lhe foi entregue por Gil Jacó; que efetuou o saque em cheque da empresa; que não se lembra do valor desta encomenda", afirmou. Segundo ele, os saques eram feitos sob a rubrica de adiantamento de obra, mas sem nota fiscal ou "recibo de pronta entrega".
Vieira contou que, no começo de março, no dia 2, ele levou uma mala para Zuleido, contendo documentos e dinheiro, no aeroporto de Salvador.
"O depoente comprou passagem para Maceió, encontrou-se com o doutor Zuleido na sala de embarque, entregou a ele a pasta [...], porque o doutor Zuleido estava indo para lá".
Humberto Rios de Oliveira, também da Gautama, disse que costumava fazer saques de R$ 30 mil, R$ 50 mil e R$ 60 mil, entregando os recursos a Gil Jacó. Que eram dois ou três saques por mês. Disse também que levava dinheiro, "em mãos", a pessoas em outras cidades, como Brasília. Numa delas, alugou um carro para transportar R$ 650 mil de Salvador (BA) para Aracaju (SE).
Apontada pela PF como a responsável por fazer pagamentos de propina, a diretora comercial da Gautama, Maria de Fátima Palmeira, disse desconhecer o envio de dinheiro para Brasília, "mas pode ser que tenha vindo". (SILVANA DE FREITAS, LEONARDO SOUZA, RANIER BRAGON E FELIPE SELIGMAN)

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