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Zuleido enviou dinheiro vivo a Brasília, dizem funcionários
Empregados da Gautama não informam motivo nem quem recebia os recursos
Em testemunhos dados à ministra Eliana Calmon, do STJ, afirmam ter recebido ordens de encaminhar pelo menos R$ 640 mil neste ano
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Funcionários da construtora
Gautama disseram, em depoimentos à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de
Justiça, ter recebido ordens de
enviar neste ano ao menos R$
640 mil, em dinheiro, a Brasília.
Segundo eles, as remessas foram determinadas pelo dono
da empreiteira, Zuleido Veras,
apontado pela Polícia Federal
como o chefe do esquema de
fraude a licitações investigado
na Operação Navalha.
Os funcionários da construtora não informaram o motivo
nem a quem os recursos eram
endereçados. A Folha teve
acesso a 52 depoimentos prestados à ministra. Os testemunhos confirmam parte do trabalho da PF, que flagrou integrantes da quadrilha, incluindo
Zuleido, levando dinheiro em
pastas e malas para várias cidades, incluindo Brasília.
"À vista do diálogo do dia
20/3/2007, esclarece o depoente que reconhece tal diálogo, que conversava com doutor
Zuleido e recebeu dele ordens
de mandar no dia seguinte R$
200 mil para Brasília e que esta
remessa foi feita em dinheiro
em espécie", disse Gil Jacó de
Carvalho Santos, assistente administrativo e financeiro.
No outro dia (21/3/ 2007),
Gil Jacó teve outro diálogo, falando em remeter R$ 440 mil
para Brasília. "Esclarece o depoente que agora reconhece
como tendo sido remetido para
Brasília o dinheiro; que não sabe quem foi a pessoa a que se
referiu doutor Zuleido quando
disse que a pessoa já tinha estado lá três vezes", completou.
Gil Jacó fala em outras três
remessas, de R$ 100 mil, outra
de R$ 300 mil e a última de R$
600 mil. Não fica claro para onde nem para quem as primeiras
teriam sido enviadas. A terceira, disse que foi para uma obra
mas também não esclarece
qual o empreendimento.
Outro funcionário da Gautama, Florêncio Vieira, deu versão complementar à de Jacó.
Disse que no dia 21/3/2007 foi
para Brasília "para entregar a
encomenda no escritório da
empresa". "Que essa encomenda era um pagamento em espécie que lhe foi entregue por Gil
Jacó; que efetuou o saque em
cheque da empresa; que não se
lembra do valor desta encomenda", afirmou. Segundo ele,
os saques eram feitos sob a rubrica de adiantamento de obra,
mas sem nota fiscal ou "recibo
de pronta entrega".
Vieira contou que, no começo de março, no dia 2, ele levou
uma mala para Zuleido, contendo documentos e dinheiro,
no aeroporto de Salvador.
"O depoente comprou passagem para Maceió, encontrou-se com o doutor Zuleido na sala
de embarque, entregou a ele a
pasta [...], porque o doutor Zuleido estava indo para lá".
Humberto Rios de Oliveira,
também da Gautama, disse que
costumava fazer saques de
R$ 30 mil, R$ 50 mil e R$ 60
mil, entregando os recursos a
Gil Jacó. Que eram dois ou três
saques por mês. Disse também
que levava dinheiro, "em
mãos", a pessoas em outras cidades, como Brasília. Numa
delas, alugou um carro para
transportar R$ 650 mil de Salvador (BA) para Aracaju (SE).
Apontada pela PF como a
responsável por fazer pagamentos de propina, a diretora
comercial da Gautama, Maria
de Fátima Palmeira, disse desconhecer o envio de dinheiro
para Brasília, "mas pode ser
que tenha vindo".
(SILVANA DE FREITAS, LEONARDO SOUZA, RANIER
BRAGON E FELIPE SELIGMAN)
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