São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO
Procuradoria diz que Osmar Borges fazia tráfico de influência

Lobby na Sudam dá lucro de R$ 1,9 mi a ex-sócio de Jader

Alberto César Araújo/Folha Imagem
Canteiro de obras da empresa WTC, em Manaus, onde só existe um galpão abandonado


KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

A quebra do sigilo bancário da empresa WTC Manaus S.A. levou a Procuradoria da República a se convencer de que o empresário José Osmar Borges, ex-sócio do presidente do Senado, Jader Barbalho, traficou influência na extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) e que chegou a receber R$ 1,9 milhão em propina pelo trabalho.
Relatório preliminar da Receita Federal mostra que em 25 de setembro de 1997 a conta pessoal de Borges e de suas empresas Pyramid Confecções e Têxtil Saint Germany foram abastecidas com depósitos bancários da empresa Servplaza Hotelaria e Empreendimentos Ltda., de Gilberto Bouskuet Bomeny, controlador do Papa-Tudo e sócio majoritário da WTC. Os depósitos foram feitos para Borges depois de o dinheiro destinado pela Sudam à WTC ter sido transferido à Servplaza.
Os depósitos chegaram a Borges quatro dias após a WTC, empresa acusada de ter desviado R$ 15,4 milhões da Sudam, ter recebido a primeira parcela de seu projeto de construção de um centro de convenções em Manaus, obra orçada em R$ 186,4 milhões e que nunca saiu do papel.
Cinco meses antes, Borges havia comprado a fazenda Campo Maior, no Pará, em sociedade com a mulher de Jader, Márcia Centeno -que o próprio senador já afirmou ter sido apenas sua representante no negócio.
Até encontrarem os depósitos nas contas de Borges, os procuradores acreditavam que ele era apenas um dos empresários que fraudaram a Sudam e investigavam suas ligações com Jader.
Nem Borges, que recebeu a suposta propina, nem o empresário que a pagou se entendem quando o assunto é explicar os depósitos (leia texto nesta página). Borges diz que o dinheiro foi um pagamento por serviços prestados à WTC, mas não explica qual.
Já Bomeny diz que pagou para que Borges atraísse empresas interessadas em investir em seu negócio, hipótese que os procuradores envolvidos nas investigações descartam.
Segundo um dos procuradores do caso, José Osmar Borges não tinha conhecimento técnico para fazer o serviço de captação de recursos nas empresas.
O relatório preliminar da Receita Federal, principal peça da investigação, que está na Justiça Federal de Manaus, mostra outras operações lesivas à Sudam.
Dos R$ 15,4 milhões recebidos pela WTC da Sudam, R$ 12,7 milhões foram recebidos em prazo recorde, entre os dias 25 de setembro de 97 e 8 de outubro do mesmo ano. Nove dias após os depósitos terem sido feitos nas contas de Borges, a WTC recebe a maior parcela, ou seja, R$ 10 milhões.
Os depósitos, na verdade, foram transferências bancárias entre a conta da Servplaza no Banco Real, a conta particular de Borges [um total de R$ 168 mil", e as contas da Pyramid Confecções [R$ 632.012" e Têxtil Saint Germany [R$ 1.119.500", empresas de Borges criadas com recursos públicos e que colocaram o empresário na condição de ser o maior fraudador da Sudam.
As quatro empresas que se associaram a WTC, ainda segundo relatório da Receita Federal, remeteram, juntas, R$ 97 milhões para o exterior, de 92 a 98, por meio de contas CC-5. Duas dessas empresas, que não são ligadas ao grupo de Bomeny e que teriam investido no negócio legalmente, fizeram as maiores remessas.
A Mondial do Brasil Exportação Ltda. enviou R$ 85 milhões no período, e o laboratório Schering-Plough, R$ 8,3 milhões.
As empresas sob suspeita também enviaram dinheiro. A controladora da WTC, a Servlease, também do empresário Bomeny, enviou R$ 1,4 milhão. A outra sócia do empreendimento e também de propriedade de Bomeny, a Servplaza, destinou ao exterior R$ 2,3 milhões. Os procuradores esperam, agora, que a Receita Federal conclua seu relatório -o que deve acontecer até o final do mês. O objetivo dos procuradores é saber, como se suspeita, se o R$ 1,9 milhão repassado ao ex-sócio do presidente do Senado acabou retornando para uma das contas das empresas de Bomeny para depois deixar o país.

Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina


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