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QUESTÃO AGRÁRIA
Governo beneficiou 22 mil famílias, mas previsão era 47 mil; greve do Incra teria atrasado processos
Lula assenta 46% da meta no 1º semestre
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal encerrou o
primeiro semestre com apenas
46% de sua meta de assentamentos de famílias de trabalhadores
rurais cumprida. A promessa era
beneficiar 47 mil famílias, mas 22
mil foram assentadas entre janeiro e junho deste ano, de acordo
com o balanço divulgado ontem.
Até dezembro, a meta é assentar
115 mil famílias. O número faz
parte do segundo Plano Nacional
de Reforma Agrária, anunciado
no fim de 2003 pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Em
2003, só 36 mil foram beneficiadas -a promessa era 60 mil.
A política de reforma agrária do
atual governo, uma das principais
bandeiras petistas em épocas de
campanha, tem sido alvo de críticas tanto do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) como da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Na segunda-feira, em evento no Planalto, líderes sem terra disseram isso diretamente ao presidente.
De acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), outras 13 mil famílias já tiveram acesso à terra,
mas ainda não foram oficialmente assentadas. Ou seja, as documentações (registro de beneficiário) ainda estão tramitando no órgão, o que os impede, por exemplo, de ter acesso a créditos de instalação e de alimentação.
A greve dos servidores do Incra,
que durou cerca de 40 dias entre
abril e maio, foi um dos motivos
para o não-cumprimento da meta, de acordo com a explicação
oficial. "Assinamos um termo de
acordo com os servidores após a
greve para o fortalecimento do Incra e sobre a necessidade de cumprirmos a meta. Estamos acelerando o ritmo de desapropriações
para assentar 115 mil famílias até
dezembro", afirmou o presidente
do Incra, Rolf Hackbart.
Ontem, a assessoria do MST informou que nenhum integrante
da coordenação nacional do movimento falaria sobre os números.
Uma reunião da cúpula dos sem-terra vai definir a estratégia para
comentar o caso. A Folha apurou
que o número, já esperado, foi recebido com revolta pelo MST,
mas a avaliação interna é que os
ataques ao governo devem ser
ponderados, para não abalar ainda mais a relação entre eles.
Segundo o presidente da Contag, Manoel José dos Santos, a meta não será cumprida. "A reforma
agrária é um dos problemas do
governo, pois ainda não conseguiu decolar. Vamos continuar
cobrando, mas está claro que a
meta não vai ser cumprida."
O Incra disse ontem também
que 10,5 mil famílias tiveram acesso à terra por meio de programas
de crédito fundiário entre janeiro
de 2003 e junho de 2004. A meta
de 2003 era de 15 mil famílias. A
de 2004 é de 37,5 mil famílias.
Em dez dias, segundo Hackbart,
balanço detalhado sobre os assentamentos será divulgado. Do documento constará onde se localizam as famílias beneficiadas. Do
total de assentados em 2003, 75%
foram postos em projetos criados
em gestões anteriores à de Lula.
No primeiro semestre deste
ano, diz o Incra, 144 decretos de
desapropriação foram editados
pelo Planalto. Juntos, equivalem a
uma área de 360,6 mil hectares
-suficientes para cerca de 10,9
mil famílias. Leva seis meses o
processo entre a edição do decreto e a entrada da família no lote.
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