São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / PROGRAMA DE GOVERNO

Marta erra dados e usa verba de Lula para obras do metrô

Programa do PT subtrai casos de dengue e omite reajuste de ônibus feito por ex-prefeita

Documento da convenção do partido conta com verbas de 4 ministérios, ainda não aprovadas, para investir na área de transportes em SP


RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO

Aprovado por unanimidade pela convenção que oficializou anteontem a candidatura de Marta Suplicy, o programa de governo do PT omite dados, "subtrai" quase 1.500 casos de dengue ocorridos na gestão da petista e se apropria de projeto bilionário em estudo pelo governo federal para prometer mais que dobrar as linhas de metrô e os corredores exclusivos de ônibus da cidade.
Debatido por cerca de duas semanas pela coordenação da campanha -que reúne senadores, deputados federais, estaduais, vereadores e dirigentes, o projeto de 94 páginas promete "estabelecer um programa de investimentos da Prefeitura de São Paulo para a construção de mais de 78 km de metrô até 2014", além de "300 km de corredores". Se efetivada, a proposta mais que dobraria a atual malha (61,3 km de metrô e 113,5 km de corredores).
O problema é que, na verdade, o investimento está em fase de análise pelo Palácio do Planalto e, se implantado, envolveria majoritariamente recursos federais, não da prefeitura. O estudo foi apresentado por Marta, quando ainda era ministra do Turismo, e envolve outros ministérios, além de investimentos para outras capitais. O objetivo é preparar o país para a Copa do Mundo de 2014.
Além de fazer promessa com o "bolso alheio", o texto diz que "Marta tomou as medidas essenciais para o combate à dengue, tendo sido registrado apenas dez ocorrências da doença na cidade durante sua gestão". Na verdade, foram 1.507 entre 2001 e 2004. Os dez casos ocorreram, na verdade, em 2004, último ano da gestão Marta.
O PT de São Paulo afirmou ter havido "erros de redação" no texto e que o programa está "em construção".
As 94 páginas reservam amplo espaço para críticas à administração iniciada por José Serra (PSDB), hoje governador, e tocada atualmente por Gilberto Kassab (DEM). Geraldo Alckmin (PSDB) é praticamente ignorado no documento.
"O balanço da gestão Marta não deixa dúvidas quanto à necessidade de retomarmos os rumos de nossa complexa metrópole, cujas soluções superam em muito as expectativas de síndicos de jardins, no que se apequenaram os autopropalados eficientes gestores demo-tucanos", diz o texto.
A página 56 reserva críticas ao reajuste de tarifas de ônibus feito por Serra em 2005 (17,65%) e por Kassab em 2006 (15%), nos respectivos inícios de suas gestões, mas omite o aumento de 21,7% patrocinado por Marta cinco meses após assumir o cargo, em 2001.
Além disso, não há no papel o mea-culpa que a petista fez em público sobre as taxas que criou em sua administração. "A primeira orientação foi fazer mais com menos e aumentar a arrecadação com critérios de maior justiça social", afirma o texto.
Outro detalhe que chama a atenção é a quase ausência de menção ao primeiro governo do PT, de Luiza Erundina (89-92), hoje no PSB. Ela tem se mostrado magoada com o veto, no próprio PSB, de seu nome para a vice de Marta.
Nem Kassab nem Alckmin apresentaram ainda seus programas de governo.


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