São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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Controle da inflação não se restringiu ao Brasil

ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

O controle da inflação não foi um fenômeno restrito ao Brasil, obtido com um plano inovador elaborado pelos "pais do real", mas um processo que varreu quase toda a América Latina na década de 90.
Dados de 23 países latino-americanos mostram que, no período, 19 registraram inflação baixa, ajudados por um período de prosperidade da economia mundial.
Segundo o FMI (Fundo Monetário Nacional), a inflação média de todos os países do mundo foi de apenas 2% em 1997, contra uma média de 6,5% na década de 80.
A chave do sucesso das políticas de estabilização foi uma superoferta de capitais internacionais nos anos 90. Esse dinheiro farto e barato financiou a queda da inflação.
O Plano Real começou a estabilizar os preços em 1994. Antes disso, México, Peru, Argentina e Chile executaram programas bem-sucedidos com as mesmas premissas.
Dois pontos básicos sustentaram os programas de estabilização latino-americanos: ajuste fiscal, ainda que às vezes frágil, e sobrevalorização da moeda nacional.
Sete anos antes do Brasil, o México foi um dos primeiros a alcançar a estabilização de preços, com o chamado pacto da solidariedade. A queda da inflação, entretanto, resistia a ficar abaixo de 20% ao ano.
Isso só foi conquistado na década de 90, quando o peso mexicano foi valorizado em relação ao dólar. A sobrevalorização barateou as importações, ampliando a concorrência no mercado interno e reduzindo a inflação a um dígito.
Esse modelo só pôde ser várias vezes reproduzido em outros países devido a um cenário internacional favorável.
Quando um país incentiva as importações, cresce seu déficit nas contas externas, que precisa ser coberto com financiamentos internacionais.
Na década de 90, o mundo passou a estar mais receptivo à concessão de créditos a países da América Latina.
Antes, desde a moratória mexicana, em 1982, os investidores estrangeiros haviam fechado os fluxos de créditos à região. O Plano Brady, que permitiu o refinanciamento da dívida externa da América Latina, reabriu o acesso desses países ao mercado mundial.
A recessão nos EUA em 1991, quando a economia norte-americana decresceu 0,9%, provocou uma redução nas taxas de juros internacionais. Os investidores procuraram, então, maiores taxas de juros nos países emergentes.
A desregulamentação do fluxo de capitais, com regras mais flexíveis para os fundos de pensão e de investimento dos Estados Unidos, também elevou o ingresso de recursos na América Latina.
Juntos, todos esses fatores provocaram uma forte expansão da produção mundial, que atingiu 4,1% em 1996 e 1997, segundo o FMI. Na década de 80, a média de crescimento da economia mundial foi de apenas 3,3%.
A Argentina, em 1991, adotou o Plano Cavallo, que estabeleceu a paridade e a livre conversão entre o peso e dólar. Só que, como nos outros países, o peso foi sobrevalorizado em relação ao dólar, barateando importações.




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